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Conheça a história do 'avião da chuva' que injetava sal nas nuvens do Espírito Santo

Conheça a história do 'avião da chuva' que injetava sal nas nuvens do Espírito Santo

A primeira tentativa do avião Bandeirante aconteceu em agosto de 1984, em Colatina, na região Noroeste do Estado

Publicado em 20 de janeiro de 2017 às 19:37

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Durante os períodos mais secos da história do Espírito Santo, cada governo tentou, à sua maneira, encontrar uma forma de minimizar os efeitos da estiagem. Uma das muitas alternativas utilizadas aqui no Estado foi a contratação de uma aeronave que fazia chover em locais específicos. Parece ficção científica, não é? Mas aconteceu!

Em pelo menos três ocasiões diferentes, durante a década de 1980, uma aeronave do Governo do Ceará foi enviada ao Espírito Santo com a promessa de fazer chover e acabar com o sofrimento da população rural.

A primeira tentativa aconteceu em agosto de 1984, em Colatina, na região Noroeste do Estado. A pedido do governador da época, Gérson Camata, a Fundação de Meteorologia do Ceará enviou gratuitamente uma aeronave Bandeirante para atuar no Estado, que atravessava um período de seca de cinco meses. O mesmo se repetiu em 1986 e 1987.

Apesar de curiosa, a técnica não era nova. Nos anos 50, o Estado do Ceará já fazia os primeiros experimentos do tipo para tentar contornar a seca no semiárido nordestino. O mesmo avião foi usado também no sul da Bahia. O método é conhecido por especialistas como semeadura de nuvens ou nucleação.

Mas como é possível fazer chover de forma artificial? A meteorologista do Climatempo, Josélia Pegorin, explica: "A aeronave injeta dentro de determinadas nuvens alguns produtos que vão servir de aglutinador e acelerar o processo de formação de gotas".

No caso capixaba, o produto utilizado foi o cloreto de sódio, mais conhecido como sal de cozinha. Toneladas de sal eram carregadas na aeronave Bandeirante, que transportava o material até as nuvens, onde era injetado. O sal unia as gotículas minúsculas de água presentes das nuvens até que elas ficassem pesadas o suficiente para quebrar a corrente de ar e cair sob forma de chuva.

Parece infalível? Pois não é bem assim. Ainda segundo a meteorologista, para que a empreitada dê certo, são necessárias condições muito específicas. "Para funcionar, a nuvem bombardeada tem que ser do tipo 'cumulus' e , mesmo assim, não serve qualquer uma. É necessário que a nuvem em questão já tenha propensão a fazer chover. É preciso ainda torcer para que as correntes de vento não a tirem do lugar após a nucleação, fazendo, assim, chover na região errada".

Resumindo, o procedimento é custoso e as chances de sucesso costumam ser mínimas. Não é à toa que o órgão cearense de meteorologia abandonou o projeto em 2000, depois de constatar que a nucleação não demonstrou aumento significativo nas precipitações.

A técnica, no entanto, não ficou esquecida no passado. Entre 2001 e 2014, a Sabesp usou a mesma técnica, dessa vez de uma empresa privada, para tentar aumentar a incidência de chuvas sobre as represas do Sistema Cantareira, em São Paulo. O uso foi contestado por especialistas paulistas e abandonado.

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(Essa reportagem foi produzida em colaboração com Anelize Nunes, do Cedoc de A Gazeta)

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