Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Luiz Bueno: ouvi-lo é necessário

Paulistano é dono do "Intransit", disco instrumental repleto de criações espontâneas

Publicado em 26/04/2022 às 18h42
Capa do disco
Capa do disco "Intransit", de Luiz Bueno. Crédito: Divulgação

Recebi o CD do violonista e compositor Luiz Bueno. Para quem não lembra, durante muitos anos Luiz formou com Fernando Melo o Duofel. Concretizada a desistência do duo, mantive contatos esporádicos tanto com Fernandinho, quanto com Luiz.

(Diante da dificuldade para conseguir trabalho, assim como o Duofel, tantos outros interromperam carreiras bem-sucedidas. Carreiras que sentiram a dificuldade de existir, principalmente nas lidas dos instrumentistas, cujo trabalho é tocado com suor).

Alagoano, Fernandinho me conta sobre um belo projeto musical, que seria realizado em sua terra natal. Ele estava esperançoso. Passadas algumas semanas, tornou a me ligar para informar: "O projeto caiu".

Já o paulistano Luiz, faz pouco tempo, me ligou entusiasmado, dando conta de um novo trabalho autoral que preparava para o violão. Semanas depois, recebi uma caixa de belo formato, onde se lia “Intransit”. Lá, um bom release escrito por Juarez Fonseca, cartões com fotos em P&B, cada uma identificando uma música do disco. Todas com letras... não cantadas, de Luiz Bueno.

“Jamais imaginei que um dia estaria escrevendo este texto, palavras em contexto para um álbum onde me apresento solo. Jamais... E isso é que é lindo! Viver o presente a cada instante e, certamente, o reconhecendo", escreveu Luiz, no primeiro parágrafo do texto que vem noutro cartão.

A seguir, ele clareou sua intenção: “Meu maior prazer nesse álbum foi experimentar - pra valer -, criar cada música no estúdio durante a gravação, em duas horas, incluindo a mixagem e a masterização.”

“Engraça” abre a tampa. Com violão com cordas de aço, Luiz as dedilha fraseando-as arritmo. Acordes com reverber revelam a bela melodia. Novos acordes agora vêm numa levada ritmada. Pausa. A linha melódica está entre acordes. Ouve-se uma nota aguda. Volta a linha melódica que deságua em frases arrítmicas. Um toque no bordão anuncia que a melodia caminha para o final.

Foi alternando o violão clássico com o violão de aço que as criações espontâneas saíram a golfadas, como se fossem revivências da riqueza que desde sempre Luiz trouxe nas mãos, e nas músicas guardadas em sua alma.

Espantei-me ao perceber que a concepção da ideia, na verdade, foi um ato de extrema coragem. Somente com a autoestima lá no céu, Luiz Bueno realizaria uma façanha como a de "Intransit".

E como criou algo indivisível, ele, talvez, não permitirá que nenhum outro instrumentista grave as músicas que são o seu álbum histórico.

Sinto em "Intransit" a qualidade extraordinária do violonista/compositor. Ele que, de peito aberto, revelou segredos e sua disposição de deixá-los transparecer em uma afortunada autobiografia.

O violão é como a caneta que anota o que sente, posto que admira incondicionalmente o virtuoso que o manuseia.

PS. Capa e direção de arte: Gal Oppido; galeria de fotos e textos: Vanessa Basda. Na capa, lê-se Intransit (Fine Music) e, em tamanho menor, a peculiaridade do gênio: “Luiz (com) Z”.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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