Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

"Cativo" mostra que Clayton Prósperi é um mineiro "danado de bão"

“Cativo”, além de nomear o CD, é o título de uma música importante na seleção do repertório. O álbum de oito faixas mostra o músico revelando a razão de existir

Publicado em 17/05/2022 às 14h17
O músico Clayton Prósperi
O músico Clayton Prósperi. Crédito: Túlio Noronha / Divulgação

Até ouvir o CD Cativo (Embornal Records), eu mal conhecia Clayton Prósperi. O álbum mostra o músico revelando a razão de existir. Mineiro de Três Pontas, ele traz em si, dentre outros, o momento vitorioso do Clube da Esquina – gente do mais alto gabarito.

Mas o fascinante mesmo do álbum de Prósperi são as composições e seus arranjos: “Caminhante” (CP e Talis Júlio) é uma criação que conta com harmonia e melodia arrebatadoras, envoltas num manto de versos que a tudo arrepia: “(...) Essa jornada/ Há de ter a paz gerada/ Há de ser (...)”.

Prósperi fez o arranjo, tocou piano e cantou (como ele canta emocionado, meu Deus!). Os solos de guitarra (Deividi Santos), tanto no intermezzo quanto no final, trazem o som pop e os vocais de Tutuca e Talles Próspero. Eles que dividem a firmeza do baixo (Dedê Bonitto) somada à batera e à percussão (Eduardo Sueitt), com pegadas roquenrrol.

Em duas músicas, “Vinheta da Quietude / Inquietação” – a primeira de CP e Leonardo Castilho, a segunda de CP e Edson Penha –, o piano e o cello vêm num duo extraordinário. Um vocalize acompanha o desenho do violoncelo, enquanto o piano vai à melodia.

“Inquietação” (Clayton Prósperi) vem cantada por Sarah Abreu, cuja voz admirável reforça o som grandioso do arranjo. Logo, ela e CP conduzem a melodia com uma pegada que tem um quê das levadas que Chico Buarque aprontou – lá como aqui, belas músicas! Logo a música ganha ritmo. Ritmados ou arritmos, CP e Abreu têm total empatia com o cantar. E o duo ganha versos: “(...) Ah! Cheguei até aqui, sou do mar/ Tenho medo de em ti não te encontrar (...)”.

“Samba em Sete” (CP): no arranjo do autor, à batera é dada à marcação. Ao baixo coube a todos amparar. Clayton Prósperi tem a voz (afinada que só) e o piano adequados para solar a linda canção. As cordas soam frenéticas. Ao trompete de Walmir Gil são confiados ricos improvisos e um intermezzo de tirar o folego. E a beleza caminha firme, com o gosto de quero mais pairando no ar.

Clayton Prósperi bem que me surpreendeu. Conduzindo-me a um estado de emoção que reforçou em mim a certeza de que o talento sempre prevalecerá, reforçando a certeza de que o brilho encantador existe e poderemos para sempre ouvir o talento que o define.

“Cativo” (CP) empresta o título para a capa. Marcando o tempo com acordes, o piano vem suave. O baixo fretless traz seu belo som para encorpar o arranjo de CP. Um gabaritado arranjo de Rafael Martini para um naipe de cordas (violinos, viola e violoncelo) dá à canção, muito bem interpretada por CP ao piano, um clima delicado, mas de brilho total.

“Cativo”, além de nomear o CD, é o título de uma música importante na seleção do repertório, mas... por favor, perdoem-me a cara dura: senti “cativo” como mais do que simplesmente “cativo”, mas um termo que pode ressignificar outra de suas definições dicionarizadas – “aprisionado”, por exemplo.

E assim, “cativo” torna-se cativante, liberto, pródigo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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