Colar com águas-marinhas brasileiras dado à rainha Elizabeth II, em 1953
Colar com águas-marinhas brasileiras dado à rainha Elizabeth II, em 1953. Crédito: Reprodução Artemisias Royal Jewels

A origem capixaba das joias queridinhas da rainha Elizabeth II

Vários Estados reivindicam a origem das águas-marinhas do conjunto de joias brasileiro. Saiba se a "Serra Pelada Capixaba" contribuiu para produção de presente para a rainha da Inglaterra

Tempo de leitura: 4min
Vitória
Publicado em 15/09/2022 às 08h09

A Coroa Britânica e os costumes da monarquia instigam curiosidades. Uma delas diz respeito às joias da rainha Elizabeth II. Algumas dessas peças foram dadas pelo Brasil em ocasiões especiais. Mas, após a morte recente da monarca, surgiram dúvidas sobre as regiões brasileiras de onde as pedras preciosas teriam sido extraídas. Uma pesquisadora ouvida por A Gazeta explica que as preciosidades são do Espírito Santo e de Minas Gerais.

As joias brasileiras dadas à Elizabeth II foram produzidas com pedras águas-marinhas. A professora e doutora Daniela Newman, do Departamento de Gemologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que essa pedra preciosa é a variedade azul do mineral berilo.

"A cor azulada é gerada pela presença de ferro na sua composição. Trata-se de uma das gemas mais tradicionais e populares no mercado de joias. O Brasil sempre se destacou como um dos maiores produtores de água-marinha com qualidade gemológicas, destacando-se os depósitos do Espírito Santo e de Minas Gerais", ressalta.

O conjunto brasileiro foi dado à rainha em três ocasiões diferentes, explica a professora. A primeira ocorreu em 1953, um ano após o início do reinado de Elizabeth II. Coube ao empresário de comunicação Assis Chateaubriand, em nome do então presidente da República, Getúlio Vargas, entregar à monarca o colar e os brincos.

Em 1958, foi a vez de o presidente Juscelino Kubitschek presentear a rainha com o broche e a pulseira. Já em 1968, em sua única visita ao Brasil, a rainha recebeu uma tiara do então presidente Artur da Costa e Silva.

"Essa peça foi remodelada e transformada em coroa", explica a professora.  As joias brasileiras foram usadas por Elizabeth II em um jantar, em Londres, durante a visita do então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2006.

Rainha Elizabeth usando joias produzidas com pedras extraídas do Espírito Santo e Minas Gerais
Rainha Elizabeth usando joias produzidas com pedras extraídas do Espírito Santo e Minas Gerais. Crédito: Juca Varella/Folhapress - 07/03/2006

O duque de Edimburgo, o príncipe consorte Philip, a então primeira-dama Marisa Letícia, a rainha Elizabeth II e o presidente Lula se reuniram antes do jantar oferecido no Palácio de Buckingham, na Inglaterra. 

A professora explica que o broche, por ser peça única, foi feito exclusivamente com a pedra extraída de Itarana, no Noroeste do Espírito Santo. No caso das outras peças, que têm mais de uma gema, existe a probabilidade de ter tanto pedras capixabas quanto mineiras. 

Broche com água-marinha capixaba dado à rainha Elizabeth II, em 1958. Crédito: Reprodução Artemisias Royal Jewels
Broche com água-marinha capixaba dado à rainha Elizabeth II, em 1958. Crédito: Reprodução Artemisias Royal Jewels

ITARANA FOI APELIDADA DE "SERRA PELADA CAPIXABA"

A professora Daniela Newman explica que, nos anos 1940, a região de Itarana ficou conhecida como a “Serra Pelada Capixaba”, devido à abundância, à qualidade e ao tamanho das gemas de água-marinha. O apelido da cidade é em referência a uma região do Pará, maior garimpo a céu aberto do país nos anos 1980.

“A região de Itarana, especificamente em Pedra da Onça, é considerada historicamente uma localidade de altíssima produção de água-marinha, entre as décadas de 1940 e 1970. É uma região reconhecida no meio acadêmico e comercial, destaque nacional como a maior produtora dessas gemas”, detalha Daniela.

O historiador Diogo Francisco da Silva, que nasceu em Itarana, conta que a retirada das pedras preciosas  atingiu o auge na década de 1970. "Não foi Itarana que deu as pedras para a rainha, mas foi de onde saíram para as joias dela", completa. 

Brincos com águas-marinhas brasileiras dado à rainha Elizabeth II, em 1953. Crédito: Reprodução Artemisias Royal Jewels
Brincos com águas-marinhas brasileiras dado à rainha Elizabeth II, em 1953. Crédito: Reprodução Artemisias Royal Jewels

DO ESPÍRITO SANTO E DE MINAS GERAIS

A especialista em gemologia conta que Itarana não é a única localidade do Espírito Santo a ter água-marinha. É possível encontrar a pedra em diferentes cidades do Estado, como Ecoporanga, Mantenópolis, Pancas e Colatina.

Itarana, no entanto, tem características geológicas que favorecem a formação das melhores águas-marinhas do país. “No município, a formação dessas gemas está relacionada aos maciços da Pedra da Onça e de Várzea Alegre. Há uma rocha específica favorável para elas se formarem. As águas-marinhas encontradas lá são bem limpas e grandes”, destaca Daniela Newman.

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Pedra da Onça, em Itarana, Noroeste do Espírito Santo. Crédito: Reprodução flickr.com/people/70542435@N00/

As águas-marinhas capixabas se juntaram às de Minas Gerais para a coroa da rainha. Segundo Daniela Newman, a peça contava também contava com o material mineiro. O Estado vizinho tem depósitos de águas-marinhas que apresentam semelhanças geológicas com o território capixaba.

Espírito Santo, Minas Gerais, o oeste do Rio de Janeiro e o sul da Bahia fazem parte de uma região reconhecida como a principal produtora de minerais-gema do país, segundo pesquisas.

Garimpeiros na Pedra da Onça, em Itarana, trabalhando na extração das águas-marinhas
Garimpeiros na Pedra da Onça, em Itarana, trabalhando na extração das águas-marinhas. Crédito: Portal de Alto Jatibocas/Reprodução

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Sobre as alegações de que as joias da rainha teriam águas-marinhas de Tenente Ananias, no Rio Grande do Norte, Daniela Newman evidencia que, naquela época, a maior produção era do Espírito Santo.

"As melhores e maiores gemas eram capixabas. É uma questão de temporalidade de produção, dos depósitos. Na época em que as pedras foram extraídas e dadas à rainha, você não tinha no Rio Grande do Norte uma produção tão expressiva como no caso de Minas Gerais e Espírito Santo", finaliza. 

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