Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 15:37
Em meio a disputas com outros grupos do tráfico de drogas e com as milícias, o Comando Vermelho tem expandido sua atuação por mais áreas no Rio de Janeiro, atingindo, em 2024, cerca de 1,79 milhão de habitantes. O número manteve uma tendência de aumento, enquanto as milícias estão em queda. Estes grupos têm 1,6 milhão de pessoas sob sua influência, mas estão presentes em um espaço maior — 74% de toda área controlada por criminosos na capital fluminense.>
Ao todo, 4 milhões de pessoas, pouco mais de um terço da população somada do Rio e de sua região metropolitana, vivem sob o controle ou a influência de grupos armados. Eles estão presentes em uma área de 407 km², cerca de 18% da região. É o que diz nova edição do Mapa Histórico dos Grupos Armados divulgada nesta quinta-feira (4) pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pelo Instituto Fogo Cruzado. A pesquisa tem como base registros no Disque-Denúncia.>
De 2016 a 2020, o Rio viu uma expansão acelerada dos grupos armados, principalmente através das milícias, que conquistaram áreas ainda sem domínio. Hoje, com menos áreas livres disponíveis, a situação mudou e há mais conflito entre facções rivais. Para a gerente de pesquisa do Instituto Fogo Cruzado, Terine Husek Coelho, o padrão da conquista tende a ser mais violento. "Mais disputas territoriais, mais tiroteios e consequências gravíssimas para quem vive nessas regiões densamente povoadas.">
Houve queda na área no número de pessoas sob domínio do crime desde 2019, algo inédito, dizem os autores. De acordo com Daniel Hirata, coordenador do Geni/UFF, essa retração dos grupos armados após um período de expansão é reflexo da estrutura das milícias, assim como da situação econômica e política no estado.>
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No ciclo de investimentos dos grandes eventos — como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 — o crescimento no setor imobiliário e de infraestrutura rumo à zona oeste foi usado pelos grupos armados. "Sabemos que o modelo de negócio das milícias está muito associado à produção do espaço urbano, com a construção, compra e venda de imóveis, depois serviços de transporte, internet e gás." Ele também cita a crise econômica que atingiu o estado na década passada e a derrocada das UPP (Unidades de Polícia Pacificadora), além dos embates do Comando Vermelho com o PCC (Primeiro Comando da Capital) na disputa por rotas de cocaína.>
Esse ambiente favoreceu a expansão das milícias, que puxam o aumento dos territórios sob controle do crime, depois atingidas por diferentes operações e disputas.>
Esta edição do estudo, produzido desde 2018, apresenta duas categorias com presença de grupos armados. A primeira são as áreas sob controle do tráfico ou das milícias — onde há exploração de recursos econômicos de mercados legais ou ilegais, normas de conduta e uso da força, todos ocorrendo simultaneamente. Já nas áreas sob influência desses grupos, isso acontece de forma pontual, sem um controle total dos criminosos.>
Enfrentar a expansão dos grupos armados requer entender seus padrões de atuação, diz Terine, o que inclui "distinguir entre áreas sob controle e influência para desenhar intervenções diferenciadas e planejar ações de longo prazo com metas claras, já que não há solução rápida." E se as milícias têm perdido território, apesar de ainda terem a maior área entre os grupos criminosos estudados, o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro (TCP) estão em movimento para conquistar áreas, especialmente na zona oeste do Rio e na Baixada Fluminense.>
É nessa região que a disputa tem se acirrado nos últimos anos, especialmente entre o Comando Vermelho e as milícias. Na zona oeste da capital fluminense, as milícias mantêm sua hegemonia, com 90% da área dominada e 80% da população sob algum tipo de controle ou influência. Ao todo, na cidade, são 157 km² sob a milícia, 34 km² sob o Comando Vermelho, 15 km² sob o TCP e outros 5 km² sob o ADA (Amigos dos Amigos).>
Disputas do Comando Vermelho para tentar tomar territórios da milícia passaram a ocorrer de forma mais acentuada a partir de 2023. Entre as razões elencadas pela polícia e por promotores estão a morte de Rodrigo Dias, o Pokémon, apontado como chefe dos milicianos em Rio das Pedras, na zona oeste, e planos de Edgar Alves, o Doca, apontado como liderança do CV, que teria detectado o enfraquecimento das milícias.>
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