É Fisioterapeuta, acupunturista e especialista em avaliação e tratamento de dor crônica pela USP. Entende a saúde como um estado de equilíbrio para lidar com as adversidades da vida de forma mais harmônica

Dia de Finados e a saúde de quem fica

Apesar de viver o luto ser importante, temos que atentar para as manifestações físicas associadas e garantir a saúde neste momento de tristeza

Publicado em 02/11/2020 às 14h42
Cemitério de Santo Antônio
O acolhimento e a escuta tem um papel valioso no processo e colocar-se ao lado de quem sofre. Crédito: Ricardo Medeiros

“O céu chora nesta data.” Foi o que sempre ouvi, as pessoas ficam melancólicas em seus rituais, o dia fica nublado e chuvoso, o recolhimento reflete uma sociedade individualizada em suas perdas e seu amadurecimento pessoal.

Lembramo-nos daquela pessoa que não está mais entre nós. Raramente nos lembramos de quem ainda está, que cuidou até o fim quando o fim foi anunciado com antecedência ou que não pode se despedir devido a uma perda abrupta. Quem cuida de quem cuidou até as últimas falências da vida? Quem cuida de quem não se preparou para separação?

Seja qual for o motivo do desenlace, há, em quem fica, um conjunto de reações não lineares que chamamos de luto. O processo é lento e pessoal, a digressão é desafiadora, solitária, necessária. Apesar de viver o luto ser importante, temos que atentar para as manifestações físicas associadas e garantir a saúde neste momento de tristeza.

E quem sofre não quer sobrecarregar os outros, segue em seu caminho de atribuir sentido àquela perda enquanto experimenta diminuição do apetite, insônia, palpitação, problemas digestivos. Muito da rotina se reverte em falta, muito da solução se reverte em sedação. Sedar para não sentir, não sentir para não falar. Precisamos ouvir aqueles que ficam, pois uma vez que se calam, o corpo fala.

O corpo falará em forma de dores sem explicação, de depressão, de sintomas de ansiedade e de estresse pós-traumático, de incapacidade de repousar e relaxar. Não há fuga ou separação dos aspectos biopsicossociais e com isso, o luto implica em acometimentos físicos, psicológicos e do pertencimento comunitário e familiar.

O acolhimento e a escuta tem um papel valioso no processo e colocar-se ao lado de quem sofre respeitando o seu tempo pode ser uma grande demonstração de companheirismo e cuidado.

Conversar com familiares sobre como gostaria que fosse seu fim, criar laços saudáveis, aproveitar bons momentos em vida, desfrutar de hábitos que levam a longevidade, fortalecer a caridade e amar sem medo de sentir, podem ser boas medidas para a vida, tanto para quem se despede e vai, quanto para quem se despede e fica.

Neste início de novembro, em que o clima chuvoso parece não surpreender, o convite é para celebrar a vida a todo o tempo, contemplando com a melhor lembrança que pudermos lançar mão.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Saúde opinião

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.