Publicado em 2 de abril de 2020 às 08:00
Com todos os esforços centrados na captação de doações para minimizar os impactos do coronavírus, uma questão recorrente no terceiro setor é a sobrevivência das organizações que estão na ponta do atendimento às populações mais vulneráveis.>
Enquanto as ONGs ajudam a salvar vidas, quem vai salvar as ONGs?>
"A sustentabilidade do terceiro setor é uma questão a ser pensada. Como vamos nos sustentar por um tempo mais longo e um escopo maior?", questiona Patricia Lobacarro, ex-presidente da Brazil Foundation.>
A grande maioria das ONGs depende de eventos, bingos e jantares para fechar suas contas, atividades suspensas diante da determinação de isolamento social para conter o contágio.>
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"É claro que nesse momento a urgência é focar nas cestas básicas e em hospitais, mas não podemos deixar outros temas parados ou desassistidos", diz ela.>
Por esta razão, diversas entidades estão apelando para os financiamentos coletivos online como alternativa para atravessar esse momento de crise aguda.>
Plataformas como Benfeitoria, Vakinha e Kickante assumiram papel essencial na luta pela sobrevivência de algumas ONGs, entre elas a Turma do Bem.>
"Estou fazendo vaquinha para tentar manter os funcionários pelos próximos três meses, mas corremos grande risco de fechar", afirma Fabio Bibancos, cirurgião dentista e fundador da TdB, integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.>
Há 20 anos, a organização oferece tratamento odontológico gratuito e completo para crianças, jovens e mulheres que foram vítimas de violência por meio de uma rede de dentistas voluntários.>
A crise, no entanto, bateu à porta da TdB, e com ela entrou a dificuldade de financiar os atendimentos e pagar os funcionários. Com recursos provenientes em grande parte da iniciativa privada, a instituição não consegue viabilizar patrocínios para manter os programas funcionando enquanto o mercado vive as quedas e incertezas da pandemia.>
"Grande parte da nossa renda vem de vendas comissionadas de produtos odontológicos de outras empresas", explica Bibancos. "Conforme os dentistas consomem, a organização consegue se sustentar. Acontece que os dentistas estão parados.">
Uma paralisação com impactos de pequeno e longo prazo. "Nem sei se alguém pode ter, agora, a dimensão do que vai acontecer depois da crise da pandemia. As doações estão indo todas para o corona", avalia Gisela Solymos, cofundadora do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren).>
Gisela Solymos
Cofundadora do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (Cren)A organização, também integrante da Rede Folha, já atendeu 12 mil famílias para o tratamento da má-nutrição infantojuvenil ao longo dos 23 anos de atuação. "Vamos encolher, mas vamos sobreviver", acredita. >
O Cren tem parceria com o governo, o que ajuda a instituição a se manter, dentro do possível. "A gente tem convênio com a Prefeitura de São Paulo e o repasse está sendo feito", diz Gisela. Diversos projetos, contudo, estão em quarentena. "Temos uma série [de projetos] em fase de captação, que estão parados por tempo indeterminado." >
Diante desse cenário, em que "um exército de ONGs" não conta com essa verba garantida, a empreendedora social traça um panorama menos otimista. >
"Já não é de hoje, e sim de alguns anos, que muitas organizações vêm fechando", avalia Solymos. "Temos visto um cenário que se agrava, lenta e sistematicamente, e que se torna ainda mais crítico com a crise do coronavírus." >
Outro fato preocupante é o de que as ONGs foram, até o momento, excluídas de medidas do Banco Central para apoiar pequenas e médias empresas durante a crise da covid-19. >
São 780 mil entidades do terceiro setor brasileiro que, como muitas empresas no país, estão sem gerar receita, o que pode afetar milhões de empregados. >
João Paulo Vergueiro, diretor-executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), pleiteou a inclusão das organizações da sociedade civil como beneficiárias das medidas. >
"A ABCR está aguardando resposta à nossa solicitação de forma a garantir a manutenção de empregos em todo o país", diz Vergueiro. >
Enquanto isso, as ONGs se reinventam para continuar seus atendimentos. >
"Reorganizamos nossas equipes e atividades, tomando diversas medidas para proteger a todos e seguir com nossa a missão", diz Edmond Sakai, diretor de Relações Institucionais, Marketing e Comunicação da Aldeias Infantis SOS Brasil. A organização atua no acolhimento de crianças e adolescentes e no fortalecimento de famílias em situação de vulnerabilidade social. >
"Estamos acostumados a atuar em situações de crise e temos que seguir protegendo e cuidando daqueles que, mais do que nunca, precisam do nosso apoio", completa Sakai. >
Na Casa Hope, que oferece apoio a crianças e adolescentes portadores de câncer e transplantados de medula óssea, fígado e rins, alguns mantenedores estão suspendendo suas doações, segundo Tatiana Caneloi, responsável pela captação de recursos. >
Além disso, todos os eventos previstos até setembro foram cancelados sem previsão para serem retomados, o que impacta diretamente na arrecadação de fundos para a entidade. >
Diante da perspectiva de confinamento da população pelos próximos meses, uma das alternativas é apostar no digital. "Apesar da suspensão das atividades, nossa equipe está trabalhando de forma intensa, criando conteúdos em vídeo que serão disseminados pelas redes sociais", afirma William Boudakian, diretor-executivo do Instituto Família Barrichello. >
A entidade, que combate a desigualdade e exclusão social por meio do esporte, suspendeu todos os atendimentos diretos para preservar especialmente os 1.800 idosos assistidos. >
Marcelle Medeiros, presidente da Fundação Laço Rosa, de combate ao câncer de mama, questiona: "Quem vai ajudar as ONG brasileiras a não falir?">
Marcelle Medeiros
Presidente da Fundação Laço RosaPara ela, o terceiro setor será o mais afetado pela pandemia, uma vez que, diante do impacto do coronavírus na atividade econôimica, restam poucas pessoas e empresas que possam e queiram doar para as organizações. >
"Esse setor precisa resistir e, mais do que isso, não sucumbir", afirma. "Cabe a cada cidadão apoiar as organizações com alimentos para quem tem fome e com recursos financeiros, permitindo que os trabalhos sigam em pé.">
A TdB lançou uma vaquinha online com a qual pretendem arrecadar, pelos próximos 48 dias, R$ 200 mil. O dinheiro será usado para pagar os funcionários da ONG, evitando o desemprego. Doe pela plataforma Kickante. >
Ajude o Cren a continuar combatendo a desnutrição infantojuvenil no Brasil. Doações devem ser feitas pelo site oficial da organização, https://cren.org.br. >
Voltada ao fortalecimento dos 17 milhões de jovens brasileiros que vivem em situação de pobreza ou pobreza extrema, a Aldeias Infantis SOS também está com campanhas de arrecadação durante a pandemia. Para doar, acesse o site oficial da entidade. >
Para apoiar o trabalho da ONG de apoio psicológico e social a crianças e adolescentes com câncer durante a crise, doe em https://hope.org.br. >
Por meio do esporte, o instituto fortalece comunidades e combate a desigualdade social. Financie suas ações em https://institutobarrichello.org.br. >
Faça parte do trabalho de auxílio e empoderamento de mulheres vítimas do câncer de mama. Doe dinheiro ou cabelo pelo site oficial. >
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