Publicado em 24 de abril de 2023 às 14:50
BRASÍLIA - A Polícia Federal cancelou o depoimento de Anderson Torres que estava marcado para esta segunda-feira (24), após os advogados do ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL) alegarem "drástica piora" de seu estado de saúde.>
Segundo a defesa, Torres teve um "agravamento do quadro de saúde psíquico" depois de o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), negar um pedido de soltura. Ele está preso desde janeiro.>
"Após ter ciência do indeferimento do pedido de revogação de sua prisão preventiva, o estado emocional e cognitivo do requerente, que já era periclitante, sofreu uma drástica piora", alega a defesa.>
No pedido à PF, o advogado Eumar Novacki destaca que Anderson Torres recebeu um atestado de uma psiquiatra da Secretaria de Saúde do Distrito Federal que fala sobre a impossibilidade de o ex-ministro "comparecer a qualquer audiência no momento por questões médicas (ajuste medicamentoso) durante uma semana".>
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"A despeito disso, a defesa informa que o requerente, tão logo esteja recuperado, pretende cooperar para o esclarecimento dos fatos em apuração, motivo pelo qual pugna pela redesignação de sua oitiva", conclui.>
O ex-titular do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro havia sido convocado para prestar depoimento nesta segunda (24) sobre a suposta utilização da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em bloqueios no segundo turno da eleição presidencial, em outubro de 2022, para dificultar a chegada de eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para os locais de votação.>
A PF investiga uma viagem do então ministro à Bahia na época. Na ocasião, segundo as suspeitas, Torres teria pedido à PF que atuasse com a PRF nas rodovias para realizar blitz em locais em que Lula havia recebido mais votos que Bolsonaro no primeiro turno.>
"O que eu posso afirmar é que há múltiplos indícios de elaboração de relatórios, viagens, comandos, de determinações administrativas. E temos um indício muito eloquente, o fato ocorreu: no dia 31 de outubro [na verdade, 30] houve essas ditas operações atípicas", disse o ministro da Justiça, Flávio Dino, no início do mês.>
A defesa estava esperançosa com a soltura do ex-ministro após a PGR (Procuradoria-Geral da República) ter defendido na segunda-feira passada (17) a revogação da prisão de Torres.>
Ele foi preso por decisão do STF após os ataques às sedes dos Poderes, em 8 de janeiro. Torres havia sido recém-nomeado secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas viajou para os Estados Unidos antecipadamente, já que as férias dele começavam no dia seguinte às invasões.>
Ao defender a revogação da prisão, o subprocurador Carlos Frederico dos Santos afirmou que a prisão poderia ser substituída pelo uso de tornozeleira eletrônica, proibição de Torres sair de Brasília e de se comunicar com outros investigados, além da manutenção do afastamento do cargo de delegado da Polícia Federal.>
"A intenção [das medidas restritivas] é evitar que o investigado possa utilizar de sua influência política para interferir no andamento da apuração", acrescentou o representante da Procuradoria.>
O relator do caso no STF, Alexandre de Moraes, negou o relaxamento da situação de Anderson Torres citando as suspeitas em torno da utilização da PRF numa "operação golpista" contra eleitores de Lula.>
"[Há] fortes indícios da participação do requerente [Torres] na elaboração de uma suposta 'minuta golpista' e em uma 'operação golpista' da Polícia Rodoviária Federal para tentar subverter a legítima participação popular no 2º Turno das eleições presidenciais de 2022", disse Moraes na decisão.>
"Não bastasse isso, o requerente Anderson Gustavo Torres suprimiu das investigações a possibilidade de acesso ao seu telefone celular, consequentemente, das trocas de mensagens realizadas no dia dos atos golpistas e nos períodos anterior e posterior; e às suas mensagens eletrônicas", completou.>
Em março, Anderson Torres trocou de advogados e, desde então, a defesa passou a detalhar o quadro de saúde do ex-ministro para pedir a soltura e adiamento de compromissos com a Justiça.>
Segundo os advogados, Torres tem sofrido problemas psicológicos desde que foi preso, em janeiro. "[Ele] entrou em um estado de tristeza profunda, chora constantemente, mal de alimenta e já perdeu 12 quilos", dizem.>
"Após a decretação da custódia cautelar do requerente, suas filhas, infelizmente, passaram a receber acompanhamento psicológico, com prejuízo de frequentarem regularmente a escola. Acresça-se a isso o fato de a genitora do requerente estar tratando um câncer", completaram.>
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