É Fisioterapeuta, acupunturista e especialista em avaliação e tratamento de dor crônica pela USP. Entende a saúde como um estado de equilíbrio para lidar com as adversidades da vida de forma mais harmônica

O que os olhos não veem, o cérebro sente

A dor do membro fantasma é algo muito comum em quem sofreu amputação. Pode atingir de 50 a 80% dos indivíduos que sofreram a remoção de alguma parte do corpo

Publicado em 28/09/2020 às 17h32
homem com perna amputada e prótese
A maior causa de amputação no Brasil, a vascular, pode ser causada por uma condição extremamente comum, o diabetes. Crédito: Shutterstock

O que fazer com uma dor em um membro que já não está mais lá? A dor do membro fantasma é qualquer sensação dolorosa que seja imputada a um membro ausente e é algo muito comum em quem sofreu amputação. Pode atingir de 50 a 80% dos indivíduos que sofreram a remoção de alguma parte do corpo, como pernas e pés, as mãos, a língua, os dentes, os órgãos genitais, a bexiga ou seios.

Com uma prevalência alta como esta, torna-se importante falar sobre o tema, especialmente sobre a maior causa de amputação no Brasil, a vascular, que pode ser causada por uma condição extremamente comum, o diabetes. Dados científicos mostram que 366 milhões de pessoas no mundo terão diabetes em 2030. No Brasil, a população diabética passa de cinco milhões de indivíduos e estima-se que ocorram 40 mil amputações em pacientes diabéticos por ano, segundo dados da Comissão Nacional de Diabetes.

Adrieli Borsoe

especialista em dor crônica

"Os indivíduos que sofreram uma amputação podem sentir apertos, câimbras, queimações e pontadas em uma parte do corpo que já não existe mais. E isso se explica pela representação daquela região no cérebro. Não vemos mais aquele membro, mas o cérebro ainda envia respostas e se ativa em diversos momentos"

O tratamento convenciona-se em uma tentativa de reorganizar essa ativação cerebral em áreas específicas como a da memória, áreas afetivas e as áreas de intenção do movimento e das sensações. Para isso, podem ser realizados treinos de lateralidade, observação e imaginação dos movimentos realizados pelos membros removidos, terapia do espelho e até mesmo realidade virtual.

Quando a amputação deixa de ser vista como mutilação e é alternativa para salvar vidas, cuidados com o coto podem ajudar a não ter tantas complicações dolorosas. No entanto, a queixa de dor no membro residual não deve ser confundida com a dor em um membro não existente. O tratamento também muda, tendo em vista que o preparo da região para a implantação de órteses é o objetivo central neste caso.

O desafio de prevenir dificilmente será superior ao de tratar. A prevenção de doenças como a diabetes e o controle quando a mesma já está instalada podem evitar amputações e consequentemente a síndrome da dor no membro fantasma. Para atingir tal objetivo, seja em forma de prevenção ou em forma de controle, mudanças de hábitos alimentares, atividade física supervisionada e alguns agentes farmacológicos podem ser cruciais. Alguns fatores de risco modificáveis, como a obesidade, tabagismo, escolhas alimentares inadequadas e estresse psicossociais são dimensões que também devem receber o incentivo de mudanças.

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