Publicado em 27 de março de 2020 às 20:59
Adotar estratégias radicais de isolamento social para conter novo coronavírus pode salvar mais de 1 milhão de vidas no Brasil, aponta estudo feito por uma equipe de 30 cientistas do Imperial College de Londres. >
No trabalho divulgado nesta quinta (26), os especialistas em doenças transmissíveis calcularam o número de infectados, pacientes graves e mortos em cinco cenários de disseminação do vírus no Brasil.>
Sem medidas de isolamento social que reduzam a transmissão, o Brasil pode ter até 1,15 milhão de mortes provocadas pela doença, chamada de Covid-19. No cenário de restrições mais drásticas e precoces, as mortes seriam 44 mil.>
Estudo semelhante feito pelos pesquisadores para os Estados Unidos e o Reino Unido, na semana passada, mostrou que o sistema público dos países entraria em colapso se não fossem adotadas medidas de restrição de circulação.>
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Os dados fizeram o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, acelerar a adoção de medidas mais duras para conter a pandemia.>
Estimativas como as feitas pelo Imperial College baseiam-se em premissas que podem ser imprecisas quando aplicadas de maneira geral a cada país.>
O resultado, porém, é importante para estimar a ordem de grandeza do impacto de diferentes estratégias, e permitir o planejamento e o reforço dos sistemas de atendimento.>
O principal objetivo do isolamento social é impedir que o número de doentes leve os hospitais ao colapso, provocando mortes em excesso. O Brasil tem 46 mil leitos de UTIs com respiradores, capacidade que só não será superada na hipótese mais radical de intervenção.>
Trajetória do coronavírus no mundo
Cenário em que a vida segue normalmente. Dessa maneira, o coronavírus contagiará 188 milhões de brasileiros, dos quais 6,2 milhões terão que ser hospitalizados e 1,5 milhão precisará ser internado em UTI.>
Neste caso, o número de mortes estimado é de 1.152.283.>
No caso de adoção de medidas como proibição de eventos, redução na circulação, restrição a encontros, uma estratégia mais branda e operacionalmente mais viável que as duas seguintes, o número de mortes chega a 627 mil brasileiros, nos cálculos do Imperial College.>
São infectados 122 milhões de brasileiros, dos quais 3,5 precisarão de hospitalização e 831 mil terão que ocupar uma UTI.>
Protegendo os idosos, parcela da população mais suscetível a complicações e mortes provocadas pelo coronavírus, o número de mortes chega a 530 mil, nos cálculos dos cientistas. Nesse cenário eles só devem sair de casa apenas em situação de absoluta necessidade.>
São infectados 121 milhões de brasileiros, 3,2 milhões precisam ser hospitalizados e 702 mil ficam em estado crítico, que requer tratamento em UTI.>
Além de determinar o distanciamento social de toda a população, são feitos testes massivos, os casos positivos são isolados e os que tiveram contato com eles, monitorados. É o que fez a Coreia do Sul. As medidas são aplicadas quando há 1,6 morte por 100 mil habitantes por semana. Nesta semana, a taxa de mortes por 100 mil por semana brasileira foi 0,04.>
Essa abordagem mais rigorosa reduz o número de mortes a 206 mil. São contaminados 49,6 milhões de brasileiros, dos quais 1,2 milhão precisarão ser internados em hospitais, e 460 mil terão necessidade de cuidados intensivos. No pico da pandemia, a necessidade será de 460 mil leitos de hospital e 97 mil leitos de UTI.>
Estratégia semelhante à do cenário 4, mas com medidas aplicadas quando ocorre 0,2 morte por 100 mil habitantes por semana. Por ser o mais rigoroso, é o que mais reduz a sobrecarga dos hospitais e o número de mortes.>
Nessa abordagem mais radical, morreriam 44 mil brasileiros. Seriam infectados pelo coronavírus 11 milhões de pessoas, das quais 250 mil precisariam de hospitalização e 57 mil, de UTI. No pico da pandemia, a necessidade de leitos de hospital seria de 72 mil; de UTIs, 15 mil.>
Os cálculos consideram que, se circular livremente, o coronavírus Sars-Cov-2 pode infectar cerca de 80% da população do país.>
Das pessoas infectadas, boa parte não apresentará sintomas ou terá sintomas leves o suficiente para se tratar em casa. Cerca de 20% precisarão de hospitalização, e 5% dos casos se tornarão graves, com complicações que exigirão internação em UTI e uso de aparelhos de respiração.>
Metade dos casos críticos leva à morte, de acordo com os pesquisadores, com base na evolução da pandemia nos países em que ela está em estágio mais avançado, como a China e a Itália.>
O número de mortes cresce proporcionalmente quando mais gente é contagiada, porém, por dois motivos: os casos graves de coronavírus superam a capacidade de atendimento intensivo, deixando parte dos doentes sem o cuidado necessário, e o caos nos hospitais provoca a morte de outros doentes graves.>
Os autores do estudo ressalvam que, para estimar a evolução da doença, levaram em conta padrões de contágio dos países mais ricos.>
Como a transmissão depende da densidade populacional e da frequência de encontros, a velocidade de contágio pode variar de acordo com o local.>
Em lugares em que muitas pessoas dividem o mesmo espaço, como em favelas, onde as condições de higiene e saneamento são precárias ou onde o sistema de saúde tem menos recursos, a situação pode ser mais grave que a estimada.>
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