É pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science. Neste espaço, aos sábados, traz reflexões sobre a política e a economia e aponta os possíveis caminhos para avanços possíveis nessas áreas

A nova política de Bolsonaro entra na "vibe" do toma lá dá cá

Para além do bordão da nova política, o que vai ser agora? Como superar as oligarquias partidárias? Como equacionar o problema do financiamento de campanhas? Como reformar a política?

Publicado em 31/07/2021 às 02h00
Jair Bolsonaro e senador Ciro Nogueira em reunião ainda em 2019
Jair Bolsonaro e senador Ciro Nogueira em reunião ainda em 2019. Crédito: Marcos Correa/PR

Jair Bolsonaro institucionalizou o toma lá dá cá. Foi para o espaço o bordão da “nova política”. Como numa blitzkrieg, o toma lá da cá foi institucionalizado turbinando o Orçamento Geral da União com mais emendas individuais e de bancadas para deputados e senadores; com a novidade das emendas do relator do Orçamento, abertas em conta orçamentária especial (código RP-9); e com o fundo eleitoral anabolizado, juntamente com o fundo partidário. Tudo somado, é coisa para perto de R$ 30 bilhões.

A chave do cofre do toma lá da cá foi entregue ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao agora ministro Ciro Nogueira (PP-PI), aos seus aliados no Centrão e, no caso do fundo eleitoral e do fundo partidário, às oligarquias partidárias. Lá no início do governo, Bolsonaro prometeu governar “sem o toma lá dá cá”, dizendo que “eu tô fora” se isso não fosse possível. Já era. Ele agora declarou que “eu sou do Centrão” e que “eu nasci de lá”.

A reação da população foi imediata. Uma pequena amostra está numa enquete realizada pelo Blog do Noblat: 91,5% responderam que a nova política “era fraude, sempre foi”; e 8,5% responderam que a nova política “está viva e vai bem”. Foram-se embora, sem nunca ter sido, os discursos do combate à corrupção, da defesa do liberalismo econômico, da eficiência da gestão e até da pauta de costumes. Está de volta a máxima das origens do Centrão, de 1988. Foi uma tirada de um dos seus fundadores, Roberto Cardoso Alves (1927-1996), o Robertão. Dizia ele que “é dando que se recebe”, parte da Oração de São Francisco.

Agora, tudo indica que o presidente Bolsonaro está prestes a virar um pato manco, como se diz no jargão da política, nos braços do Centrão. Mas ele espera dar a volta por cima, com o Centrão, a partir do aumento do Bolsa Família e da expectativa de crescimento econômico. Será? A inflação corrói a cesta básica e torna insuficiente um Bolsa Família de R$ 300. E as incertezas apontam para um crescimento muito pequeno em 2022, menor do que 2%, talvez.

Agora, o que dizer para os jovens que embarcaram no bordão da nova política nas eleições de 2018 e 2020? Em defesa da Política, o que fica são indagações, tecidas na trilha da dúvida socrática. Para além do bordão da nova política, o que vai ser agora? Como superar as oligarquias partidárias? Como equacionar o problema do financiamento de campanhas? Como reformar a política? Como restaurar o Estado nacional?

Ou indagar como na frase (socrática?) de outro dia de Arthur Lira, na defensiva. Literalmente: “Nós temos outra maneira de financiar a política e a democracia no Brasil? Nós temos como manter a democracia sem um sistema claro? De onde virão os financiamentos se por acaso nós não tivermos recursos suficientes? Talvez das milícias? Talvez do tráfico? Talvez das influências das igrejas? De alguns outsiders e personalidades que estão de maneira momentânea ou tangencial participando da política? Essa é a discussão que tem que ser feita”, disse ele. Com a palavra os jovens. Mas, por favor, sem bordão!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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