Publicado em 22 de março de 2018 às 10:59
No oeste baiano, plantações de soja, milho e algodão formam um mar verde e branco de ponta a ponta. A região, onde o agronegócio avança e prospera, foi palco recentemente da revolta de pequenos agricultores, que culminou com a invasão de duas grandes fazendas e prejuízos estimados em R$ 50 milhões. Não, não era uma tradicional disputa por terra. O que estava em jogo desta vez era o acesso à água, uma categoria de conflito que não para de crescer no Brasil. Foram 172 registros em 2016, segundo o último relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ou praticamente um conflito a cada dois dias.>
Num cenário de estresse hídrico, má gestão das águas e desmatamento de matas ciliares que preservam rios e aquíferos , a tendência é que as batalhas por água a que os brasileiros se acostumaram a ver e ouvir em notícias internacionais ocorram com mais frequência bem debaixo de seu nariz. A Comissão Pastoral da Terra mapeia os conflitos por água desde 2002. São documentos, denúncias e relatos que incluem desde redução ou privação do acesso à água até contaminação de rios e reassentamentos devido a construção de barragens. Naquele ano, foram apenas oito registros. Após alguns altos e baixos, a trajetória se mantém ascendente desde 2011 (69). De lá para cá os conflitos por água mais que duplicaram.>
O aumento está relacionado com as oscilações climáticas, que têm provocado forte estiagem, e a política do governo para promoção do agronegócio. Isso leva à disputa pela água. Na agricultura irrigada, capta-se muito mais água que o necessário, há um desperdício enorme e não há incentivo para o uso racional dos recursos hídricos afirma Leo Heller, relator especial da ONU para os direitos humanos à água e esgotamento sanitário, que participará do Fórum Mundial da Água em Brasília.>
Sendo o Brasil uma potência agrícola e considerando o peso das commodities minerais na pauta de exportações, boa parte dos conflitos têm conexão com esses dois setores econômicos, explica Ruben Siqueira, um dos coordenadores nacionais da Comissão Pastoral da Terra. No último relatório da comissão, Minas Gerais aparece em primeiro lugar no ranking, com 58 conflitos por água em 2016. Praticamente todos ligados à Samarco, protagonista do drama do Rio Doce, que recebeu toneladas de rejeitos minerários após a ruptura de uma barragem em novembro de 2015, quando 19 pessoas morreram. A Bahia aparece em segundo lugar, com 24 registros, relacionados à contaminação de rios pela exploração de urânio e ao impedimento ou redução de acesso à água por apropriação particular de mananciais.>
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