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Hidrogênio verde: "Espírito Santo sai na frente", diz diretor da Shell

Thomas Lucena, executivo da Shell, afirma que histórico do Estado de produção de petróleo e gás no mar é um ganho de competitividade

Publicado em 27/08/2022 às 03h59
Thomas Lucena, diretor da Shell Brasil
Thomas Lucena, diretor da Shell Brasil. Crédito: Divulgação/Shell

O mundo está atrás de soluções limpas para a produção de energia. O hidrogênio surge como a principal alternativa. Mas para que seja de fato limpo, o processo de isolamento da molécula, a chamada eletrólise (intensiva no uso de energia), não pode usar fontes poluentes, como o carvão. Eis que o Brasil, e o Espírito Santo, com grande potencial eólico, solar e importantes reservas de gás natural (combustível fundamental na fase de transição), surgem no cenário.

"O Brasil pode atender o mercado europeu, que está demandando energia, principalmente pela conjuntura geopolítica do momento. Eles estão procurando alternativas que dêem independência energética e com sustentabilidade. O Brasil tem todo o potencial para ser um grande exportador de hidrogênio", explica o diretor de Relações com o Governo da Shell Brasil, Thomas Lucena.

O executivo esteve em Vitória para o lançamento do Atlas Eólico do Espírito Santo, fruto de uma cooperação internacional entre o governo do Estado e o governo da Alemanha. A Shell tem seis estudos em andamento no país com o objetivo de mapear os melhores locais para a instalação de plantas eólicas. A corporação está de olho nas oportunidades, está buscando informações de qualidade e vai fazer investimentos grandes na área. O Espírito Santo está bem no páreo.

Vários estudos apontam que o Brasil tem um potencial enorme de geração de energia limpa. O Espírito Santo se destaca neste cenário. Muitos investidores de fora, principalmente os europeus, estão de olho. Como a Shell, que possui forte presença no Estado, se encaixa neste contexto de transformação energética?

A Shell está há 109 anos no Brasil. A distribuição e os postos de combustíveis estão por conta da Raízen (joint venture entre Cosan e Shell). A Shell se manteve focada na parte de exploração e produção de óleo, principalmente offshore (no mar) no Brasil. Estamos presentes no Parque das Conchas desde 2009, aqui no Espírito Santo, de onde sai toda a nossa operação logística para o campo. Nossa média histórica de produção está em 42 mil barris por dia. Isso tudo mostra como o Espírito Santo é um local relevante para a nossa operação, onde já temos uma cultura, uma tradição de mais de dez anos. Em 2021, lançamos nossa nova estratégia, a "Impulsionando o Progresso", que é o primeiro passo da transição energética a nível global, e o Brasil tem uma grande relevância para o grupo pelo potencial de energias renováveis e de combustíveis de transição, caso do gás natural. Portanto, estamos olhando novas oportunidades de investimento no Brasil e, claro, no Espírito Santo. Temos projetos anunciados na parte solar e começamos a avaliar os investimentos em eólicas offshore. É algo que está começando, estamos analisando dados e avaliando o potencial. Aqui no Brasil são seis projetos de pesquisa que foram firmados junto ao Ibama em seis estados diferentes: Piauí, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Ceará, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Queremos saber quais são as áreas com o maior potencial de produção de eólica offshore. Estamos obtendo dados, colocando o Brasil no mapa global de investimentos desse tipo do Grupo Shell.

O Atlas Eólico produzido aqui no Estado é um documento que ajuda nessa tomada de decisão?

Os seis projetos que estamos estudando somam 17 GW. Estamos falando aqui (Atlas do Estado) de um potencial de 143.000 GW, muito mais do que a gente precisa. O local com maior potencial técnico será beneficiado, vai ser priorizado, portanto, essa pesquisa de obtenção de dados é muito importante. Quanto mais dados, melhor. O lançamento do Atlas faz o Espírito Santo dar um passo além, principalmente nesta competição interestadual. Disponibilizar dados publicamente é algo que vemos com muito bons olhos. Estimula a disseminação da boa informação e a competição entre os agentes interessados em fazer investimentos no Brasil. Importante frisar que ainda não temos um marco legal definitivo, está sendo discutido agora em nível federal, mas a sinalização do governo do Espírito Santo no sentido de querer se colocar de maneira competitiva na comparação com outros estados é música para os nossos ouvidos. Estabelecer um bom relacionamento é fundamental.

O fato de a Shell já operar no Parque das Conchas, no mar capixaba, facilita alguma coisa?

Sem dúvida. Sendo uma operação offshore, e o Espírito Santo tem tradição no offshore, inclusive com o desenvolvimento de infraestrutura portuária, navegação de apoio... Enfim, é um diferencial com certeza. Coloca o Estado à frente de estados que não têm nenhuma tradição de atividades econômicas offshore. Ter uma infraestrutura montada beneficia a produção de novos projetos, caso das eólicas offshore.

Thomas Lucena

Diretor da Shell

" Coloca o Estado à frente de estados que não têm nenhuma tradição de atividades econômicas offshore. Ter uma infraestrutura montada beneficia a produção de novos projetos, caso das eólicas offshore."

A Shell é um grande conglomerado europeu, continente que está puxando a fila dessa transformação energética. O que isso pode significar para o Brasil?

A produção do hidrogênio, por meio da eletrólise, é muito intensiva em energia. A fonte dessa energia vai determinar qual o tipo de hidrogênio que será fabricado. É possível fabricar hidrogênio com energia produzida por termelétricas a carvão, ou seja, não trará benefícios ambientais. O hidrogênio serve como insumo energético para a substituição de outros combustíveis mais intensivos em carbono, muito usados no processo industrial. O hidrogênio também pode ser usado na produção de amônia, para a fabricação de fertilizantes, e o Brasil é um grande consumidor de fertilizantes. É uma rota de produção de fertilizantes que não existia. O potencial é grande.

Uma nova e grande fronteira começa a se abrir...

Sem dúvida. O Brasil, país com proporções continentais, tem um mercado interno muito grande e tem rotas de exportação deste produto. Portanto, o Brasil pode atender o mercado europeu, que está demandando energia, principalmente pela conjuntura geopolítica do momento. Eles estão procurando alternativas que dêem independência energética e com sustentabilidade. O Brasil tem todo o potencial para ser um grande exportador de hidrogênio.

Exportador de sustentabilidade?

Exatamente. Já fazemos isso, afinal, somos um dos maiores exportadores do mundo de etanol e biocombustíveis. O hidrogênio não pode ficar de fora dessa.

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