Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 18:26
O secretário de Cultura do governo Jair Bolsonaro, Mario Frias, e o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, criticaram nas redes sociais as notícias de que a bisneta do escritor Monteiro Lobato pretende reeditar livros dele suprimindo trechos racistas. >
Camargo afirmou que Lobato não era racista e que "nenhum preto pediu" o que ele chama de "mutilação da obra" do escritor.>
Cleo Monteiro Lobato, bisneta do autor, anunciou este mês que sua nova reedição de "A Menina do Narizinho Arrebitado" teria alterações, como a exclusão do trecho que dizia que Tia Nastácia, personagem negra, "trepou que nem uma macaca de carvão".>
"A gente queria uma versão atualizada, cujo teor fosse compatível com os valores sociais contemporâneos, mas que mantivesse o estilo do Lobato", disse a herdeira. "Nós não a desvirtuamos, porque a original continua lá, existindo e disponível. Se eu tenho a possibilidade de me posicionar de maneira positiva, eu escolho a mudança.">
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Mario Frias reagiu, nesta manhã, classificando como absurda a edição da obra de Lobato. "Quantos livros e histórias maravilhosas que embalaram minha infância. [Que] vergonha!".>
Camargo continuou com mais uma série de tuítes acusando a esquerda de ser mais racista que Monteiro Lobato e classificando quem faz esse tipo de crítica como "nutella", "ofendidinho" e "afromimizento". Não é de hoje que o presidente da Fundação Palmares se contrapõe com agressividade ao movimento negro.>
Ele também usou como argumento seu pai, o poeta Oswaldo de Camargo. "Meu pai é escritor. Alterar uma única palavra de sua obra, após sua morte, seria como esfaqueá-lo pelas costas.">
"A esquerda mutila Monteiro Lobato e recomenda Felipe Neto para crianças", diz o último post do chefe da fundação do governo federal.>
Críticos literários e o movimento negro organizado criticam a obra de Lobato, principalmente, pela construção racista da personagem de Nastácia e pelas descrições preconceituosas a que ela é submetida em algumas das obras.>
Nem todos, contudo, defendem que a supressão de trechos problemáticos seja a melhor solução.>
Para alguns, uma contextualização crítica da época e das ideias de Lobato seria uma alternativa preferível. Outros leitores, ainda, identificam racismo no trabalho do escritor, mas defendem que se preserve a íntegra das obras como elas foram escritas.>
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