Publicado em 14 de julho de 2020 às 16:15
O MPPE (Ministério Público de Pernambuco) ofereceu denúncia à Justiça na manhã desta terça-feira (14) por abandono de incapaz com resultado de morte contra Sarí Côrte Real, ex-patroa da mãe de Miguel Otávio de Santana, 5. O menino morreu no dia 2 de junho depois de cair do 9º andar de um prédio no Recife. >
O promotor de Justiça Eduardo Tavares seguiu o entendimento da Polícia Civil de Pernambuco, que indiciou Sarí há duas semanas pelo mesmo crime.>
No oferecimento da denúncia, o MPPE também a enquadrou no artigo 61, inciso II, alínea "h" e "j", que agrava a pena em razão de o crime ter sido cometido contra criança em meio a uma conjuntura de calamidade pública (a pandemia do novo coronavírus).>
O garoto estava aos cuidados de Sarí, enquanto sua mãe, a empregada doméstica Mirtes Renata de Souza, passeava com a cadela da ex-patroa.>
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Conforme o artigo 133 do Código Penal, o crime de abandono de incapaz tem previsão de pena de reclusão de 4 a 12 anos em caso de morte.>
No dia do crime, agentes da Polícia Civil prenderam Sarí em flagrante por homicídio culposo após ela deixar Miguel sozinho no elevador. Desacompanhada, a criança se deslocou até um andar mais alto, pulou a janela que dava para uma área onde ficava os condensadores de aparelhos de ar-condicionado, escalou uma proteção de alumínio, caiu e morreu.>
Com a conclusão das investigações pela Polícia Civil, o tipo penal foi modificado para abandono de incapaz com resultado morte. O homicídio culposo tem pena prevista no Código Penal de um a três anos de detenção.>
Na manhã de segunda-feira (13), Mirtes, acompanhada de outros familiares, realizou protesto em frente ao MPPE, no centro do Recife, para cobrar justiça por Miguel.>
Em um carro de som, ela cobrou que sua ex-patroa vá para a cadeia. "Sarí Côrte Real, aquela assassina, não só acabou com a vida do meu filho. Ele acabou com a minha vida e da minha família. Aquilo é um monstro. Ela tem que ser presa", disse no microfone enquanto caminhava.>
Na manhã desta terça-feira, por meio da assessoria de comunicação, o promotor do caso informou que não iria se pronunciar pela imprensa. O Ministério Público de Pernambuco comunicou o oferecimento da denúncia contra Sarí por meio de uma nota oficial.>
No dia 1º de julho, quando apresentou os resultados da conclusão da investigação, o delegado Ramon Teixeira, que presidiu o inquérito, informou que a mudança na tipificação penal, de homicídio culposo para abandono de incapaz, era algo natural.>
Após ser presa em flagrante, Sarí foi liberada no mesmo dia depois de pagar fiança no valor de R$ 20 mil.>
O delegado afirmou que a investigação provou que Sarí abandonou a criança de maneira consciente. Em depoimento no âmbito do inquérito, ela disse que tinha se confundido e havia deixado a porta do elevador se fechar no momento em que a filha dela a chamou.>
"Entendemos que ela permite consciente e livremente o fechamento da porta", diz o delegado. No entanto, de acordo com a investigação, isso não prova que Sarí quis de maneira dolosa o resultado morte.>
O delegado comunicou que, após o fechamento do elevador, a mulher retorna ao apartamento para continuar fazendo as unhas com a manicure que estava no local.>
"O painel tem a numeração do andar em que se encontra o elevador. Ela poderia acompanhar para aonde o elevador tinha ido com a criança. Ela não fez esse acompanhamento, ela própria admite isso", disse, na época, o delegado.>
Laudo do IC (Instituto de Criminalística) aponta que Sarí apertou o botão da cobertura e deixou Miguel ir desacompanhado. Em depoimento, ela alega que apenas simulou o acionamento.>
"A criança sequer poderia ficar desacompanhada no elevador. Pelo acervo probatório dos atos, teve, sim, uma etapa de cogitação. Teria ocorrido por uma irritação ou cansaço de retirar o menino do elevador sete vezes, segundo ela, duas em um outro elevador, que não possui imagens", afirmou Ramon.>
As imagens do circuito interno do condomínio, analisadas pela pela investigação, demonstram que Sarí tenta por pelo menos quatro vezes retirar a criança de dentro do elevador social e, depois, do de serviço. Na quinta vez, ela permite que o garoto siga sozinho.>
O elevador sai do 5º andar, onde eles estavam, e desce ao 2º andar. No painel, estavam acessos luminosos do 2º, 9º, 15º e do 20º.>
A porta se abre no 2º andar. Neste momento, Miguel não desce. Depois, o elevador chega ao 9º. Ele desembarca, abre uma porta do tipo corta fogo, vai até a janela, escala o local até chegar a uma caixa de condensadores, pisa na estrutura de alumínio que não servia de proteção e cai de uma altura de 35 metros. Não havia telas nas janelas.>
A perícia mostrou que se passou pouco menos de um minuto entre a saída do elevador até a queda da criança no chão. Os laudos técnicos apontaram que não havia outras pessoas no local.>
A investigação apontou que, naquele momento, o menino gritava pela mãe, que passeava com a cadela numa pista interna do edifício Píer Duarte Coelho, mais conhecido no Recife como Torres Gêmeas. Ao retornar ao prédio, alertada pelo porteiro, Mirtes encontrou o filho estirado no chão, gravemente ferido.>
No dia da morte, Mirtes havia levado Miguel ao local de trabalho porque não tinha com quem deixá-lo. Escolas e creches estão fechadas devido à pandemia.>
Ela continuava trabalhando apesar da alta incidência da doença no Recife. O marido de Sarí, o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB), anunciou em abril que estava infectado pelo novo coronavírus.>
No dia 2 de julho, o TJPE (Tribunal de Justiça de Pernambuco) ordenou o bloqueio parcial dos bens do político após o MPPE ter entrado com uma ação de improbidade administrativa contra ele.>
A mãe de Miguel trabalhava como doméstica no apartamento do prefeito, no Recife, no entanto, ela recebia salário pela Prefeitura de Tamandaré.>
A denúncia do MPPE contra Sarí Côrte Real foi encaminhada à Justiça. A defesa dela informou que só iria se pronunciar após ter acesso ao documento.>
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