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Por que o candidato tem 'mais voto' na enquete do que na pesquisa?

Por que o candidato tem "mais voto" na enquete do que na pesquisa?

Entenda a diferença entre uma e outra para não ser vítima de desinformação

Publicado em 29 de agosto de 2018 às 18:23

Em tempos de uso massivo de redes sociais e de polarização política na internet, é necessário cuidado extra para que enquetes realizadas em sites da internet não gerem desinformação e confundam os eleitores.

Tem funcionado assim: alguém lança uma pergunta sobre a preferência dos internautas para presidente da República e o resultado, com milhares ou milhões de respostas, mostra uma esmagadora vantagem para algum candidato. Apressadamente, concluem que, como as pesquisas de intenção de voto dão números diferentes, há fraudes.

Enquetes em redes sociais não têm valor científico e não valem como pesquisa eleitoral Crédito: Reprodução

No entanto, enquetes não têm qualquer base científica. Não consideram as distintas camadas sociais, econômicas e regionais. Retratam apenas a preferência do público que tomou conhecimento da enquete e quis participar dela. Ou seja, expõe a vontade de um ou poucos segmentos.

O Brasil, com seus 5.570, tem 147,3 milhões de eleitores aptos a votar em outubro. A última pesquisa Datafolha, feita entre 20 e 21 de agosto, entrevistou apenas 8.433 pessoas em 313 municípios brasileiros. A última pesquisa Ibope, sobre a disputa ao governo do Espírito Santo, feita entre 15 e 17 de agosto, ouviu 812 pessoas no Estado.

Mas o leitor pode se perguntar: "São pouquíssimos os entrevistados, eu nunca fui entrevistado e não conheço ninguém que tenha sido. Como o resultado pode ser correto?". Há explicações. Os institutos de pesquisa fazem uma "estratificação da amostra de eleitores".

Isso significa que selecionam um grupo de pessoas que representa o eleitorado por sexo, faixa etária, escolaridade, renda e região em que mora. A montagem da amostra usa critérios científicos e leva em conta dados oficiais do IBGE e da Justiça Eleitoral. Assim, acessam um "todo" da sociedade.

Pesquisas de institutos de opinião com reputação conhecida são registradas na Justiça Eleitoral e auditadas para garantir sua validade. E eles costumam chegar a números muito precisos. Na véspera da eleição de 2014, por exemplo, o Instituto Futura mostrou Paulo Hartung (MDB) com 56,2% dos votos válidos e Renato Casagrande com 38,9%.

Já o Ibope, no mesmo dia, dava 52% a Hartung e 37% a Casagrande. Quando as urnas foram abertas, no domingo, Hartung foi eleito com 53,44%. Casagrande ficou com 39,34%. Em 2016, na eleição para prefeito de Vitória, a diferença entre o resultado das urnas e a última pesquisa do Instituto Futura foi de apenas 0,49 ponto percentual.

COMPROVA

Nas última semanas, a página "Mais Saúde Menos Corruptos" postou no Facebook um infográfico que aponta o candidato Jair Bolsonaro com mais de 86,57% das intenções de voto, seguido por Lula (8,21%), Alckmin (2,99%), Ciro (1,49%) e Marina (0,75%). A fonte era outra página do Facebook chamada "Instituto de Pesquisa Oficial do Face". Apesar do nome do "instituto", tratava-se de uma enquete.

A informação foi explicada pelo projeto Comprova. A verificação envolveu profissionais de 11 veículos de imprensa: Rádio Bandeirantes, Band News FM, Gazeta do Povo, UOL, SBT, Jornal do Commercio, O Povo, Folha de S. Paulo, Band, Correio do Povo e Gazeta Online. Confira outras checagens.

O Comprova entrou em contato com Sylvio Montenegro, que se apresenta como diretor do instituto. Ele explicou que utiliza, entre outros métodos, a ferramenta de enquete que o Facebook disponibiliza para qualquer página para colher esses dados.

Para chegar aos resultados apontados no post em questão, Montenegro utilizou uma metodologia sem qualquer base científica ou amostragem. Nesse caso, as pessoas tinham cinco opções de candidatos e escolhiam seus preferidos nos comentários. Segundo ele, foram cerca de 500 votos.

Para outro levantamento, desta vez somente entre o deputado Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula, foi utilizada a ferramenta de criação de enquetes do Facebook que só permite duas opções de respostas. Foram mais de 1 milhão de votos e Bolsonaro, mais uma vez, aparece na frente. Segundo Montenegro, a enquete foi feita por ele e compartilhada por seguidores.

Sem qualquer relação com a empresa Facebook, a página foi removida da rede social "por ferir os nossos Padrões da Comunidade, que não permitem representação falsa".

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