Publicado em 30 de agosto de 2023 às 17:36
O líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA), afirmou nesta quarta-feira (30) que deve tirar da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) a proibição de que militares da ativa assumam cargos de ministros de Estado.>
"O diálogo sempre faz isso, a gente evoluir na posição. Realmente, originalmente tinha a inclusão de ministros. Na evolução do diálogo, se percebeu que seria uma medida discriminatória, que não é um interesse nosso, e portanto a gente tirou" disse Wagner após reunião no Ministério da Defesa.>
Com a desidratação, a PEC somente proibirá que militares da ativa se candidatem a cargos políticos. O texto, negociado e escrito pelo governo, será protocolado por Wagner no Senado após conseguir 27 assinaturas.>
A reunião desta quarta teve a presença dos ministros José Múcio Monteiro e Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), de Wagner, e dos senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Renan Calheiros (MDB-AL).>
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Segundo Wagner, não seria justo tratar numa mesma PEC dois assuntos considerados por ele distintos: militares que desejam se candidatar e a intenção do presidente de designar um fardado para o primeiro escalão do governo.>
"No governo anterior aconteceram muitos casos, mas é uma discricionariedade do presidente da República. Se o presidente quiser convocar, o seu ministro da Defesa será consultado, poderá dizer que não acha bom porque quebra a hierarquia. Mas não vou tratar o processo eleitoral, que é um ato voluntário de cada membro das Forças Armadas, da mesma forma que um ato que depende do presidente da República", disse.>
A decisão de enviar a PEC dos militares ao Senado foi tomada na segunda-feira (28), cinco meses após a proposta ter sido apresentada por Múcio ao Palácio do Planalto.>
As novas regras, que dependem da aprovação do Congresso, foram idealizadas por Múcio durante conversa com os comandantes Tomás Paiva (Exército), Marcos Olsen (Marinha) e Marcelo Damasceno (Aeronáutica).>
Tratava-se de uma estratégia para mostrar que o governo estava lidando com a crise da politização nas Forças.>
O foco principal, porém, era esfriar uma ofensiva da ala do PT que queria, numa mudança mais drástica para os militares, extirpar as operações da Garantia da Lei e da Ordem das atribuições das Forças.>
A minuta da PEC que transfere os militares com interesses políticos para a reserva, revelada pela Folha de S.Paulo, mostra o interesse de Múcio e Flávio Dino (PSB), ministro da Justiça, para garantir a "neutralidade política das Forças Armadas".>
"O texto constitucional veda aos militares, por exemplo, a sindicalização e a greve, bem como a filiação a partido político enquanto estiverem na ativa. Além disso, tendo em vista a relevância da atividade militar, o ordenamento jurídico lhes impõe restrições à cumulação de cargos, bem como ao exercício de cargo, emprego ou função pública civil temporária", diz trecho da minuta.>
Para os ministros, as regras atuais não garantem a isenção política dos quartéis. "Entende-se que, para garantir a neutralidade política das Forças Armadas, faz-se mister adotar cautelas adicionais", diz o documento.>
"Com esse objetivo, propõe-se que o militar em serviço ativo, estável, que queira se candidatar a cargo eletivo, seja transferido para a reserva no ato do registro da candidatura", afirmam.>
Para evitar casos como o do governo de Jair Bolsonaro (PL), que colocou militares da ativa em cargos estratégicos do Executivo, a proposta original de José Múcio ainda criava uma "vedação para que eles ocupem cargos de Ministro de Estado, enquanto estiverem na ativa".>
A proibição, no entanto, será retirada do texto a pedido dos senadores.>
Na gestão de Bolsonaro, os generais Eduardo Pazuello e Luiz Eduardo Ramos atuaram como ministros da Saúde e da Secretaria de Governo, respectivamente, ainda nos quadros ativos do Exército.>
Ramos deixou a Força após pressão política, e Pazuello decidiu permanecer na ativa mesmo diante de críticas. Na pré-campanha de Bolsonaro à reeleição, o ex-ministro da Saúde chegou a participar de uma motociata promovida por apoiadores do ex-presidente e saudou, ao microfone, os manifestantes.>
A participação de Pazuello foi alvo de uma investigação no Exército, para possível punição por desrespeito ao Estatuto Militar. O comando da Força, no entanto, decidiu não punir o militar.>
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