Publicado em 28 de junho de 2023 às 11:28
RIO E SÃO PAULO - A população brasileira ainda cresce, mas em um ritmo cada vez menor. É o que indicam os primeiros dados do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta quarta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).>
Segundo o levantamento, a população residente no país era de 203,1 milhões de pessoas em 2022 — o contingente exato foi de 203.062.512. Projeção anterior do instituto apontava que o Brasil teria entre 213 milhões e 214 milhões de habitantes.>
O número de moradores representa uma alta de 6,5% (12,3 milhões a mais) em relação ao Censo anterior, de 2010 (quando o país tinha 190,8 milhões de habitantes). Isso significa que a taxa de crescimento foi de 0,52% ao ano.>
Trata-se do menor nível já registrado em um recenseamento no Brasil. O primeiro ocorreu 150 anos antes, em 1872. De lá para cá, o país soma 13 operações censitárias.>
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A série histórica divulgada pelo IBGE mostra que a taxa de crescimento anual já chegou a 2,99% na passagem de 1950 para 1960.>
O percentual encolheu de forma consecutiva nas décadas seguintes, até atingir 1,17% em 2010 e 0,52% em 2022. É a primeira vez que o avanço fica abaixo de 1% em um Censo.>
Esse movimento ilustra o que especialistas chamam de transição demográfica, que traz reflexos tanto em questões comportamentais quanto na área econômica.>
"A queda da fecundidade começou no final da década de 1960. Começou com uma queda pequena, mas a partir da década de 1970 se espalhou pelo Brasil todo", diz o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador aposentado do IBGE.>
"De lá para cá, a fecundidade só cai. Ao mesmo tempo, temos um aumento da expectativa de vida e uma redução das taxas de mortalidade.">
Com menos filhos, as famílias tendem a investir mais na formação de uma mesma criança, e as mulheres podem encontrar menos dificuldades para a entrada no mercado de trabalho, afirma Alves.>
O crescimento menor da população, por outro lado, encaminha o país para o fim do chamado bônus demográfico, segundo o especialista.>
Isso traz desafios para a economia, já que a parcela da população em idade de trabalhar tende a diminuir, enquanto a de aposentados, aumenta. O segredo para superar o quadro, diz Alves, é elevar a produtividade — capacidade de produzir mais com menos.>
"A transição demográfica é o maior fenômeno de mudança de comportamento em massa da humanidade. Está mexendo com a vida das pessoas, com a morte delas", afirma.>
O presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, disse que o instituto ainda trabalha para entender o que está por trás do crescimento menor da população.>
Segundo ele, também é necessária uma análise mais detalhada a respeito de eventuais impactos da mortalidade provocada pela pandemia de Covid-19.>
A divulgação do Censo 2022 será feita em etapas. A primeira, ocorrida nesta quarta, não trouxe dados sobre as características etárias e de gênero dos brasileiros. Ficou centrada na evolução do número de habitantes e de domicílios.>
"A gente precisa esperar o trabalho que os demógrafos do IBGE estão fazendo para que a gente possa entender melhor o quanto o Brasil pós-pandemia está sendo influenciado por fecundidade, mortalidade, migração internacional, uma série de fatores que podem contribuir de forma expressiva para a queda da taxa de crescimento anual", afirmou Azeredo.>
A coleta das informações do Censo começou no dia 1º de agosto do ano passado, e o IBGE planejava encerrar as entrevistas em três meses, até outubro. O instituto, contudo, encontrou uma série de dificuldades para avançar nos trabalhos. Por isso, foram feitas coletas de dados residuais até o final de maio deste ano. Ou seja, a operação levou quase dez meses.>
Restrições orçamentárias, atrasos em pagamentos para recenseadores e o clima de tensão em meio à corrida eleitoral estão entre os motivos apontados para a demora.>
A taxa de não resposta ao Censo foi de 4,23% no Brasil. É o percentual de domicílios onde o IBGE constatou que havia moradores, mas não conseguiu fazer as entrevistas.>
Já a taxa de recusa alcançou 1,38%. Trata-se do percentual de domicílios onde as pessoas não quiseram prestar as informações.>
Essas porcentagens foram maiores no Estado de São Paulo, o mais populoso do país. A taxa de não resposta local alcançou 8,11%, e a de recusa, 2,34%.>
Questionado se os percentuais de São Paulo impactaram o resultado geral da população brasileira, Azeredo disse que a cobertura está "muito consistente" e que o IBGE está "bastante contente" com os resultados.>
O presidente interino lembrou que, em pesquisas como o Censo, e não só no Brasil, é usada a técnica de imputação em domicílios ocupados cujos moradores não participam das entrevistas. Trata-se de uma estimativa. >
Segundo Azeredo, a imputação não prejudicou o resultado geral.>
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Em 2022, a população imputada no Brasil foi de quase 8 milhões, o equivalente a 3,92% do total. A contada alcançou 195,1 milhões.>
No Censo de 2010, a parcela resultante do processo de imputação havia sido de 2,8 milhões, segundo o IBGE. Foi menos de 2% do total à época.>
A nova edição do Censo tem o dia 31 de julho de 2022 como data de referência. Assim, as pessoas nascidas após essa data não foram incluídas na contagem.>
Durante a operação censitária, especialistas alertaram que a coleta prolongada traria riscos de imprecisão para os dados, mas o IBGE argumentou que o uso de novas tecnologias minimizaria as ameaças.>
Os dados da contagem da população, contudo, mostram diferenças em relação às estimativas populacionais do instituto.>
Em 2021, o órgão havia projetado a população brasileira em 213,3 milhões de habitantes, ou seja, em torno de 10 milhões a mais do que a contagem do ano passado.>
As estimativas populacionais são feitas a partir da edição mais recente do Censo. Um dos procedimentos recomendados por especialistas para calibrá-las é a realização de uma nova contagem, mais enxuta do que o Censo, no meio de cada década. Porém, em 2015, essa contagem foi cancelada por falta de verba.>
Azeredo afirmou que os demógrafos do IBGE estão "debruçados" sobre os dados para entender as diferenças entre as estimativas e o Censo. Ele, contudo, chamou atenção para a falta da contagem no meio da década passada.>
"Essa diferença, ela tem uma associação, nós não tivemos a contagem de população no meio da década. É fundamental que, em 2025, a gente faça a contagem da população", disse.>
"Temos que fazer uma contagem para que a gente não se depare com diferenças grandes. Acho que a pandemia teria sido muito mais branda se nós tivéssemos tido uma contagem de população no meio da década. A pandemia pegou o Brasil num apagão de dados", acrescentou.>
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