Publicado em 14 de agosto de 2024 às 15:01
A onda de frio que atingiu o Brasil na última semana não deve ir além de quinta-feira (15). Apesar de as variações de temperatura como essa serem comuns nesta época do ano, o frio que está sendo sentido em grande parte do país é resultado de um fenômeno raro que está acontecendo na Antártica.>
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), esta é primeira massa de ar frio que conseguiu avançar sobre todos os estados das Regiões Centro-Oeste e Sudeste do país em 2024. >
No Sul, os estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm previsão de geada para esta quarta-feira (14), e alguns locais do país registraram a temperatura mais baixa do ano, como foi o caso do Rio de Janeiro, que marcou 8,3°C na última terça-feira (13).>
De acordo com a meteorologista Maria Assunção Silva Dias , as baixas temperaturas atuais estão ligadas a uma espécie de "anel" formado por áreas de alta e baixa pressão ao redor da Antártica.>
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A intensidade desse anel é medida por um índice chamado "oscilação Antártica".>
"Quando esse índice está negativo no inverno, os efeitos no Brasil são principalmente chuvas e frio associadas a frentes frias.">
"E atualmente, o índice está em um valor recorde negativo. Normalmente, ele varia entre +2 e -2, mas agora, para se ter uma ideia, a escala do gráfico vai até -4 e ele superou esse limite, está em -4,4, o que é algo inusitado", explica Silva Dias, que é doutora e mestra em Ciências Atmosféricas pela Colorado State University e diretora de meteorologia da Rhama Analysis.>
Esse cenário, aponta a especialista, é realmente raro.>
"Desde os anos 1980, não havia um registro tão negativo do índice de oscilação Antártica.">
Silva Dias explica que o índice costuma mudar de sinal a cada 15 dias ou 30 dias, alternando entre positivo e negativo, o que altera as consequências no clima.>
"A principal consequência que estamos observando agora é a formação de um cinturão de baixas pressões.">
A baixa pressão que afeta o Brasil é chamada de ciclone extratropical.>
"Trata-se uma corrente de vento intenso na estratosfera, que age como age como um 'cinturão', que normalmente ajuda a segurar o ar frio apenas nas regiões polares, impedindo que ele se espalhe para áreas mais quentes", explica Ana Avila, meteorologista e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).>
Mas devido ao aquecimento global, aponta Avila, há um enfraquecimento do vórtice polar, fazendo com que a massa de ar frio, que geralmente circula apenas na região Antártica, suba para a América do Sul.>
"Esse ciclone, associado ao índice recorde da oscilação Antártica, está gerando ventos persistentes que trazem frio para o Sudeste, Centro-Oeste e até partes da Amazônia. Como o ciclone está parado, o frio persiste por vários dias, afetando regiões amplas do Brasil", complementa Silva Dias.>
As especialistas consultadas pela reportagem apontam que muitos dos eventos meteorológicos extremos que estamos presenciando podem já ser um reflexo das mudanças climáticas. >
"Estamos vivendo tempos de extremos notáveis, e é possível que estejamos no início de uma nova era climática em que esses extremos se tornem cada vez mais comuns", afirma Silva Dias.>
Esses eventos climáticos extremos, tanto no Brasil quanto no mundo, diz, estão interligados. >
"A atmosfera não tem fronteiras, e alguns fenômenos, como o El Niño, afetam todo o planeta. Entretanto, nem sempre o impacto é o mesmo em todos os lugares. Precisamos avaliar cada fenômeno para entender se ele é resultado de condições locais ou se está realmente interligado com eventos em outras partes do mundo.">
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