Publicado em 24 de agosto de 2019 às 01:42
O estado do Rio de Janeiro tem sua cota de "bondes" criminosos, como os do Trem Bala e do Fuzil.>
Era por Bonde de Jesus que atendiam traficantes evangélicos que atuavam na comunidade Parque Paulista, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense). A ficha corrida deles envolve também ataques a terreiros de candomblé da região, segundo a Polícia Civil.>
Agentes da 62ª Delegacia de Polícia realizaram na manhã desta quarta-feira (14) uma operação para desarticular a quadrilha. As autoridades identificaram 21 traficantes que teriam relação com o terrorismo religioso. Seis foram presos e um morto na quarta. Outros dois foram detidos na terça (13).>
Segundo Túlio Pelosi, delegado titular da 62ª, Álvaro Malaquias Santa Rosa, chefe do tráfico e membro do TCP (Terceiro Comando Puro), é também pastor. Teriam vindo dele as ordens para depredar espaços de culto candomblecistas.>
Um dos ataques ocorreu em 11 de julho, contra um terreiro no Parque Paulista. A sacerdotisa da casa, uma octogenária, ficou sob mira de uma arma. O espaço, há mais de 50 anos na área, teve objetos tidos como sagrados pelos frequentadores espatifados no chão.>
Só em sua circunscrição foram neste ano ao menos dois atentados motivados por intolerância religiosa, diz Pelosi. Conhecido como Peixão, o traficante Santa Rosa estaria escondido em outra comunidade no Rio, a Parada de Lucas/Vigário Geral.>
"Abrimos outra investigação para analisarmos a atuação de um pastor como o 'porta-voz' do Peixão nestes crimes", afirma o delegado à Folha.>
Ainda segundo Pelosi, os traficantes frequentam a Assembleia de Deus Ministério de Portas Abertas do Sarapuí, igreja em Duque de Caxias que em redes sociais anuncia cultos como "Conhecendo o Deus da Provisão". A reportagem tentou entrar em contato com a congregação religiosa e também com advogados dos suspeitos, mas não conseguiu.>
"Em todas as comunidades dominadas por essa facção, os traficantes impedem, quebram, ameaçam e expulsam frequentadores e donos de terreiros de religiões afrodescendentes", diz o delegado. "Se autoproclamam 'Bonde de Jesus'.">
Boa parte dos evangélicos acredita que seguidores de crenças afrobrasileiras cultuam "falsos deuses" e acham que entidades da umbanda ou do candomblé, por exemplo, são manifestações demoníacas.>
Essa visão é alimentada por vários líderes, entre eles o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que nos anos 1990 lançou "Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios?". O best-seller foi reeditado neste ano.>
Após o ataque de julho, o babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, reclamou da "inércia das autoridades" e disse que o governador Wilson Witzel não abria espaço na agenda para discutir os atentados contra religiões de matiz africana.>
Nesta quarta, Witzel parabenizou a Polícia Civil "pela extensa investigação que identificou e está prendendo traficantes apontados como os autores de crimes de intolerância religiosa".>
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