Publicado em 14 de março de 2025 às 17:44
A Justiça de Alagoas condenou a Hapvida, uma clínica e dois médicos a pagar R$ 80 mil de indenização por danos morais a uma paciente após um exame de ultrassom transvaginal, que teria causado a ruptura do hímen. O caso aconteceu em 2021. Conforme a decisão desta segunda-feira (10), houve negligência e imprudência e o exame teria sido invasivo e desnecessário, causando sofrimento físico, emocional e psicológico à mulher.>
Por meio de nota, a Hapvida disse que a prioridade da companhia é o compromisso com a saúde e bem-estar dos pacientes e informou que o processo segue sob segredo de justiça. Os advogados Marcelo Herval e Lucas Albuquerque, responsáveis pela defesa da profissional que prescreveu o exame, salientaram que a ginecologista seguiu rigorosamente o protocolo médico pertinente às queixas apresentadas pela paciente, considerando a persistência dos sintomas e refratariedade a outros procedimentos realizados por ela.>
"Além disso, não houve perda da virgindade da paciente. Consta nos autos do processo um laudo pericial subscrito pelo Instituto Médico Legal (IML), realizado horas após o exame, o qual atesta, de forma categórica, que o hímen da paciente encontrava-se íntegro, sem qualquer sinal de violação e que, portanto, a paciente ainda permanecia virgem", diz trecho enviado à reportagem.>
Já a defesa do médico que realizou o procedimento, composta pelo advogado Diego Bugarin, reiterou que o ultrassonografista agiu cuidadosa e rigorosamente dentro dos protocolos exigidos, apenas realizando o exame requisitado pela médica que examinou o paciente. "A decisão afirma que o procedimento acarretou na perda da virgindade, porém o laudo trazido nos autos pelo IML afirma que o hímen encontrava-se íntegro", reiterou.>
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Procurada, tanto a defesa da paciente quanto a da Hapvida não responderam aos contatos. Na decisão judicial, é estabelecido que o exame foi realizado sem que a autora tivesse conhecimento do procedimento, o que resultou na perda da virgindade da paciente.>
"A autora descreveu o sofrimento causado tanto fisicamente quanto psicologicamente pela realização do exame e pela desconsideração de sua condição pessoal de virgindade. Os médicos ouvidos em audiência, por sua vez, mantiveram suas defesas, mas não apresentaram argumentos sólidos para justificar o erro cometido no atendimento. Ambos os médicos confirmaram que a autora foi encaminhada para o exame de ultrassonografia, mas não esclareceram de maneira satisfatória a razão pela qual o procedimento invasivo foi realizado, considerando a condição de virginidade da paciente", escreveu o juiz Maurício César Breda Filho, da 5ª Vara Cível da Capital.>
O exame de ultrassom transvaginal utiliza um transdutor, que passa de forma profunda pelo canal vaginal, para melhor visualização de útero e ovários. À Folha a ginecologista e obstetra Lavici Garbini explica que o procedimento apresenta o risco da ruptura de hímen para mulheres virgens. "Perder a virgindade é um termo popular para a ruptura do hímen. São sinônimos", diz.>
Embora não exista um protocolo para esse caso específico, há alternativas para que se tenha um diagnóstico. Segundo ela, a opção seria realizar a ultrassom pela via pélvica, mesmo que haja prejuízo na qualidade do exame. O hímen é uma membrana mucosa fina que fica na entrada da vagina. Ele não tem função fisiológica, sendo um remanescente embrionário.>
Relações sexuais, uso de absorventes internos e masturbação estão entre as causas de ruptura de hímen, mas, nem sempre isso acontece, porque existem os hímens elásticos, chamados de complacentes. Para se identificar se houve a ruptura himenal, é necessário um exame de conjunção carnal, perícia que é realizada somente por médicos peritos especializados.>
No laudo pericial, obtido pela reportagem, está relatado que a paciente fez o exame de corpo de delito no mesmo dia em que teria passado pelo exame ginecológico. Nele, teria sido introduzido um espéculo na vagina e isso poderia ter resultado na perda da virgindade. De acordo com as conclusões do exame no IML, o hímen estava íntegro e não foram encontrados sinais de conjunção carnal ou sexo anal.>
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