Publicado em 18 de março de 2020 às 13:25
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro diz haver "histeria" em relação à crise do novo coronavírus, inclusive confirmando que fará "festinha tradicional para celebrar seus 65 anos", governadores aliados dele têm tratado a pandemia com bastante preocupação.>
Eles têm feito reuniões diárias com secretariado e equipes técnicas para atualizar medidas de contenção já tomadas e chamar a atenção da população para o risco do avanço da doença.>
Por estarem no mesmo campo ideológico, as declarações de alerta dos governadores bolsonaristas e as ações preventivas anunciadas expõem ainda mais o presidente politicamente em relação à maneira como vem tratando o caso no Brasil.>
No domingo (15), mesmo dia em que Bolsonaro ignorou recomendações sanitárias e cumprimentou manifestantes com apertos de mão, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), saiu de casa para tentar encerrar ato que ocorria em frente à sede do governo goiano.>
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"Vocês têm que entender uma coisa só, que eu sou médico antes de ser governador. Vocês precisam ter responsabilidade de não fazer com que as aglomerações provoquem a disseminação do coronavírus", disse, no microfone.>
Mesmo vaiado por apoiadores do presidente, ele prosseguiu. "Embora reconheça o direito de protestar do cidadão, o momento é de se evitar aglomerações de qualquer tipo. Hoje, estamos todos em risco de contaminação pelo Covid-19", completou Caiado, aliado de Bolsonaro.>
Em seguida, nas redes sociais, o governador goiano reforçou que os setores de saúde do mundo estão em colapso. Caiado destacou que não se pode fazer vista grossa. "Não podemos colocar a vida das pessoas em risco. Vamos pensar na saúde da população como um todo.">
O governador pediu ao Ministério da Infraestrutura o fechamento por 15 dias do aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, suspendeu aulas e mandou fechar lojas de comércio popular no centro de Goiânia.>
Já Bolsonaro, em entrevista à rádio Super Tupi nesta terça-feira (17), além de anunciar que realizará um evento para o seu aniversário, afirmou que medidas adotadas por governadores para conter a Covid-19 vão prejudicar muito a economia.>
"Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia", declarou.>
No Tocantins, o governador Mauro Carlesse (DEM), que adotou neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais de 2018 e agora está próximo a Bolsonaro, fez alertas sobre a gravidade da situação. Mesmo sem casos confirmados no estado, ele ressaltou que não se pode perder tempo.>
"Sabemos que a disseminação do vírus já é realidade no país e que ações destinadas a seu enfrentamento devem ser prontamente executadas.">
Em decreto, suspendeu a realização de eventos por 30 dias para evitar aglomeração de pessoas e modificou toda a agenda para priorizar o enfrentamento à doença.>
O governador mudou os horários de trabalho dos servidores. O expediente, agora, é das 8h às 14h. As aulas foram suspensas no estado até o dia 20, e estão proibidas visitas ao palácio do governo.>
No estado de Roraima, governado por Antonio Denarium, que já anunciou sua saída do PSL para ingressar na Aliança pelo Brasil, sigla que o presidente quer criar, a maior preocupação é com a fronteira.>
Denarium encaminhou ofício ao governo federal pedindo fechamento da fronteira do estado com a Guiana e a Venezuela -o presidente anunciou o fechamento da fronteira com os venezuelanos nesta terça.>
O governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha (PSL), chegou a declarar seu apoio às manifestações de domingo (15), mas pediu que as pessoas adiassem o protesto. Mesmo sem casos confirmados no estado, Rocha suspendeu aulas nas escolas, reuniões, treinamentos do funcionalismo e eventos com mais cem pessoas.>
"Prefiro que me chamem de exagerado, mas [prefiro] salvar vidas, que não adotar providências sérias e ocorrer uma grande infecção na população", publicou no seu perfil, após o anúncio das medidas na última segunda-feira (16).>
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), alterou sua agenda, cancelando a presença em locais com muitas pessoas, em função do risco de contágio. A opção foi feita mesmo sem nenhum caso confirmado no estado pelo Ministério da Saúde até a última segunda-feira.>
"Vou evitar muitas agendas com grande aglomeração porque se o governo assim está recomendando, e eu [sou] governo, não vou fazer diferente daquilo que estamos recomendando", disse Mendes em coletiva de imprensa na segunda-feira, ao ser questionado sobre a atitude de Bolsonaro de encontrar manifestantes, mesmo devendo estar isolado.>
O governador criou um gabinete de situação para monitorar a doença e suspendeu aulas. Mendes cancelou sua presença na abertura de um grande evento de agronegócio em Lucas do Rio Verde.>
No Sul, o governador catarinense, Carlos Moisés (PSL), também está sintonizado com a postura preventiva para evitar a propagação do vírus. Santa Catarina tinha, até segunda-feira, sete casos confirmados da doença.>
Moisés suspendeu aulas, visitas a presídios e eventos com mais de cem pessoas. O governador cumpre o decreto do governo que determina evitar reuniões presenciais, e por isso "adiou viagens, cancelou compromissos e alterou a agenda para priorizar assuntos referentes à Covid-19", informou sua assessoria.>
Ele deixou de ir à comemoração dos 20 anos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, no último domingo (15). A escola catarinense do Bolshoi é a única fora da Rússia.>
O governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), também aliado do presidente Bolsonaro, anunciou nesta segunda-feira medidas para evitar o alastramento de casos do novo coronavírus no estado.>
Apesar de ter reunido imprensa e secretários num mesmo ambiente em uma coletiva de imprensa, o que não é recomendado, o governador demonstrou preocupação com a doença. Ele mandou suspender aulas na rede estadual, dispensou servidores que fazem parte de grupos de risco e proibiu visitas a hospitais, penitenciárias e centros de socioeducação.>
Durante a coletiva de imprensa desta segunda, Ratinho afirmou que é preciso adiar ao máximo o contágio comunitário no estado e destacou que, por se tratar de uma área em que o frio é mais rigoroso nas estações de outono e inverno, é preciso ter mais cuidados preliminares.>
"Não é para as pessoas ficarem desesperadas, não é [motivo] para pânico. As medidas adotadas têm como objetivo amenizar a proliferação do vírus. Queremos evitar que o contágio evolua para uma escala em que não tenhamos controle", afirmou.>
Na noite desta terça-feira, Jair Bolsonaro, após receber várias críticas pela maneira como tem lidado com o avanço da doença no país, decidiu que vai solicitar ao Congresso o reconhecimento do estado de calamidade pública no Brasil em decorrência do coronavírus.>
A medida, com validade até 31 de dezembro de 2020, será adotada em razão da necessidade de elevar gastos públicos.>
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