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Governo vê rejeição recorde de Bolsonaro como reflexo das mortes

Governo vê rejeição recorde de Bolsonaro como reflexo das mortes

Datafolha apontou que 54% dos brasileiros veem a atuação de Jair Bolsonaro no combate à pandemia e seus efeitos como ruim ou péssima

Publicado em 17 de março de 2021 às 14:06- Atualizado há 3 anos

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Presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro. (Marcos Corrêa/PR)

Assessores diretos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atribuem o pico de rejeição da gestão durante a pandemia, apontado pelo Datafolha nesta quarta-feira (17), aos recordes diários de mortes por Covid-19 nos últimos dias no país.

No Palácio do Planalto, um ministro diz que já esperava por este resultado e que o entendimento é o de que o momento é de ações práticas para tentar controlar a pandemia.

Um evento que aconteceria na tarde desta quarta-feira foi cancelado, e o governo informou que o presidente irá ao Congresso entregar pessoalmente a medida provisória que possibilita o pagamento de uma nova rodada do auxílio emergencial, que alavancou a popularidade de Bolsonaro no ano passado.

No Legislativo, questionados sobre o resultado da pesquisa Datafolha, parlamentares também relataram já esperar a deterioração política de Bolsonaro diante da condução do enfrentamento à pandemia pelo governo.

"Vivemos um momento muito delicado, muito difícil para a vida nacional. Então, é natural que as pessoas reajam com certa descrença em relação a tudo isso que está acontecendo, não só em relação ao governo, mas às instituições de um modo geral", disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Um dos principais conselheiros do presidente no Planalto avaliou à Folha, sob reserva, que o pior momento da pandemia é também o pior momento do governo e que não há mudanças a curto prazo a serem feitas para melhorar a imagem de Bolsonaro.

Um ministro disse entender que não é hora de fazer nenhuma campanha de comunicação, porque, nada que não seja cuidar da saúde será percebido pela população neste momento.

Ao mesmo tempo em que o país chega a 282.400 óbitos por Covid-19, sendo 2.798 mortes em apenas 24 horas, a pesquisa Datafolha apontou que 54% dos brasileiros veem a atuação de Jair Bolsonaro no combate à pandemia e seus efeitos como ruim ou péssima.

O dado foi aferido na mesma semana em que foi apresentado o quarto ministro da Saúde de seu governo, o cardiologista Marcelo Queiroga. Na pesquisa passada, realizada em 20 e 21 de janeiro, 48% reprovavam o trabalho de Bolsonaro na pandemia.

Na rodada atual do Datafolha, o índice daqueles que acham sua gestão da crise ótima ou boa passou de 26% para 22%, enquanto quem a vê como regular foi de 25% para 24%. Não opinaram 1%.

O instituto ouviu por telefone 2.023 pessoas nos dias 15 e 16 de março. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

A má imagem do presidente, que dificultou o início do ora lento processo de vacinação, impacta diretamente a avaliação geral de seu governo. Segundo aferiu o Datafolha, ela segue no pior nível desde que Bolsonaro assumiu, em 2019.

Reprovam o presidente 44%, uma oscilação positiva quase saindo do limite da margem de erro ante os 40% registrados em janeiro. A aprovação e o julgamento como regular seguem estáveis, de 31% para 30% e de 26% para 24%, respectivamente.

O cenário agora repete o pior já registrado, em junho do ano passado, embora seja notável a manutenção da base de apoio do presidente em cerca de um terço da população, apesar da crise.

Nas duas medições seguintes, sob o impacto do auxílio emergencial, visitas ao Nordeste e o arrefecimento do embate institucional por parte de Bolsonaro, o presidente viu sua popularidade crescer.

Desde a semana passada, quando lançaram o que informalmente foi batizado de "Plano Vacina", Bolsonaro, ministros e a família presidencial se empenham na defesa da imunização, contrastando com o discurso anti-vacina que era adotado até pouco tempo atrás.

Além disso, integrantes do governo repisam insistentemente balanços de ações feitas pelo Executivo no âmbito da pandemia.

Logo no início da manhã desta quarta-feira, Bolsonaro compartilhou em uma rede social um vídeo da Casa Civil que enumera medidas ao longo de um ano de crise sanitária. "Contra as sujas narrativas, mais verdades!", escreveu Bolsonaro junto ao vídeo de 2 minutos e 20 segundos.

"O governo federal continuará a salvar vidas e preservar empregos com foco na retomada do caminho da prosperidade. Juntos, venceremos mais este desafio e seguiremos o nosso rumo em direção ao progresso", diz a narradora do vídeo.

Antes das 10h, o governo também informou o cancelamento da cerimônia onde um programa ministerial lançado no ano passado seria transformado em programa governamental.

Ao contrário do que acontece em outros Poderes, o governo federal tem insistido em eventos presenciais. Como o presidente é contrário ao uso de máscara, servidores relatam, sob condição de anonimato, que se sentem constrangidos de usar o equipamento de proteção durante o trabalho.

SERVIDOR DO PALÁCIO MORREU DE COVID-19

O Palácio do Planalto confirmou na terça-feira (16) que um servidor da sede do Executivo morreu de Covid-19. De março do ano passado a fevereiro deste ano, 454 servidores do Planalto foram infectados pelo novo coronavírus, segundo a Secretaria-Geral da Presidência da República.

Apesar do cancelamento da cerimônia, o governo anunciou também que Bolsonaro vai retomar sua agenda de viagens, interrompida na semana passada.

Na sexta-feira (19), o presidente vai a Itaguaí (RJ) inaugurar uma linha de produção de torres de transmissão de energia e entregar os últimos acumuladores à usina nuclear Angra 3.

Nestas viagens, o próprio presidente divulga em suas mídias sociais situações de aglomeração, apesar do colapso da rede de saúde em vários estados.

Na terça-feira, a Fiocruz divulgou boletim que aponta maior o colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil.

O levantamento mostra que das 27 unidades federativas, 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%.

Diante de todo este contexto, a reação no Congresso também não foi de surpresa com o impacto do momento na imagem do chefe do Executivo.

O presidente do Senado afirmou que é "natural" que a população questione as instituições de uma maneira geral por causa do momento que o Brasil atravessa na pandemia.

"O que nos cabe enquanto Poderes constituídos é buscar a credibilidade junto à sociedade e isso se faz através de trabalho, de ações e isso é o que o Senado e o Congresso Nacional têm buscado fazer", completou.

Na mesma linha, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que a pesquisa Datafolha oferece uma percepção da população em relação à pandemia e não ao governo.

"É uma avaliação do contexto e não do governo. Se você avaliar o contexto em que está sendo realizada a pesquisa, o que está sendo avaliado é a gravidade da doença, o que não é novidade nem no Brasil e no mundo inteiro".

"Então, a gente sabe que a população está apavorada, está todo mundo em estado de choque. Não é o melhor momento para aferir a popularidade e eficácia de ninguém".

Para o líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS), a pesquisa serve de alerta para que o governo tome medidas efetivas.

"Entendo que a pesquisa reflete exatamente a situação que nós estamos atravessando frente ao combate da pandemia do coronavírus e compreendo também que isso só será revertido também se o governo conseguir trazer mais vacinas, fazer uma vacinação em massa na população brasileira", afirmou.

"Pesquisa é momento e serve de sinal amarelo para quem tem projetos políticos futuros", disse Trad.

A relação do governo com o Congresso, especialmente com o centrão, já estava abalada desde o início da semana, após as indicações do bloco para o sucessor do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde foram preteridas para dar lugar a um nome associado ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Além disso, a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao jogo político tende a rachar o centrão antes mesmo das eleições de 2022.

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