Publicado em 6 de fevereiro de 2020 às 20:36
Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes fizeram ressalvas à possibilidade, aventada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), de a Mesa Diretora da Casa deixar de cumprir a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de cassar o mandato da senadora Juíza Selma (PODE-MT). >
"O tribunal [TSE] comunica [o Senado sobre a cassação] e claro que se presume a observância", disse Marco Aurélio nesta quinta-feira (6), ao chegar para a sessão do Supremo.>
"Pela Constituição, [a análise da Mesa do Senado] não é um ato simplesmente formal. Claro que se imagina uma harmonia [entre os Poderes], e não um descompasso", afirmou, ressalvando que é preciso analisar o caso e suas peculiaridades.>
"Eu tenho a impressão que isso [decisão da Mesa do Senado] é apenas análise do cumprimento das formalidades, se de fato se fez um julgamento correto, se estavam todos os juízes", disse, mais enfaticamente, Gilmar Mendes.>
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Questionado sobre se o Senado pode decidir manter o mandato de Selma, Gilmar respondeu que entende que não.>
"Eu estava ouvindo algumas manifestações, de que devíamos esperar o Supremo [se manifestar sobre o caso] em matéria eleitoral. E são os mesmos personagens que defendem o cumprimento da decisão após condenação em segunda instância", completou.>
"Nesse caso [de Selma], já houve uma decisão do TRE [Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso] e do TSE. O velho Machado [de Assis] já dizia: 'A melhor forma de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo nas mãos'. E a gente acrescenta: 'o chicote muda de mãos, aqui eu estou pedindo o exaurimento das instâncias'.">
A senadora Juíza Selma foi eleita em 2018 com forte discurso anticorrupção, o que lhe rendeu o apelido de "Moro de saias", em referência a Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato. Selma e seus aliados eram favoráveis à prisão de condenados em segunda instância, barrada no ano passado pelo STF.>
Selma foi condenada em dezembro pelo TSE por por abuso de poder econômico e captação ilícita de recursos durante a campanha eleitoral. Seus suplentes também foram cassados, o que fez a Justiça Eleitoral marcar para abril uma nova eleição para a preencher a vaga que a ex-juíza deverá deixar no Senado.>
Em janeiro, contudo, o presidente do STF, Dias Toffoli, concedeu liminar (decisão provisória) para que Carlos Fávaro (PSD), o candidato a senador mais bem votado por Mato Grosso entre os não eleitos, ocupe interinamente o cargo.>
Conforme o voto dos ministros do TSE em dezembro, a corte notificou o Senado para que efetivasse a saída de Selma. Alcolumbre, presidente da Casa, disse a jornalistas que tem dúvidas sobre se a Mesa Diretora é obrigada a acatar a decisão judicial.>
"Eu também tenho dúvida, porque no último caso concreto [cassação do senador João Capiberibe em 2005], a Mesa manteve a decisão. Se acontecer de a votação da Mesa não seguir a decisão do tribunal, será o primeiro fato concreto em relação a isso", disse Alcolumbre.>
A Constituição diz que, quando a Justiça Eleitoral decretar a perda do mandato de deputado ou senador, a cassação "será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa".>
Para Alcolumbre, a Mesa pode, sim, entender que a cassação não foi uma decisão correta. No entanto, ele afirmou não saber como proceder caso isso aconteça.>
Questionada por jornalistas nesta quinta, a ministra Rosa Weber, integrante do Supremo e presidente do TSE, preferiu não comentar o caso da Juíza Selma, para não antecipar seu juízo.>
Nesta quarta-feira (5), paralelamente ao caso de Selma no Senado, o plenário da Câmara dos Deputados, em decisão inédita, anulou uma decisão do Supremo que afastou do mandato o deputado Wilson Santiago (PTB-PB).>
O placar mostrou 170 votos favoráveis à decisão do STF -eram necessários ao menos 257- e 233 contrários, em consonância com o relatório do deputado Marcelo Ramos (PL-AM). Houve 7 abstenções e 102 ausências, que contaram, na prática, a favor de Santiago.>
Santiago foi afastado do mandato no final de dezembro passado por decisão do ministro Celso de Mello, decano do STF, sob o argumento de que a sua manutenção no cargo representava ameaça às investigações.>
O parlamentar é acusado pelo Ministério Público de desviar verbas de obras contra a seca no sertão da Paraíba. Contra ele há vídeos gravados pela Polícia Federal indicando a suspeita de que propina foi entregue em seu gabinete e em seu apartamento.>
Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão em sua casa em João Pessoa, a Polícia Federal encontrou um aparelho celular escondido em uma caixa de remédio, dentro de um frigobar.>
Segundo os ministros Marco Aurélio e Gilmar Mendes, a decisão da Câmara de suspender a decisão do STF é constitucional e não gerará rusgas entre os Poderes Judiciário e Legislativo.>
"O texto constitucional prevê expressamente a participação de cada uma das Casas [Câmara ou Senado] quando houver prisão em flagrante. Depois, houve a evolução para essas medidas alternativas [como afastamento do mandato], e da mesma forma a Casa é soberana para fazer esse tipo de avaliação", disse Gilmar.>
"A própria Constituição prevê mais do que isso, que a Casa do parlamentar pode suspender o processo crime, pode afastar a prisão em flagrante", afirmou Marco Aurélio.>
"É um sistema de peso e contrapeso, de independência e harmonia entre os Poderes. Não há desrespeito [ao Judiciário]. Faz parte do jogo do democrático.">
O presidente do Supremo, Dias Toffoli, não comentou.>
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