As elevadíssimas taxas de juros praticadas no Brasil ocupam a parte de cima da lista de preocupações do empresariado. Na visão deles, apoiada firmemente pelos analistas do mercado financeiro, o país precisa encaminhar a questão fiscal para conseguir entregar, de maneira sustentada, taxas de juros mais racionais. Esta complicada equação, que está há décadas no centro do debate econômico brasileiro, foi, de novo, protagonista no Global Voices, evento organizado pela Confederação Nacional do Comércio, em São Paulo.
"O gasto fiscal pressiona a inflação e, consequentemente, os juros. Enquanto não olhar para fiscal, não resolve", disse Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby Capital.
Gabriel Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, foi pelo mesmo caminho. "Chamo o que estamos vivendo no Brasil de 'matemágica'. Receitas inchadas e despesas cheias de problemas. Muita coisa sendo retirada da conta para fazer a chamada meta fiscal. Me lembra até o governo Dilma (Rousseff, entre 2011 e 2016, que acabou sofrendo um impeachment por causa das chamadas pedaladas fiscais), a meta fiscal não significa nada, a dívida pública virou o gabarito. Vejo 2025 parecido com 2013, 2026 com 2014 e 2027 com 2015. Infelizmente".
No governo Dilma, os gastos públicos subiram fortemente. O Brasil, após muitos anos, passou a ter déficits primários (gastar mais do que arrecada) em 2014 (questão até hoje não solucionada). O governo, vendo o tamanho do problema, passou a fazer a chamada maquiagem fiscal (adiantar receita, atrasar despesa...). Não deu certo. A inflação subiu, os juros dispararam e, entre 2015 e 2016, o Brasil enfrentou a maior recessão econômica de sua história: queda de 7,26% em apenas dois anos.
"A dinâmica do gasto está muito complicada. O problema é cada vez maior na previdência e o Congresso ainda atrapalha com uma contrarreforma. Tem muito tabu neste debate, o país gasta muito e mal. A carga tributária subiu dois pontos percentuais em relação ao PIB neste governo, ainda assim a conta não fecha. Está claro que precisa enfrentar de frente a questão das despesas, é preciso haver um equilíbrio nessa estratégia de ajuste. Entretanto, o que estamos vendo é um enorme impulso fiscal de olho nas eleições de 2026", criticou Barros.
Falando em 2026, Le Grazie foi sucinto quando questionado sobre o mundo ideal para o debate eleitoral do ano que vem. "Mais racionalidade e menos polarização. É o que se espera de 2026".
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