Publicado em 10 de maio de 2018 às 09:24
Um policial lotado no 16º BPM (Olaria) e um ex-PM do batalhão da Maré participaram da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, de acordo o depoimento da testemunha-chave do crime a mesma que envolveu o vereador Marcello Siciliano (PHS) no caso. A dupla, segundo ela, estava, com outros dois homens, no Cobalt prata usado na execução.>
Os quatro que estariam no carro foram identificados por essa testemunha e vêm sendo investigados pela Delegacia de Homicídios da capital (DH). Além do PM e do ex-PM, os outros passageiros do Cobalt, segundo o delator, são ligados ao miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, que atua na Zona Oeste e que, de acordo com a testemunha, participou da trama para matar Marielle, junto com Siciliano.>
O GLOBO apurou que esses dois homens já se envolveram, em junho de 2015, em outra execução com características semelhantes à de Marielle, também a mando de Orlando de Curicica, de acordo com o Ministério Público do Rio. Os nomes dos acusados estão sendo preservados para não atrapalhar as investigações. Em 2015, segundo a denúncia, o grupo matou, com tiros na cabeça, um homem que alugou um terreno na área de influência de Orlando, para instalação de um circo, sem autorização prévia do miliciano.>
SINDICÂNCIA ARQUIVADA>
>
O policial militar mencionado pela testemunha-chave ainda está lotado no 16º BPM, unidade vizinha ao Complexo do Alemão. Ele já foi submetido a uma sindicância disciplinar, mas o processo acabou arquivado. Já o ex-PM, que passou pelo 22º BPM (Maré), atualmente seria integrante de uma milícia que age na região de Ramos.>
Contra os outros dois supostos ocupantes do carro, consta, no processo judicial, que, no dia 7 de junho de 2015, às 19h, eles desceram de um Kia Cerato branco e atiraram em Wagner Raphael de Souza, então presidente da escola de samba União do Parque Curicica. A vítima estava em seu próprio carro, com uma pessoa no banco do carona.>
>
Os tiros acertaram Wagner na cabeça, matando-o, e feriram uma mulher que estava ao lado dele. Na ação penal, o MP do Rio ressaltou que o crime foi cometido de forma a impedir a defesa das vítimas, já que os disparos foram efetuados a pouca distância e contra suas cabeças. O carona, que ficou ferido, afirmou em depoimento à polícia que Wagner causava problemas para Orlando, pois sempre agiu sozinho, apoiando candidatos políticos independentes e contrariando os interesses da milícia de Orlando.>
Mesmo sem pertencer à milícia, ele não baixava a cabeça para eles. Era uma pessoa muito forte na comunidade, o que o tornou um perigoso rival da facção criminosa, contou a testemunha. Depois, ela mudou sua versão ao ser interrogada pelo MP, e passou a negar a participação de Orlando na execução.>
PELO CELULAR DE OUTRO PRESO>
O delator que ligou a morte de Marielle a Siciliano e a Orlando também disse à Divisão de Homicídios (DH) que o miliciano, hoje preso em Bangu 9, estava usando o celular de um outro preso, Charle Dickson Ferreira da Silva, para continuar no comando de seus negócios. Por esse telefone, segundo o delator, Orlando teria dado ordem para executar a vereadora.>
A Secretaria de Segurança, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, pediu à Justiça do Rio em 25 de abril um dia depois de a testemunha-chave procurar a Polícia Federal a transferência de Orlando para um presídio de segurança máxima, mas a medida até agora não foi autorizada. Orlando continua no Complexo de Gericinó.>
No documento, a secretaria justifica o pedido ressaltando que Orlando de Curicica seria uma importante liderança de um grupo miliciano acusado de vários crimes.>
Orlando foi preso em outubro de 2017 por policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Na época, ele já era procurado por agentes da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança por comandar uma milícia.>
Orlando foi capturado na casa em que morava com a família, em Vargem Pequena, na Zona Oeste. Junto com ele, os policiais civis prenderam quatro PMs, que se apresentaram como seguranças de Orlando. O miliciano tinha duas armas, um colete balístico e um carro blindado.>
Na época do prisão, o delegado Alexandre Herdy, titular da Draco-IE, disse que Orlando chefiava a milícia na região de Jacarepaguá e do Terreirão, no Recreio. Ele foi acusado de comandar disputas relacionadas às milícias, de cobrar taxas de comerciantes e até de envolvimento em assassinatos.>
Um relatório entregue pela testemunha-chave à polícia, revela que, atualmente, a quadrilha de Orlando controla quatro grandes áreas na Zona Oeste, com 14 comunidades. A quadrilha lavava dinheiro usando uma empresa de distribuição de água mineral, que estaria em nome de uma parente de Orlando.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta