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Na igreja de Malafaia, camisas da seleção e boatos contra os travestis

Na igreja de Malafaia, camisas da seleção e boatos contra os travestis

"Livra o Brasil das mãos de corruptos, de devassos morais, dessa gente que odeia o cristianismo", orou o pastor e líder da Igreja Assembleia de Deus

Publicado em 7 de outubro de 2018 às 22:39

Na igreja de Malafaia, antipetismo, camisas da seleção e boatos contra os travestis Crédito: Fernando Madeira/Arquivo

Camisa do Brasil e Bíblia debaixo do braço. É assim que muitos fieis se dirigiram ao culto matinal deste domingo. Na Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, as eleições eram o assunto principal. “Sabe como é, votei no Bolsonaro, achei melhorzinho”, comentou um homem ao atravessar o pátio do estacionamento que conduz ao interior da igreja. Dentro do templo, os quase 7.000 assentos já estavam ocupados. “Está cheio hoje, não é, irmã?”, perguntou uma senhora. “Acho que é por causa das eleições”, respondeu a outra.

Na entrada, vários colaboradores vestidos com paletó preto seguravam máquinas de cartão e recepcionavam os fiéis. Qualquer adiantamento do dízimo era bem-vindo. Um dos guardas ouvia com atenção a fala exaltada de um senhor. “Não dá para eleger de novo o PT, você sabe o que eles fizeram com o nosso país.” O outro concordou. Segurando uma das máquinas, uma das colaboradoras quis participar da conversa: “Nenhum candidato é bom na verdade, essa corja é tudo farinha do mesmo saco. Mas a gente tem que votar no que é o melhor entre esses todos, no que vai fazer algo para as nossas crianças”.

Na igreja, corriam rumores sobre os planos dos travestis para sabotar os eleitores de Bolsonaro. “É um complô, eles combinaram que vão arrancar o botão sete das urnas”, continua a auxiliar. Os que passam ao redor ficam revoltados. “Se Deus fez homem e mulher, como pode um homem dizer que é mulher?”, perguntou uma senhora. “É por isso que o Bolsonaro é o melhor. Ele é a favor de Deus, não dessas bagunças. Todo mundo devia votar nele”, concluiu um senhor.

A voz do pastor Silas Malafaia se sobressaía à da multidão. “Bom dia. Hoje é o dia da maior festa da democracia.” Gritos de “Aleluia” se espalhavam pela assembleia. Todos acompanhavam atentamente a fala do pastor pelos 12 telões espalhados no salão. Auxiliares passavam para recolher a oferta do dízimo enquanto o pastor apresentava as novas obras da igreja. Depois, a pregação da palavra. “Você quer ser vitorioso?”, perguntou Malafaia. “Então, você tem que se preparar para a oposição”. Um homem vestindo a camiseta do candidato Bolsonaro gritou “Amém”.

“Antes de orar pelos nossos próprios problemas, temos que orar pelas autoridades constituintes”, continuou o pastor. A igreja ficou em pé para orar. “Livra o Brasil das mãos de corruptos, de devassos morais, dessa gente que odeia o cristianismo. Dê sabedoria, inteligência, revelação, saúde e graça ao próximo presidente da República.” A assembleia irrompeu em aplausos e “glórias a Deus”.

Na saída, muitas conversas sobre as eleições. “Já decidiu em quem vai votar? Tem que ser ele, né”, perguntou uma moça para a amiga. “Se ainda não souber, é o Bolsonaro.” Uma família esperava, sentada, a multidão se dissipar. O filho, de aproximadamente sete anos, conversava com o pai. “O número do Bolsonaro é sete, né, pai?”, questionou.

Na porta da igreja, ninguém entregava propagandas de nenhum candidato, atitude proibida no dia das eleições. Mas vários grupos se reuniram no estacionamento para confirmar o número dos candidatos. Em um canto perto do banheiro, várias pessoas seguravam o panfleto de Bolsonaro. “Qual é mesmo o número do Samuel Malafaia?” perguntou uma senhora. Samuel, candidato a deputado estadual pelo DEM, é irmão do pastor.

Vários carros no estacionamento exibiam propagandas eleitorais com o rosto de Samuel e de Sóstenes Cavalcante (DEM), os dois apadrinhados pelo pastor. Do lado de fora da igreja, o chão estava coberto de santinhos dos candidatos. Quem passava com a própria cola eleitoral, ignorava. Quem ainda estava indeciso, olhava em busca de uma iluminação para eleger os próximos governantes.

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