Publicado em 25 de março de 2025 às 18:56
BRASÍLIA - A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) negou nesta terça-feira (25) o pedido da defesa de acusados pela trama golpista para anular a colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid.>
A decisão foi tomada por unanimidade. Com o resultado, o colegiado negou todas as questões preliminares levantadas pelas defesas, decidiu suspender a sessão desta terça (25) e vai seguir para a análise do mérito da denúncia na manhã desta quarta-feira (26).>
O ministro Alexandre de Moraes defendeu que, no contexto da delação de Cid, o Supremo atuou de acordo com seu papel de "verificar a regularidade, a voluntariedade e a legalidade" da colaboração premiada.>
"Em nenhum momento esse Supremo Tribunal Federal, por meio do ministro-relator, interferiu no conteúdo ou nos termos do acordo de colaboração premiada, tendo exercido somente o que a lei garante a todo juiz", disse.>
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As defesas do ex-presidente Jair Bolsonaro e do ex-ministro Braga Netto pediam a anulação do acordo de Mauro Cid com a Polícia Federal por dois motivos. A suspeita era de que o militar teria omitido informações em seus depoimentos – e, como segundo ponto, que teria alterado sua versão pressionado por Moraes>
Mauro Cid deu detalhes da participação de Braga Netto na trama golpista em uma audiência com Moraes, em novembro de 2024. No início do depoimento, o ministro do Supremo alertou o militar sobre sua possível prisão caso não falasse a verdade.>
No julgamento desta terça (25), o ministro comparou o caso com a advertência dada por juízes a testemunhas da obrigatoriedade de falar a verdade em seus depoimentos, sob pena de falso testemunho. "Isso nunca foi considerado coação. A lei é a lei", diz.>
"Ora, na hora que se adverte que pode ser rescindido o acordo de colaboração, o acordo seria rescindido geral, inclusive nos termos como estava escrito: 'Pai, esposa e filha maior do colaborador'.">
Moraes citou a fala do advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, para refutar a alegação de que a colaboração não foi voluntário ou não respeita os trâmites corretos.>
Moraes afirmou em mais de um momento que, na presença de seus advogados, o delator reiterou a voluntariedade. O ministro leu trechos das declarações de Cid em depoimento, em que ele agradece por poder colaborar.>
Em mais de um momento, ainda, Moraes afirmou que a delação é apenas um meio de obtenção de prova. "Ela é um meio de obtenção de prova, não uma prova em si. Se o MP, titular da ação penal, não quiser utilizar a delação, não utiliza", disse.>
O ministro Luiz Fux afirmou que o pedido de nulidade de Cid era a "preliminar mais sensível de todas", mas que a análise do mérito da validade da colaboração premiada deve ser feita em outro momento.>
"Estamos num momento que é preambular. Pelo que aqui se observou, esse colaborador certamente vai ser ouvido em juízo [...]. Este não é o momento próprio, mas vejo com muita reserva nove delações de um mesmo colaborador, cada hora apresentando uma novidade", disse Fux.>
"Me reservo ao direito de avaliar no momento próprio a legalidade dessa delação, mas acompanho no sentido de que não é o momento de declarar a nulidade", concluiu..>
Flávio Dino disse que seria curioso imaginar que Mauro Cid, um militar do Exército, se sentisse acuado diante de depoimentos no Supremo – um dos motivos para o ministro negar a nulidade da delação.>
"É muito difícil crer que um tenente-coronel do Exército Brasileiro, uma alta autoridade militar, seria facilmente intimidado, uma vez que, como disse Alexandre, temos esse treino e a toga é apenas um sinal de independência contra as covardias daqueles que atacam o Judiciário.">
Sobre os ataques aos ministros do STF, Dino ainda disse que "há pessoas que acham que é um ato de coragem atacar o juiz. Não, é uma covardia porque ataca um Poder desarmado".>
Os ministros do Supremo julgam nesta terça e quarta-feira (26) o recebimento da denúncia contra o núcleo central da trama golpista. Os acusados são Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-chefe da Abin), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Jair Bolsonaro (ex-presidente da República), Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).>
A primeira parte do julgamento se concentrou na análise das questões preliminares apontadas pelas defesas. Foram discutidos cinco pontos – todos negados pela Primeira Turma do Supremo.>
Em um dos pontos, os ministros discutiram se caberia à Primeira Turma do Supremo o julgamento da trama golpista. As defesas pediam que o caso fosse remetido à primeira instância ou, em caso de negativa, que fosse levado ao plenário do STF.>
A recusa se deu por maioria, quatro votos a um. Só o ministro Luiz Fux defendeu que a competência para julgar a trama golpista não seria do Supremo – e, caso o tribunal julgue a trama golpista, que fosse analisada no plenário.>
Moraes afirmou que o pedido de envio do caso ao plenário contrariava o regimento interno do Supremo. No fim de 2023, o STF decidiu que ações penais deveriam ser julgadas pelas Turmas – uma solução para desafogar o plenário diante de mais de 1.500 denúncias em curso relacionadas aos ataques de 8 de janeiro.>
Moraes também defendeu que presidente da República em exercício deve ser julgado pelo plenário do Supremo, como prevê o regimento interno. Não é o mesmo procedimento para ex-presidentes.>
"Ex-presidente da República não pode ser afastado de um cargo que não exerce mais. Consequentemente, as razões do regimento interno não se aplicam ao ex-presidente. Diante dessas alegações, afasto ambas as preliminares", diz.>
Fux foi o único a discordar dos demais ministros sobre realizar o julgamento na Primeira Turma. Para ele, caberia ao plenário do Supremo. O ministro já havia votado em 2023 contra o envio das ações penais para as Turmas.>
"Pior que o juiz que não sabe direito é o juiz incoerente. Peço vênia para manter minha posição, até porque não é tão pacífica assim", disse Fux em referência ao seu voto de dois anos atrás.>
Os ministros ainda negaram pedidos para que Alexandre de Moraes fosse declarado suspeito de julgar o caso; a nulidade do processo por falta de acesso às defesas de todas as provas colhidas pela Polícia Federal; e a aplicação da regra do juiz das garantias ao STF, para afastar Moraes do julgamento.>
A Primeira Turma julgou nesta terça (25) o recebimento da denúncia contra Jair Bolsonaro e outras sete pessoas. Nessa fase, os ministros analisaram somente se a acusação apresenta indícios de autoria e materialidade – ou seja, se há um mínimo indicativo suficiente para que os denunciados respondam a um processo.>
A tendência é que a Primeira Turma do Supremo receba a denúncia por unanimidade. Se o cenário se confirmar, os acusados passam a responder a uma ação penal, e o processo começará a ser instruído pelo ministro Alexandre de Moraes.>
Na próxima fase, os réus poderão coletar provas e relacionar testemunhas para serem ouvidas no STF. É neste momento que os suspeitos devem questionar o mérito das acusações feitas pela PGR.>
A Primeira Turma do STF é composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux.>
O julgamento começou às 9h30 desta terça (25), com a leitura do relatório de Moraes. O procurador-geral Paulo Gonet falou por 30 minutos a favor do recebimento da denúncia contra os acusados, e as defesas apresentaram seus argumentos durante duas horas.>
A PGR dividiu a denúncia da trama golpista em cinco grupos. O núcleo central, do qual Bolsonaro faz parte, é o primeiro a ser julgado pelo STF.>
Bolsonaro e seus aliados são acusados pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado.>
Somadas, as penas máximas podem superar 40 anos de prisão.>
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