Repórter / vzagoto@redegazeta.com.br
Publicado em 13 de maio de 2025 às 15:33
Construção situada a cerca de 150 metros de altura e com mais de 450 anos de história, o Convento da Penha se destaca na paisagem da Grande Vitória. Turistas e até quem passa pelo local, cotidianamente, já devem ter se perguntado como o templo foi construído em um ponto tão alto. A história mostra que os responsáveis por colocar de pé a estrutura foram negros escravizados, que chegavam a ser doados a Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo, como pagamento de promessas.
Segundo o historiador Fernando Achiamé, a construção do Convento da forma como existe hoje demorou décadas. No início, foi usada mão de obra indígena. Depois, os negros passaram a ser maioria no trabalho para erguer o templo.
O trabalho, no início, foi basicamente subir o morro levando os materiais a serem utilizados para a obra do santuário.
“Lá em cima, talvez, até tivesse alguma fonte de água, mas o restante tinha que ser levado, como pedra e cal. Era necessário pegar conchas em volta da ilha”, conta Fernando Achiamé.
“Em Vila Velha, tinha muito sambaqui, que é o resto de conchas acumuladas durante milhares de anos. Os escravizados colocavam uma camada de madeira, uma de concha, outra de madeira, até algo ser erguido, e tacavam fogo. Então, com a concha ainda quente, socavam e aquilo virava cal. Calcinavam a concha. Com aquele cal, com a borra do óleo de baleia, eles argamassavam. Tinha muita pedra ali no Convento. Iam fazendo as paredes devagarzinho, mas tudo com mão de obra escravizada”, explica.
Parte dos escravizados que atuava na construção do templo foi doada como forma de pagar promessas por devotos mais ricos na época, destaca o historiador.
“A nossa romaria é a romaria mais antiga do Brasil. Então, vinha gente de tudo quanto é lugar para devoção. E as pessoas ricas prometiam doar a Nossa Senhora da Penha joias, cabeça de gado ou escravizados, caso conseguissem cura para uma doença, por exemplo. Um cara famoso, o governador do Rio de Janeiro à época, Salvador Correia de Sá e Benevides, prometeu doar escravizados.”
Fernando Achiamé
HistoriadorFernando Achiamé explica que a construção começou como um “hospício”. “Não no sentido que conhecemos hoje, mas como se fosse uma hospedaria”.
Dessa forma, o número de frades era pequeno e, somente quando chegou a sete religiosos, a estrutura pôde ser considerada um convento.
Com o baixo número de frades, o uso da mão de obra passou a ser frequente, não só na construção do Convento, mas também em outras atividades, de acordo com o historiador.
“Havia plantações, para o próprio sustento do Convento, de mandioca, farinha, milho, feijão e cana. Depois, tivemos uma época, no início do século 20, com a presença de gado também, com os escravizados atuando nisso e na manutenção do local. Tanto é que existia uma senzala enorme ali embaixo do Convento.” Hoje, é possível ver as ruínas de onde os escravos ficavam.
Outra parte do Convento que contou com o trabalho dos escravizados foi a Ladeira da Penitência, chamada assim devido à subida acentuada, também conhecida como Ladeira das Sete Voltas ou ainda das Sete Alegrias de Nossa Senhora.
Com as leis do Ventre do Livre e do Sexagenário, no século XIX, os escravos começaram a ser libertados. O historiador explica que, nessa época, o Convento já não tinha mais escravizados como no passado e, alguns deles, chamados de "libertos", passaram a receber pequenas remunerações para atuar no local.
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