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Jovem de 15 anos é primeiro ianomâmi a morrer após contrair coronavírus

Jovem de 15 anos é primeiro ianomâmi a morrer após contrair coronavírus

O contágio do adolescente aumentou a apreensão de que se repita a tragédia provocada pela "invasão garimpeira", entre os anos 1960 e 1980, que resultou na morte de cerca de 15% da população

Publicado em 10 de abril de 2020 às 10:58

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Coronavírus: Índios expulsaram garimpeiros e fizeram bloqueio em via de acesso ao Território Indígena do Xingu, em Mato Grosso
Coronavírus: Indígenas já expulsaram garimpeiros e fizeram bloqueio em via de acesso ao Território do Xingu, em Mato Grosso. (Associação Terra Indígena Xingu/Divulgação)

O adolescente Alvanei Xirixana, 15, o primeiro ianomâmi contaminado pelo novo coronavírus (Covid-19), morreu na noite desta quinta-feira (9), no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista. Ele estava internado na UTI havia seis dias.

Xirixana é da aldeia Rehebe, às margens do rio Uraricoera, região de entrada para alguns milhares de garimpeiros ilegais que exploram ouro dentro da Terra Indígena Yanomami (AM/RR). Ele estava ali quando seu estado de saúde piorou e foi transferido para Boa Vista.

O contágio do adolescente aumentou a apreensão entre os ianomâmis de que se repita a tragédia provocada pela "invasão garimpeira", entre os anos 1960 e 1980, que resultou na morte de cerca de 15% da população, principalmente por causa do sarampo, uma doença viral.

Com o preço em ascensão do ouro e as promessas do presidente Jair Bolsonaro de legalizar o garimpo, os ianomâmis têm denunciado o aumento de invasores em seu território. A estimativa da associação Hutukara é de que haja cerca de 25 mil garimpeiros ilegais.

Em nota, o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, vinculado ao Ministério da Saúde, informou que a causa da morte ainda não havia sido confirmada pelo hospital. 

O adolescente é o terceiro indígena vítima do coronavírus. O Instituto Socioambiental (ISA) relatou dois indígenas moradores de cidades mortos em decorrência do novo coronavírus: uma idosa do povo Borari, em Alter do Chão (PA), e um homem do povo mura, em Manaus.

Por não morar em terra indígena, eles não eram atendidos e não foram contabilizados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde.

A Sesai registrou outros quatro casos de contaminação por Covid-19, todos da etnia kokama, em Santo Antônio do Içá (AM).

A primeira internação de Xirixana ocorreu no dia 17 de março, em Alto Alegre, com suspeita de meningite. Transferido no dia seguinte para Boa Vista, alternou entre a Casa de Saúde Indígena (Casai) e o hospital Geral de Roraima (HGR). Cerca de uma semana depois, com as aulas suspensas, voltou para a sua aldeia natal, onde moram os pais.

No dia 26, quando estava na aldeia, a saúde piorou. Na última sexta-feira (3), em estado grave, o jovem foi levado de volta ao HGR, em Boa Vista, com sintomas de doença respiratória. Desde então, permaneceu internado na UTI. O resultado positivo para a Covid-19 só apareceu no segundo teste, concluído nesta terça (7).

O Dsei informou que está identificando e isolando ianomâmis da aldeia Rehebe com sintomas de coronavírus e que, até esta sexta-feira (10), serão enviados 20 testes rápidos. Outras medidas serão tomadas caso se verifique transmissão local, como a criação de espaços para isolamento e de uma barreira sanitária de acesso.

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