Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Cor das Cordas apresenta um trabalho digno do violão brasileiro

Segundo trabalho do trio de violonistas Luca Bulgarini, Milton Daud e Edinho Godoy demandou 10 anos para ser lançado

Publicado em 14/07/2020 às 14h00
Atualizado em 14/07/2020 às 14h00
Capa do disco
Capa do disco "Outras Cores", do trio Cor das Cordas. Crédito: Divulgação

Após lançar o seu primeiro álbum em 2010, que tinha como título simplesmente o nome do trio – Cor das Cordas, os violonistas ainda são os mesmos: Luca Bulgarini, Milton Daud e Edinho Godoy. Pois saibam que eles lançaram agora o segundo CD, Outras Cores (Kuarup).

Já expus aqui, em outro comentário, o meu especial prazer ao receber o segundo trabalho de quem já ouvi o primeiro. Mas compreendo que a responsabilidade de se superar, de ser simplesmente fabulosos, irretocáveis, é imensa. Diante da meta gigantesca a que se obrigam atingir, o segundo tem de suplantar a qualidade do primeiro – simples assim. Tal imposição, que costuma ser autoimposta, obriga o segundão a ser, no mínimo, genial. Assim, muitos ficam pelo caminho, pois o peso da exigência é muito forte.

O caso é que Outras Cores, o segundo álbum do Cor das Cordas, demandou dez anos (!) para ser lançado. Pensando eu cá com os meus botões: se não músico, o que eles seriam no futuro? Professores? Banqueiros?

Mas e o trio? Bem... vamos ao segundo álbum do Cor das Cordas. A sonoridade que vem dos violões quando tocam juntos é puro encanto. Seus uníssonos têm uma precisão suíça: violão nenhum atrasa ou adianta o que o arranjo determina. E momentos de beleza vêm quando, em duos, rola uma terça esperta. Meu Deus!

Os rapazes sabem o que esperar das seis cordas. E são cuidadosos com o instrumento, como se o violão preenchesse seus corações, com o mesmo carinho dedicado a um filho.

Sem dúvida, o trio tem o que dizer quando está ao violão. Eles são carinhosos ao abraçar o instrumento e o agasalham em sua alma imaginária, plena de amor, de infindável amor.

Cuidadosos com a escolha do repertório, escolheram cinco clássicos: “Somos Todos Iguais Nesta Noite” (Ivan Lins e Vitor Martins), “Tema de Amor de Gabriela” (Tom Jobim), “Valsinha” (Chico Buarque), “Insensatez” (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) e “Bala Com Bala” (João Bosco e Aldir Blanc). E cinco músicas autorais, três de Daud e duas de Godoy.

Essa decisão corajosa coloca o trio num ponto acima da maior visibilidade, posição que, sem dúvida, chamará a atenção dos amantes da música instrumental.

A tampa abre com "Tribo Brasilis" (Milton Daud). As percussões de André Kurchal e Edmundo Carneiro iniciam em fade in para alguns compassos depois, em fade out, fazerem o couro comer, numa levada em que as peles dos atabaques se consagram.

No belo arranjo de Daud, os três violões timbram bonito. O arranjo quente do tema lembra o arranjo de "Arrastão", clássico de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, presente no primeiro disco do trio. As percussões se expandem em notável suingue, enquanto os violões se entrelaçam – como se abraçassem a beleza.

Beleza presente desde a intro até a tampa fechar, entregando-se ao lirismo de “Valsinha”. Num duo de violões, quando o som grave do violão barítono vem à cena e, com desenhos abertos, complementa o violão de seis cordas, o resultado é precioso. É o simples se criando.

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