Publicado em 30 de julho de 2019 às 22:32
"Se o Imac (Instituto do Meio Ambiente do Acre) estiver multando alguém, me avisa (...). Me avisem e não paguem nenhuma multa, porque quem está mandando agora sou eu".>
O discurso é do governador do Acre, Gladson Cameli (PP), o estado amazônico com o maior aumento na taxa de desmatamento no primeiro semestre, segundo dados da ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).>
A declaração foi dada durante visita a Sena Madureira (145 km de Rio Branco), em 31 de maio. Em vídeo do evento, Cameli aparece afirmando que "não vou permitir que venham prejudicar quem quer trabalhar". Sob aplausos e batendo no próprio peito, reforçou: "Não paguem, quem manda sou seu".>
O Imac é o órgão ambiental do Acre. Além da fiscalização, suas atribuições incluem a emissão de licença ambiental e monitoramento. Seu principal objetivo é "ser o executor da política ambiental do Estado", segundo o site oficial.>
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De acordo com o sistema de monitoramento SAD, do Imazon, a área desmatada no Acre no primeiro semestre deste ano alcançou 65 km², contra 14 km² registrados no mesmo período de 2018 salto de 364%. Num distante segundo lugar, aparece o Pará, com 23% de aumento.>
Em toda a Amazônia, a área desmatada de janeiro a junho deste ano atingiu 2.061 km², diminuição de 19% em comparação com o primeiro semestre de 2010 (2.546 km²), sempre segundo o monitoramento do Imazon.>
A Folha solicitou à assessoria de Cameli o número de multas aplicadas pelo Imac no primeiro semestre deste ano e no mesmo período de 2018, mas não obteve resposta.>
Ex-senador, o pepebista rompeu 20 anos de hegemonia do PT no Acre ao se eleger governador no ano passado. Favorável à expansão do agronegócio e próximo do presidente Jair Bolsonaro, aponta como uma de suas prioridades expandir a soja no estado, hoje incipiente.>
Apesar de o discurso incentivar o desrespeito à lei, o Ministério Público Estadual não tomou nenhuma medida sobre as declarações, segundo o promotor Alekine Lopes dos Santos, responsável pela área ambiental.>
"O que há é um acompanhamento da atuação do Imac, tanto pelo MPE quanto MPF e, segundo declarado em reuniões, o governador foi esclarecido sobre a impossibilidade de o Imac deixar de agir dentro da legalidade. Inclusive, ele compreendeu e aceitou mudar o discurso", afirmou.>
Questionado pela Folha sobre a sua orientação para agir contra uma instituição do seu próprio governo, Cameli respondeu, por escrito: "Antes, nossos produtores rurais viviam traumatizados pelos excessos cometidos nas gestões anteriores, que ultrapassavam a própria legislação.">
"Nossos produtores não tinham esclarecimento quanto às leis. O que não se faz conhecido, não pode ser praticado. Vivemos na Amazônia e sabemos muito bem cuidar dela. E em nosso governo iremos respeitar a legislação, ampla e irrestritamente, sem constranger quem vive da terra, levando orientação para tornar suas atividades legais e promotoras de melhoria na qualidade de vida de quem vive no campo e do campo",afirmou o governador.>
Sobre o aumento do desmatamento no início do seu governo, Cameli afirmou que os dados oficiais, calculados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ainda não formam consolidados.>
"Em nosso governo, foi criado um Centro Integrado de Geoprocessamento, que nos concede a capacidade de acompanhar as taxas de desmatamento periodicamente. Vale ressaltar que o Acre está na quinta posição entre os estados da Amazônia em relação às taxas de desflorestamento", disse.>
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