Uma decepção. É assim que o médico Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), define o fato de o sarampo ter voltado a circular no país. O Brasil já registra 822 casos confirmados, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado na quarta-feira passada.
É uma decepção e precisamos de uma luta constante para evitar isso. Manter 95% da população protegida é mesmo um desafio, porque são muitos os fatores que contribuem para que essa meta não seja cumprida: os movimentos antivacina, os problemas logísticos que levam à falta de vacinas em alguns lugares, a crise econômica, o deslocamento de pessoas entre países diz o pediatra, que também é professor da Santa Casa de São Paulo. A entrada de venezuelanos com sarampo no Brasil desencadeou o problema, mas ele seria bem menor se nossa população estivesse blindada.
Até o momento, existem dois surtos, ambos na Região Norte: 519 casos confirmados no Amazonas e 272 em Roraima. Todos são importados, o que está comprovado pelo genótipo do vírus identificado, o D8, o mesmo que circula na Venezuela. O estado do Amazonas ainda tem outros 3.725 casos em investigação, enquanto Roraima, 106.
Há também casos isolados da doença confirmados em outras regiões do país: um em São Paulo, 14 no Rio de Janeiro, 13 no Rio Grande do Sul, um em Rondônia e dois no Pará.
Gerações mais novas não conheceram o sarampo e não sabem o impacto dessa doença. E incluo aí os próprios médicos afirma Sáfadi. É uma doença altamente contagiosa. Se dez pessoas não imunizadas estiverem em uma sala com alguém com sarampo, nove delas pegarão a doença. No período pré-vacinal no Brasil, reportávamos uma média de 3 mil mortes por sarampo todo ano. É um drama social e multifatorial.
No próximo domingo, começará campanha nacional de vacinação, que vai até 31 de agosto. O alvo não será só o sarampo, mas também a poliomielite, doença erradicada nos anos 90, mas que agora ameaça retornar.
O esforço é para não perder o certificado de eliminação de circulação do sarampo, conferido ao Brasil em 2016 pela Organização Pan-Americana da Saúde.
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