Publicado em 16 de abril de 2020 às 21:37
Em seu discurso de despedida do cargo de ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta foi enfático na defesa da ciência, do SUS e de sua equipe.>
Demonstrando estar emocionado, o ministro fez uma fala com recados indiretos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), por quem foi demitido no fim da tarde desta quinta-feira (16).>
"Esse problema [demissão] é insignificante. Nada tem significado que não seja uma defesa da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nesses três pilares que deles vocês conquistarão tudo. A ciência é a luz, é o iluminismo. Apostem todas as suas energias através da ciência. Não tenham uma visão única e pensem dentro de uma caixinha", afirmou a servidores da pasta.>
Mandetta pontuou ainda que o pior da crise do novo coronavírus está por vir.>
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"Não pensem que estamos livres de um pico dessa doença. O sistema de saúde ainda não está preparado para uma marcha acelerada.">
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de mortos pela Covid-19 chegou a 1.924 nesta quinta-feira (16) e os casos confirmados ultrapassam 30 mil.>
O ministro deixa a pasta com aprovação de 76% da população, de acordo com última pesquisa Datafolha, mais que o dobro do que tem Bolsonaro, 33%.>
Para Mandetta, o modo de viver será diferente após o coronavírus e no próximo século.>
"O relacionamento será diferente e as videoconferências serão a tônica.">
"Muitas verdades que eram absolutas virarão pó", afirma.>
Durante o período de desgaste com Bolsonaro, o agora ex-ministro da Saúde se manteve firme na defesa do isolamento social para todos como medida de evitar um colapso do sistema de saúde no país em meio à pandemia.>
Em suas palavras finais, ele fez questão de pontuar sua defesa a medidas restritivas adotadas por prefeitos e governadores e criticadas por Bolsonaro.>
"Sigam as orientações das pessoas mais próximas que estão em contato com o sistema de saúde, como prefeitos e governadores. O momento é de darmos as mãos e vamos juntos porque vai ser dura a tomada de decisão que vamos ter que tomar nos próximos meses", disse.>
O futuro de Mandetta é incerto, mas ele já recebeu convites informais para trabalhar nos governos dos Estados de São Paulo e Goiás e o seu partido, o DEM, disse que espera que ele tenha um papel nacional dentro da legenda.>
Ao chegar ao ministério, após ter sua demissão confirmada, Mandetta foi aplaudido por parte da equipe do ministério que esperava sua chegada.>
"Sei que deixo a melhor equipe. Trabalhem para o próximo ministro. Ajudem, não meçam esforços.">
"Ministros passam, o que fica é o trabalho do servidor do Ministério da Saúde.">
Ele concedeu a entrevista ao lado do secretário-executivo, João Gabbardo, do secretário de atenção especializada em saúde, Francisco Figueiredo, do secretário de ciência e tecnologia, Denizar Vianna, de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, e do secretário especial de saúde indígena, Robson da Silva.>
Ele lembrou de quando estudava com Denizar Vianna na faculdade.>
"Metade [da turma] queria lutar por um hospital aberto e outra por outro hospital. É muito fácil vocês saberem de que lado que eu estava. Fomos do grupo da resistência para manter o Hospital da Piedade aberto. E ele está lá com as portas abertas até hoje", afirma.>
Ao cumprimentar membros da equipe que vieram do Congresso, disse que "sem política não se faz a condução de um ministério de tamanha complexidade.">
Ele pediu que a imprensa não fizesse perguntas. "É muito difícil falar a responder num momento desses.">
Em seguida, disse que continuará lutar no campo da "saúde pública mundial" e fez uma defesa do SUS.>
Depois de ficar no cargo por quase uma semana mesmo sabendo de sua demissão dada como certa, Mandetta disse ter tido uma conversa "amistosa" e "agradável" com o presidente, mas ressaltou diferenças.>
"É melhor que ele organize uma equipe que pode assumir um outro olhar", disse.>
Em um aceno a Bolsonaro, com quem antagonizou no último mês, o ex-ministro disse saber do peso da responsabilidade dele em ter de cuidar também da condução da economia em meio à pandemia.>
"Sei do peso da responsabilidade dele, do momento em que a economia deve retomar a normalidade, do impacto na economia. O presidente é humanista, ele pensa nas pessoas nesse momento pós corona e tenho certeza que vai tomar as melhores decisões.">
Em tom político e de distanciamento de Bolsonaro, o ministro enfatizou a defesa das vidas dos brasileiros e falou que ninguém pode ser deixado para trás durante a crise e defendeu cuidados dos moradores de rua.>
"A gente vê que não pode deixar ninguém para trás mesmo. A vida de uma pessoa na cracolândia tem o mesmo significado de quando ela competir por um leito de CTI do homem mais rico do país.">
Mandetta contou ter se reunido com um grupo de parlamentares na véspera, quando sua saída já era tida como certa, e fez menções elogiosas a políticos de oposição como o ex-ministro da Saúde petista Alexandre Padilha e a deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ).>
"A maturidade de entender esse momento foi suprapartidária", afirmou, em crítica implícita a Bolsonaro, que se mantém distante do campo oposicionista.>
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