Publicado em 25 de junho de 2020 às 16:14
Cientistas de universidades da China e dos Estados Unidos conseguiram reverter sintomas de Parkinson em ratos ao modificar os astrócitos -um tipo de célula abundante no cérebro- para fazê-los se comportar como neurônios. A conversão permitiu restaurar a produção de dopamina nos animais.>
Os astrócitos existem no cérebro em quantidade muito maior do que os neurônios. Eles exercem funções vitais para o funcionamento dos neurônios, como a transferência de nutrientes e a proteção contra substâncias danosas.>
Os pesquisadores usaram uma técnica de edição genética para inibir uma proteína chamada PTB nos astrócitos. A ausência dessa proteína permite que o astrócito se converta em uma célula produtora de dopamina, como os neurônios.>
Na técnica usada pelos cientistas, o cérebro dos ratos foi infectado com um vírus que funcionou como uma tesoura para extrair a proteína.>
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Os ratos geneticamente modificados usados no experimento não tinham a doença, mas passaram por reações químicas que criaram neles uma condição parecida com a de humanos com Parkinson: a morte de neurônios em uma região do cérebro chamada de substância negra. A falta dos neurônios na área levou à queda na produção da dopamina, um neurotransmissor que desencadeia impulsos nervosos pelo corpo. Assim, sintomas característicos da doença, como problemas motores, apareceram também nos animais.>
De acordo com os resultados publicados em artigo nesta quarta-feira (24) na revista Nature, um dos periódicos científicos mais prestigiosos do mundo, as células convertidas passaram a ter função semelhante à dos neurônios perdidos pelo mal de Parkinson, e o comportamento motor dos animais foi restaurado.>
O Parkinson não tem cura, mas há uma série de medicamentos e terapias que conseguem controlar os sintomas por alguns anos.>
Erich Fonoff, neurocirurgião e professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), explica que as doenças neurodegenerativas surgem com o envelhecimento e a morte precoce de células do cérebro. "O artigo mostra um avanço, mas temos um longo caminho até a técnica virar um tratamento", diz.>
"No modelo, os animais têm a perda de células do cérebro, como acontece na doença, mas o motivo não é o mesmo; os ratos não têm Parkinson. Os modelos usados são muito bons, mas ainda são falhos", afirma o médico.>
"Será que, nas pessoas com a doença, as células novas produziriam dopamina? Ainda não sabemos se funcionaria em humanos da mesma forma", diz Fonoff.>
Para a professora e pesquisadora brasileira Tatiana Rosado Rosenstock, pós-doutora pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), da Universidade de Coimbra, em Portugal, são necessários estudos para entender as consequências do uso da técnica em um prazo mais longo.>
"Ainda não sabemos se a inibição da proteína ou a diminuição no número de astrócitos trazem algum prejuízo para o funcionamento do cérebro no longo prazo", afirma Rosenstock.>
Mesmo com a necessidade de novos experimentos com a técnica, a pesquisadora afirma que o artigo abriu margem para o uso do método em humanos no futuro. "A técnica também poderia ser testada em regiões do cérebro afetadas por outras doenças neurodegenerativas", diz.>
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