Publicado em 13 de outubro de 2022 às 18:37
Ao menos 4.500 profissionais da saúde morreram em decorrência da Covid-19 no Brasil nos primeiros dois anos de pandemia, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (13) pela PSI (Internacional de Serviços Públicos). A maioria das vítimas eram auxiliares e técnicos de enfermagem e estima-se que dois terços delas não tinham carteira assinada.>
A pesquisa foi encomendada ao estúdio de inteligência de dados Lagom Data pela Internacional de Serviços Públicos, federação sindical global que representa mais de 700 sindicatos em 154 países, e baseia-se no cruzamento de dados do Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho e Previdência. Foi divulgado também o episódio brasileiro da série documental "Behind the Mask" (por trás da máscara, em português), sobre o impacto das decisões políticas e da corrupção no enfrentamento à crise sanitária.>
De acordo com o levantamento, cerca de 70% dos trabalhadores da saúde que morreram eram auxiliares e técnicos de enfermagem, 25%, enfermeiros, e 5%, médicos.>
Ao todo, 80% dos profissionais eram mulheres, maioria em atuação na área.>
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No documento Perfil da Enfermagem no Brasil, divulgado pelo Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), em 2016, o país possuía 1.389.823 auxiliares e técnicos de enfermagem, sendo 85% do sexo feminino. Na época, havia 414.712 enfermeiros, sendo 86% mulheres.>
A pesquisa mostra ainda que, em 2020, quando os profissionais chegaram a atuar sem equipamentos de proteção adequados e ainda não havia vacina disponível contra a doença, o país registrou o dobro de mortes de trabalhadores da saúde em relação à média dos dois anos anteriores.>
"Em 2021, quando o descaso do governo e a pressão pela reabertura levaram o Brasil aos piores índices de mortalidade, profissionais da saúde tiveram prioridade na vacinação e, com isso, a sua mortalidade começou a cair três meses antes do restante das profissões", afirma o estudo, divulgado em caráter preliminar.>
Presidente da CNTS (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde), Valdirlei Castagna lembra que, além das mortes, muitos profissionais da saúde permanecem com sequelas. "Eles ficaram com medo de contrair o vírus e transmiti-lo para seus familiares. Tivemos pessoas que deixaram de ir para casa por causa desse receio e ficaram isoladas da família. Isso tudo levou a danos psicológicos muito grandes.">
Marcello Netto, coordenador global de comunicação da PSI, também enfatiza as consequências da pandemia. "Temos notícias de profissionais traumatizados, pois muitos levaram as doenças para famílias e amigos, e sem equipes suficientes até hoje. E também de órfãos e dependentes sem amparo até hoje. Salvaram vidas e deixaram famílias, morreram por isso e suas famílias seguem desamparadas", critica.>
Os dois, contudo, têm visões diferentes em relação ao reconhecimento da categoria após o enfrentamento dos piores momentos da pandemia.>
Para Castagna, a visibilidade dos profissionais de saúde foi fundamental para a aprovação da lei que institui o piso salarial da enfermagem. "Agora, precisamos que esse reconhecimento se transforme em um fato concreto, com a indicação das fontes de financiamento", defende.>
Nesta quinta-feira (15), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o governo pretende desonerar a folha de pagamento da saúde para compensar o custo do pagamento do piso.>
Já Netto diz que todos esperavam que os aplausos fossem acompanhados por melhores salários e condições de trabalho, mas o que se observa é a resistência à implementação do piso salarial e da lei 14.128/2021, que trata da compensação financeira de profissionais de saúde incapacitados de forma permanente por terem adquirido Covid-19 em função da natureza do trabalho e da indenização para dependentes em caso de morte pelo novo coronavírus.>
"O mais urgente é garantir que o piso salarial de enfermagem vire realidade para, então, lutarmos pelo seu reajuste anual automático pelo índice da inflação, algo que Bolsonaro vetou", afirma Netto. "Paralelamente, temos de envolver a sociedade para que ela pressione os governos a encontrarem formas de melhorar o acesso à saúde, a despeito do teto de gastos que congelou os investimentos na área até 2037.">
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