Publicado em 5 de outubro de 2018 às 21:17
Há exatos 51 dias foi dada a largada para o início da campanha eleitoral. O percurso até as urnas foi mais curto se comparado ao de eleições anteriores, mas não menos intenso. Apesar de no Estado a situação se manter estável e com possibilidade de a disputa acabar em primeiro turno, no cenário nacional ocorre o oposto: um candidato substituído de última hora, um corpo a corpo que culminou em tragédia na ponta de uma faca e protestos país afora entre o divididos entre o ele não e o ele sim deram o tom à conturbada corrida presidencial, que possivelmente não terá fim neste domingo (7).>
Veja linha do tempo no final da reportagem>
Candidato ao governo do Estado, Renato Casagrande (PSB) chega na reta final de sua campanha com uma larga vantagem em relação a seus principais oponentes Rose de Freitas (Podemos) e Carlos Manato (PSL). No entanto, conforme avalia o economista e diretor do Instituto Futura, José Luiz Orrico, o cenário consolidado que se vê até aqui poderia ter sido muito diferente caso Paulo Hartung (MDB) não tivesse desistido da disputa.>
Orrico lembra que pouco antes da desistência do governador ser anunciada por ele próprio, Hartung e Casagrande apareciam tecnicamente empatados nas pesquisas, com 36,9% e 36,1% das intenções de voto. Essa mudança definiu o processo eleitoral. As forças políticas do Estado contavam com a candidatura de Hartung. O que se esperava era uma disputa acirrada entre ele e Casagrande, repetindo o quadro de 2014. A partir daí houve uma campanha fria, que despertou pouco interesse do eleitorado, avalia Orrico.>
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O socialista já chegou a registrar 60,8% da preferência do eleitorado estadual no início de setembro. Na última pesquisa Futura, divulgada no dia 24 do mesmo mês, tinha 56,8%, contra 9% de Rose e 8,5% de Manato. A liderança, inclusive, o transformou no grande alvo dos adversários nos debates da TV Gazeta e da Rádio CBN/Gazeta Online, nos quais o candidato foi o maior alvo de críticas e de questionamentos que colocaram em xeque sua gestão à frente do Palácio Anchieta entre os anos de 2011 e 2014.>
BRASIL>
A corrida morna no Estado potencializa o protagonismo assumido pela disputa em torno do Palácio do Planalto, que entre os especialistas é tratada como atípica ou até mesmo histórica, a começar por um fator: a ruptura da tradicional polarização entre PT e PSDB.>
Para o cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) Rodrigo Prando, a mudança ocorreu em função da ascensão do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que passou a ocupar o lugar de oposição ao PT, antes assumido pelos tucanos.>
Geraldo Alckmin (PSDB) fez o dever de casa. Conseguiu reunir um arco de alianças (o chamado centrão), conseguiu uma vice do Sul (a senadora Ana Amélia) que é considerada bastante combativa com relação ao PT e muito tempo de TV. Isso fez com que todos achassem que ao longo dos primeiros 15 dias de campanha ele começasse a abrir vantagem, mas isso não aconteceu.>
Ao invés disso, segundo Prando, parte do eleitorado do PSDB migrou para Jair Bolsonaro, que apesar de ter apenas 8 segundos de propaganda na TV, já vinha construindo sua imagem nas redes sociais antes mesmo do período eleitoral. Ele se colocou como a melhor contraposição ao PT. Já aqueles que têm tendência mais liberal migraram também para João Amoêdo (Novo).>
IMPREVISIBILIDADE>
O cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael chama a atenção para o alto grau de imprevisibilidade desta eleição e destaca a tentativa do ex-presidente Lula (PT) de ser candidato mesmo estando preso, assim como a facada que atingiu Bolsonaro enquanto o presidenciável participava de uma passeata em Minas Gerais, como os dois grandes fatos desta campanha.>
Essas são as duas figuras políticas mais populares da campanha. Um ficou preso e o outro, internado, destaca.>
Sobre isso, Prando destaca: O episódio da facada deu a Bolsonaro uma visibilidade que ele jamais teria na TV e também o blindou de suas fragilidades, que eram a dificuldade de dizer como poderia representar o novo estando há quase 30 anos na política.>
Mas o potencial de transferência de votos de Lula para seu substituto Fernando Haddad trouxe um novo ingrediente à disputa: ao se declarar candidato, o ex-prefeito de São Paulo despontou nas pesquisas, saindo de 4% das intenções de voto em agosto para 22% no dia 02 de outubro, segundo o Datafolha, e desbancando candidatos como Maria Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Alckmin.>
Segundo Ricardo Ismael, à medida que o dia da votação se aproxima, o cenário aponta cada vez mais para uma possível disputa acirrada no segundo turno entre Haddad e o Bolsonaro, que nos últimos dias deu um salto nas pesquisas. Ele, que começou com 22% da preferência registrou nesta quinta-feira (04) 35% das intenções de voto.>
O professor de marketing da FGV e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) José Mauro Gonçalves Nunes avalia que o fenômeno em torno da candidatura do militar reformado tem início nos protestos de 2013, quando a agenda pública, ou seja, o que move o eleitorado, passou a ser a eficiência dos serviços públicos (Saúde, Educação, Segurança, etc.) e o fim da corrupção.>
Anexo a isso há uma forte agenda conservadora em termos de costumes, como religião - que já vinha se manifestando em eleições estaduais e municipais - e homossexualidade, completa José Mauro.>
PARTICIPAÇÃO SOCIAL>
O especialista destaca ainda o alto nível de participação social, que resultou nas manifestações contra e a favor de Bolsonaro em todo o país nesta reta final.>
Talvez tenhamos um nível de participação social semelhante às eleições de 1989, a primeira do período de redemocratização em que houve voto popular. Mas hoje há internet e redes sociais. Isso catalisa e potencializa o engajamento, o acirramento, a briga. Essa é a primeira eleição em que as redes sociais e o digital tiveram papel preponderante, afirma.>
Independente de quem sair vencedor há uma certeza: a de que o fim das eleições é apenas o início de um futuro tão imprevisível quanto foi esta campanha. Será um segundo turno com pequena diferença de votos. O eleito não terá uma grande colcha de legitimidade, que lhe permita governar com facilidade. Sua habilidade de coalizão será testada e ela é tudo o que o país precisa, finaliza José Mauro. >
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