Publicado em 27 de outubro de 2018 às 02:37
A troca de comando da Presidência da República no próximo ano, que será decidida amanhã, vai provocar mudanças significativas na gestão de órgãos públicos estratégicos para o Espírito Santo. Isso porque, no jogo político, o comando de departamentos, autarquias e empresas públicas passa pelo aval de políticos que de maneira implícita detêm as indicações dos cargos dentro desses locais.>
Historicamente, órgãos como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a Superintendência do Patrimônio da União (SPU), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e a Infraero têm cargos que são ocupados por indicados por padrinhos políticos da bancada capixaba em Brasília.>
Nos casos de rodovias que não foram concedidas à iniciativa privada, como a 262, por exemplo, é o Dnit responsável pelo seu controle e por obras, como duplicações. Já a SPU responde pela demarcação e cobrança da conhecida e questionada taxa de marinha. A Infraero controla o Aeroporto de Vitória e a Codesa, o Porto de Vitória.>
Todos esses órgãos possuem indicações políticas, mesmo quando ocupam esses cargos com servidores efetivos. Em alguns casos, nem é possível nomear gestores que não fazem parte do quadro fixo dos servidores do órgão. O Dnit é um deles ou o funcionário é servidor concursado ou é de uma empresa terceirizada que presta serviços para o órgão. "Todo cargo de chefia é ocupado por um servidor público do órgão", destacou o órgão, em nota.>
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O número de cargos comissionados e efetivos varia de acordo com o órgão.>
INFLUÊNCIA>
Mesmo que não seja de maneira explícita, os parlamentares que comandam esses órgãos, mantendo seus feudos políticos no Estado, são figuras conhecidas, conforme informações de bastidores confirmadas por diversas fontes.>
Políticos ouvidos pela reportagem garantem, por exemplo, que há anos o senador Magno Malta (PR) indica cargos no Dnit. Ele, que está no Senado desde 2003, saiu derrotado das urnas no último dia 7, ao tentar o terceiro mandato.>
Outro derrotado nas urnas é o deputado Lelo Coimbra (MDB). Segundo fontes ouvidas pelo Gazeta Online, hoje ele exerce influência na SPU, na Conab e no DNPM.>
Já a senadora Rose de Freitas (Podemos) nomeia cargos e faz indicações para Codesa e Infraero. Embora Rose continue na bancada para cumprir mais quatro anos de seu mandato, os políticos consultados disseram que a expectativa é de uma mudança de quadro em 2019, quando o novo presidente assume. Rose se engajou, no 1º turno, no projeto de Alvaro Dias (Podemos), que terminou a disputa com 0,8% dos votos.>
Rose, Lelo e Magno foram procurados pela reportagem, mas não se posicionaram até o fechamento da edição.>
INDICAÇÕES>
Para entender como a distribuição de cargos é feita, o Gazeta Online conversou com algumas lideranças capixabas. Elas explicaram que a conquista de poder dentro de um órgão federal vem de uma "troca de favores" entre o governo federal e as bancadas.>
"Tudo é indicação de Brasília. Os deputados federais fazem várias indicações. Quem é contra o governo tem menor fatia, quem é a favor tem mais. Depende de quem está no Poder Executivo", disse um político ouvido pela reportagem.>
Na mesa de negociações, os parlamentares que possuem maior influência sobre os colegas para converter votos a favor do que espera o presidente da República, por exemplo, conseguem mais poder de indicação dentro desses órgãos, autarquias e empresas públicas nos Estados.>
MUDANÇA>
O cientista político Fernando Pignaton explicou que essa troca de apoio por cargos é uma questão que envolve todo o sistema presidencialista.>
"Para se montar uma maioria na bancada capixaba, há uma negociação muito individualizada, deputado a deputado, e a moeda de troca são os cargos", disse Pignaton.>
A maioria formada acaba não refletindo uma visão ideológica, enfatiza Pignaton: "Monta-se uma maioria de votos não por critérios programáticos, partidários. Depende de como foi a negociação com cada deputado, individualmente. Os deputados e senadores têm uma influência maior ou menor dependendo da força política dele, assim como a do partido".>
Para alguns políticos, essas indicações não deveriam mais acontecer. "É preciso acabar com os deputados ou senadores proprietários de cargos públicos. A bancada pode até sugerir nomes, mas nunca ser dona", opinou um parlamentar, que prefere não se identificado para evitar atrito com os pares.>
"O comando é muito político, muito pessoal. Esse apadrinhamento tem que acabar. A preferência tem que ser do próprio quadro efetivo. Não pode fazer do organismo uma instituição particular. O novo presidente não tem que entregar ministério a nenhum partido político, afirmou outro parlamentar.>
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