Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 19:41
- Atualizado há 5 anos
Pressionado pelo presidente Jair Bolsonaro, o Banco do Brasil avalia revisar o plano de enxugamento da instituição, que prevê um programa de demissão voluntária e o fechamento de agências em todo o país.>
Segundo interlocutores, a ideia é tratada como uma hipótese, já que Bolsonaro ainda não havia apresentado exigências à instituição e buscava a via mais radical, da demissão do presidente do banco, André Brandão. Ministros tentam reverter.>
De acordo com integrantes do BB, eventuais ajustes no plano de reestruturação precisariam ser compensados por cortes de despesas em outras áreas. De qualquer maneira, a avaliação é que um movimento desse tipo, caso concretizado, seria interpretado pelos agentes de mercado como uma interferência política grave do governo sobre o banco.>
Na quarta-feira (14), Bolsonaro ameaçou demitir Brandão do comando do BB. Desde então, o ministro Paulo Guedes (Economia) tenta evitar o desligamento. Também entraram nessa operação o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a ministra Tereza Cristina (Agricultura).>
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O motivo da fúria de Bolsonaro foi o anúncio da reestruturação do banco, feito na segunda-feira (11). O plano levará ao fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências, além de prever um programa de desligamento voluntário que pode provocar a saída de 5.000 funcionários.>
Uma pessoa que acompanha o embate afirma que é possível que seja negociada uma saída que faça o programa de enxugamento ficar mais palatável para o governo, desde que seja mantida a essência de ajuste do banco.>
A avaliação é que não faria sentido alterar o plano de demissão, embora não seja impossível mudar prazos e reduzir o escopo do programa. Isso porque os desligamentos seriam voluntários, voltados especialmente a pessoas que estão perto de se aposentar e com benefícios - as indenizações chegam a R$ 450 mil por funcionário, além de outros direitos.>
Uma parte da reestruturação que teria uma chance maior de flexibilização é o fechamento de agências, que gerou descontentamento entre parlamentares. O banco poderia rever postos incluídos no enxugamento e buscar outras medidas para cortar despesas.>
Ainda assim, internamente, há a percepção de que o plano é criterioso e foi pensado para não prejudicar os correntistas. Segundo uma fonte, o banco segue o movimento do mercado no sentido de reduzir estruturas físicas e ampliar os canais digitais.>
O fechamento de agências também prevê a manutenção de correspondentes bancários, com estrutura menor e que fazem a maior parte dos serviços considerados essenciais, como saques, depósitos, pagamento de boletos e retirada de extratos.>
A tentativa de interferência de Bolsonaro é vista com preocupação no banco, que, diferentemente da Caixa Econômica Federal, é uma instituição de mercado, tem capital aberto na bolsa de valores e recebe cobrança para dar rentabilidade aos acionistas e ter nível de eficiência similar aos seus pares no sistema financeiro.>
Alvo da fritura no governo, Brandão está despachando desde quarta-feira de São Paulo. Auxiliares aconselharam que ele voltasse a Brasília, mas Brandão decidiu seguir com a agenda na capital paulista, afirmando que está à disposição para fazer contato com o governo.>
Segundo relatos, o presidente do BB é convicto sobre a importância do programa de reestruturação, está tranquilo e não tem apego ao cargo. A interlocutores, ele afirmou que deixará para Guedes e Bolsonaro a decisão final sobre sua situação e poderá sair do posto, se necessário.>
Uma pessoa próxima a Brandão afirma que ele já esperava o descontentamento político e reconhece que o momento da medida foi ruim porque a decisão deu munição contra o governo nas negociações para a eleição da cúpula do Congresso, em fevereiro.>
Antes do lançamento da reestruturação, Guedes foi informado das medidas que seriam adotadas. O ministro apoia o plano.>
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