Publicado em 6 de novembro de 2020 às 09:18
O ano de 2020 foi especialmente duro para Corumbá, município de Mato Grosso do Sul que concentra quase metade do Pantanal. >
Primeiro, a Covid-19 paralisou o turismo e fechou a fronteira com a Bolívia. Depois, as queimadas devastaram a fauna e a flora, deixaram o ar enfumaçado por semanas e destruíram pastagens.>
Neste ano, a Cidade Branca, como é conhecida, foi o município do país que mais registrou queimadas. Houve 7.985 focos de 1º de janeiro até 28 de outubro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).>
Além do impacto ambiental, a pecuária do Pantanal foi duramente afetada. Muitos fazendeiros tiveram de retirar o gado para escapar do fogo. Houve grande perda de pastos e cercas. Corumbá tem 1,8 milhão de cabeças de gado - o equivalente a 16 bovinos para cada pessoa.>
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Para o vendedor Diego Taborda, 2020 é um ano para esquecer. Desde março, a epidemia esvaziou a loja de pesca onde trabalha, no centro da cidade e dois dos quatro funcionários foram demitidos.>
"O pior é a queimada. A Covid-19 afeta o ser humano, mas a gente tem como se defender. A natureza, não. O Pantanal se desgastou muito", diz o jovem de 21 anos.>
Apesar da tragédia ambiental e da Covid-19, a tônica na campanha tem sido a corrupção. O principal motivo é o escândalo em torno do prefeito Marcelo Iunes (PSDB).>
Candidato a reeleição, ele comanda a cidade desde o final de 2017, após a morte do também tucano Ruiter Cunha, por problemas cardíacos.>
Em 6 de outubro, a Polícia Federal realizou a Operação Offset, que investiga licitações da administração municipal. Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, incluindo a prefeitura e a casa de Marcio Iunes, irmão de Marcelo. As diligências resultaram no confisco de R$ 44 mil em dinheiro. O prefeito nega as acusações.>
A operação contra Iunes tem sido citada principalmente pelo vereador e candidato a prefeito Gabriel Alves (PSD). Recentemente, a Justiça Eleitoral negou a Iunes pedido de direito de resposta no programa eleitoral do adversário.>
Mas Alves, que é médico, também tem um escândalo para chamar de seu. Em 13 de outubro, o site Campo Grande News revelou que ele sofreu censura pública do Conselho Regional de Medicina (CRM) por causa de um vídeo em que aparece ironizando um paciente inconsciente.>
Durante um procedimento cirúrgico para retirada de um coco (a fruta) do reto, Alves e outro médico fazem piadas sobre o paciente. Um deles diz, rindo: "Você se lembra da sua infância, né?".>
Outro candidato competitivo é o ex-prefeito Paulo Roberto Duarte (MDB). Economista, era filiado ao PT quando chefiou a Secretaria de Fazenda no governo de José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT.>
Daquela época, ele responde a uma ação civil pública no Supremo Tribunal Federal (STF) por irregularidades no direcionamento do ICMS pago pela Petrobras ao governo estadual. O processo tramita desde 2004 em segredo de Justiça.>
Para o professor de história corumbaense Ahmad Schabib Hany, 61, o tema da corrupção se limita a uma troca de acusações, sem plano de atuação.>
Ele diz que ausência de temas ambientais e da área rural na campanha não surpreende. Segundo ele, apesar de o município ter uma área grande - comparável ao estado da Paraíba -, historicamente, os prefeitos só se preocupam com o casco urbano.>
"Nenhum prefeito de Corumbá governou o município em pouco mais de cem anos de emancipação. Todos se limitaram a ser reles gestores do quadrilátero central do perímetro urbano", afirma Hany.>
Indiretamente, o incêndio criou um dos principais temas da campanha, a internet precária. Por causa do fogo, que danifica os cabos de fibra óptica, os problemas de conexão se tornaram mais frequentes. Em outubro, a cidade chegou a ficar quase um dia sem internet banda larga.>
Apesar da importância da pecuária, os fazendeiros têm participação de baixo perfil na política. A presença mais destacada é a do presidente do Sindicato Rural, Luciano Leite, que, na prefeitura, ocupa o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentável.>
Ao todo, são seis candidatos a prefeito. Além dos já citados, concorrem Anisio Guató (PSOL), Joseane Garcia (PRTB) e Elano Almeida (PSL).>
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