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Governo deseja abrir Palácio Laranjeiras à visitação, mas esbarra em falta de recursos

Governo deseja abrir Palácio Laranjeiras à visitação, mas esbarra em falta de recursos

Alternativa, segundo o governador Pezão, seria ajuda de patrocinadores

Publicado em 1 de julho de 2018 às 14:08

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Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro. (Shana Reis/Sec. Cultura RJ)

RIO - No fim da década de 1960, um dos dois vasos de mármore de Carrara que faziam parte da ornamentação da entrada do imponente Palácio Laranjeiras se quebrou. Parte dos cacos desapareceu. O outro passou mais de 50 anos abandonado num depósito. Mas, em breve, as peças voltarão a ser expostas, enfeitando novamente o lugar em que foram colocadas no início do século XX.

Os vasos ficarão diante de um par de leões. Em tamanho natural, eles também foram feitos em mármore de Carrara e se impõem logo na entrada, dando guarda à residência oficial dos governadores. A peça que havia se espatifado foi recriada graças a jovens moradores de comunidades carentes. Eles participam da primeira oficina de restauro oferecida pelo RioSolidário, a obra social do estado que é presidida pela primeira-dama Maria Lucia Horta Jardim.

Há dois meses, a arte do restauro é ensinada por funcionárias da Secretaria da Casa Civil -- duas arquitetas e quatro assistentes -- no amplo subsolo do Palácio Laranjeiras, onde, no passado, teria funcionado um alojamento para cavalos. Além de dar aulas, o grupo está encarregado de recuperar o mobiliário e os chamados elementos pétreos (feitos em pedra), que não foram contemplados na recém-concluída reforma do prédio em formato de "Y", erguido entre 1910 e 1913 para ser moradia da família do excêntrico empresário Eduardo Guinle. Em 1947, o imóvel foi comprado pela União para ser a residência oficial da Presidência da República e, em 1975, com a fusão do Rio de Janeiro e da Guanabana, acabou sendo doado ao governo estadual.

NÚMERO PEQUENO DE FUNCIONÁRIOS

Com o serviço de restauro avançado, o governador Luiz Fernando Pezão e Maria Lucia sonham em abrir o palácio para visitação. Contudo, esbarram na falta de recursos para ampliar a segurança e os serviços de manutenção. A primeira-dama diz que espera conseguir apoio: "O ideal seria contarmos com um patrocinador. Mesmo para uma visita guiada, de seis a oito pessoas, haveria custo. Precisaríamos aumentar a estrutura. Hoje, temos quatro pessoas para fazer a limpeza; o palácio precisa de 12. Para cuidar dos jardins, que são grandes, há três funcionários".

Pezão também se derrete pelo lugar: "Gostaríamos muito de abrir o palácio à visitação, por ser um bem público de beleza rara, que deve ser apropriado pela população. Hoje, o governo não tem como fazer isso, mas é um grande desejo que alimentamos".

Erguido no alto do Morro Nova Cintra e com suas seis águias em bronze no topo, o Laranjeiras respira beleza, riqueza de detalhes, ostentação e história. O seu acervo de mais de 550 peças -- sem incluir a prataria e os utensílios de copa -- impressiona. Em estilo eclético, com predominância francesa, foi construído com material importado, que chegou à cidade de navio.

Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro. (Shana Reis/Sec. Cultura RJ)

ARQUITETURA E ACERVO ORIGINAIS

Espalhados pelos cômodos, entre as 40 telas, há obras de Frans Post, Taunay e Moretto de Brescia. No interior e na área externa, são 41 esculturas. Pelas dependências da edificação, encontram-se mosaicos de mármore e de cerâmica e objetos de madeira com aplicações em ouro 24 quilates. E foram os decoradores da Maison Bettenfeld, empresa francesa de fabricação de móveis finos, que criaram grande parte do mobiliário.

"O Laranjeiras é um dos poucos palácios no Brasil que têm arquitetura e acervo originais. Existem outros maravilhosos, mas boa parte de seus acervos não são originais. Até o Museu Imperial, em Petrópolis, está inserido nesse contexto, pois reúne peças que foram da Família Real", ressalta a arquiteta Simone Algebaile, da Secretaria da Casa Civil, especialista em restauração.

Simone, coordenadora da restauração do Laranjeiras, conta que, quando o trabalho começou, em fevereiro de 2016, havia 80 peças do acervo completamente abandonadas: "Recuperamos, no total, cerca de 200. Hoje, temos 15 em mau estado de conservação".

Os 40 jovens, de 17 a 27 anos, que fazem o curso de restauro, estão no seleto grupo que hoje tem acesso ao palácio. Divididos em duas turmas, eles começaram a ter aulas há dois meses. Morador do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, Wendel Souza dos Santos, de 22 anos, está aprendendo a recuperar peças de madeira e já vislumbra outras maneiras de aproveitar os ensinamentos: "No prédio em que meu padastro trabalha, jogam móveis velhos fora. Falei para ele 'pega tudo, eu recupero e a gente revende'".

Pezão e Maria Lucia se mudaram para o Laranjeiras em 30 de outubro de 2016. Morar perto do Palácio Guanabara era uma condição imposta pela mulher para o governador voltar a trabalhar, após ele fazer um tratamento para combater um câncer.

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"A cristaleira que está na cozinha é a mais linda que já vi. O 'boudoir', com sua delicadeza, é a minha sala preferida. E as ferragens das janelas? São perfeitas. Até hoje funcionando", emociona-se Maria Lucia.

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