Publicado em 15 de julho de 2020 às 16:30
Em audiência na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (15) , opositores do governo Jair Bolsonaro e lideranças indígenas repetiram que há um "genocídio" de comunidades tradicionais pela covid-19. A tese foi rejeitada pelo secretário de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, Robson Santos.>
"Dizer que governo federal não trabalhou, que não se fez nada, que há indígenas abandonados, genocídio, com números que estão sendo apresentados. Preciso discordar", disse o secretário.>
Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara afirmou que "não é exagero" falar em genocídio. "Momento é dramático e assustador com o avanço da covid-19 (em povos indígenas)". Ela afirmou que não há retrato fiel de contaminados pela falta de testes. Aqueles que são feitos, têm detectado o vírus, disse. "Onde joga o anzol, pesca covid.">
A tese de "genocídio" ganhou espaço no vocabulário de críticas contra o governo Jair Bolsonaro após falas de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). "É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso", disse o ministro, sobre a presença militares estarem à frente da gestão do Ministério da Saúde, em debate promovido pela revista IstoÉ no domingo, 11.>
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Gilmar ligou a fala sobre "genocídio" a mortes de indígenas, na terça-feira, 14, em debate do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). O ministro disse que a temática de "ameaça aos povos indígenas" é abordada com frequência na Europa e citou mobilização sobre o tema liderada pelo fotógrafo Sebastião Salgado. "Apontando que o Brasil pode estar cometendo genocídio. Então é este o debate", disse Gilmar.>
Como mostrou o Estadão, o medo de serem alvo de investigação por genocídio de povos indígenas em razão da acusação de inação diante da pandemia de covid-19 foi o que provocou a reação do Ministério da Defesa e dos comandantes das três Forças às declarações Gilmar.>
No debate da Câmara, nesta quarta-feira, 15, o secretário de Saúde Indígena disse "refutar" a tese de genocídio. "Estou aqui para promover saúde. Não sou criminoso de guerra. Não vejo isso no governo. Está totalmente fora", declarou.>
O governo e lideranças indígenas apresentam dados divergentes sobre a covid-19. Enquanto o Ministério da Saúde aponta 10.517 infectados e 216 mortos, a Apib afirma que são 15.180 infectados e 517 óbitos.>
O secretário da Sesai afirma que algumas entidades somam aos boletins dados de pessoas que, pela legislação, não são cobertos por ações para saúde indígena.>
"Os dados não são aleatórios, para desmoralizar", rebateu Mario Nicacio, vice-coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab). Santos também afirma que não há provas de que profissionais de saúde levaram a doença para dentro das aldeias, como apontam algumas lideranças indígenas.>
A deputada Joênia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena na Câmara, apontou preocupação com avanço da mineração ilegal em áreas de comunidades tradicionais. "Tem contribuído para a contaminação", disse. Wapichana também reforçou suspeitas de que agentes de saúde podem ter levado a doença. "Chegou em locais só acessados por avião.">
O secretário Robson Santos negou que o governo federal levou para aldeias Yanomami, em Roraima, comprimidos de cloroquina para enfrentar a covid-19, tratamento que não tem eficácia comprovada, mas é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. Segundo o secretário, a droga é entregue em todos os anos na região para o combate à malária, indicado na bula do fármaco.>
Deputados da oposição defenderam derrubada de vetos feitos por Bolsonaro em lei que define medidas para combater o avanço do novo coronavírus entre indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Entre os pontos rejeitados pelo presidente, está garantir o acesso universal à água potável, distribuir gratuitamente materiais de higiene, de limpeza e de desinfecção das aldeias, e ofertar leitos hospitalares e de unidade de terapia intensiva (UTI) e ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea.>
"A postura de vetar é sim genocida", disse o deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP).>
O secretário Robson Santos disse que manter o texto original da lei pode sobrecarregar a Sesai e tornar a gestão da Saúde Indígena "inexequível". "Teremos umas 150 comunidades, em reconhecimento, que serão atendidas." Ele disse ainda que há trabalho de perfuração de poços e tratamento de água, ao justificar um dos vetos. "O que vejo é questão que vai trazer a União alguns deveres que cabem aos Estados e municípios.">
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