Publicado em 6 de maio de 2021 às 18:33
Um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltar a atacar a China ao sugerir que a Covid-19 faz parte de uma estratégia de guerra biológica do país asiático, Pequim afirmou nesta quinta (6) que se opõe "a qualquer tentativa de politizar e estigmatizar o vírus". >
A declaração foi dada pelo porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, em resposta a uma pergunta de um repórter da agência de notícias francesa AFP exatamente sobre a fala do presidente brasileiro.>
"O vírus é o inimigo comum da humanidade. A tarefa mais urgente agora é que todos os países deem as mãos em uma cooperação contra a pandemia e lutem por uma vitória rápida e completa sobre a epidemia", respondeu ele durante sua entrevista coletiva semanal em Pequim.>
Na quarta (5), Bolsonaro insinuou que Pequim teria se beneficiado economicamente da pandemia e afirmou que a Covid pode ter sido criada em laboratório -ecoando uma tese que não encontra respaldo em investigação da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre as possíveis origens do vírus.>
>
"É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano [que] ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?", disse o presidente em evento no Palácio do Planalto, em Brasília. "Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês.">
Ben Embarek, que lidera uma equipe de investigação da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre as origens do coronavírus, já afirmou que a hipótese de que o vírus "vazou" de um laboratório é "extremamente improvável". A versão também é refutada por autoridades chinesas. Acredita-se, na verdade, que o coronavírus tenha sido transmitido diretamente de um animal silvestre para um humano ou que o patógeno tenha circulado primeiro entre uma espécie intermediária antes de infectar uma pessoa.>
Mais tarde na própria quarta, Bolsonaro disse que não havia citado os chineses nas declarações no Palácio do Planalto.>
"Eu não falei a palavra China no meu discurso. Sei o que é guerra bacteriológica, guerra química, guerra nuclear porque tenho formação. Só falei isso, mais nada", disse ele no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio.>
O presidente, contudo, cobrou os jornalistas pela publicação de outras informações sobre as origens do patógeno. "Mas vocês da imprensa não falam onde nasceu o vírus. Falem. Ou estão temendo alguma coisa?".>
Ainda que a China tenha anunciado em janeiro crescimento de 2,3% no PIB em 2020, sendo um dos poucos países do mundo a registrar expansão da economia em meio à pandemia, o avanço foi o mais fraco para o país asiático em mais de 40 anos.>
Bolsonaro não é a única autoridade do governo brasileiro a sugerir que o vírus foi criado artificialmente pelos chineses. Na semana passada, o ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou numa reunião que "o chinês inventou o vírus". Posteriormente, ele pediu desculpas. No cenário global, esse discurso também foi amplamente utilizado pelo ex-presidente americano Donald Trump.>
Os ataques à China estiveram no centro da pressão política que resultou na demissão do ex-chanceler Ernesto Araújo. A retórica anti-China do hoje ex-ministro foi apontada como um obstáculo para o Brasil conseguir a liberação de insumos de vacinas do país asiático, um dos principais fornecedores no mundo.>
Num bate-boca nas redes sociais entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, por exemplo, Ernesto saiu em defesa do filho do presidente. O então chanceler chegou a enviar a Pequim um pedido para que o diplomata chinês fosse retirado do Brasil –acabou ignorado. Desde então, interrompeu qualquer interlocução com a missão chinesa em Brasília.>
Carlos França, que substituiu Ernesto, tem tentado desfazer o mal-estar com os chineses, mas as recentes declarações de Bolsonaro e de Guedes têm potencial de renovar os atritos com Pequim.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta