Publicado em 4 de janeiro de 2020 às 09:44
Vários pontos do plano de governo apresentado durante a campanha eleitoral por Jair Bolsonaro foram abandonados, desidratados ou encontram dificuldade de execução após este primeiro de seus quatro anos de mandato.>
A lista inclui promessa de expansão de programas sociais, macroeconomia, saúde, educação e questões mais específicas, como a ideia de incluir o nome de policiais mortos em serviço no livro de aço do Panteão da Pátria.>
O plano de Bolsonaro para o mandato de quatro anos, de 81 páginas, foi protocolado na Justiça Eleitoral em cumprimento à exigência de que os candidatos tornem públicas suas propostas. Não há nenhuma obrigação legal de cumprimento.>
Em um ano, o presidente conseguiu avançar em proposições econômicas e administrativas, mas caminhou a passos lentos, ou até mesmo abandonou, compromissos de intolerância com a corrupção e melhora da educação básica.>
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O texto, por exemplo, ressalta que haveria tolerância zero com a corrupção e que investigações não seriam atrapalhadas ou barradas por interferências políticas.>
No período, no entanto, o presidente criticou o superintendente da Polícia Federal no Rio e anunciou a sua troca, atropelando a corporação.>
Ele ainda apoiou ação da defesa do seu primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), que resultou em decisão liminar que congelou por quase cinco meses ao menos 935 investigações e ações penais em todo o país.>
Bolsonaro se vê às voltas com as apurações do Ministério Público do Rio sobre o caso de Fabrício Queiroz, amigo de longa data, suspeito de operar esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa.>
As últimas declarações do presidente sobre o assunto apontam uma suposta perseguição política comandada pelo governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).>
Bolsonaro também mantém como ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antonio, indiciado e denunciado sob acusação de comandar esquema de candidaturas laranjas no PSL de Minas.>
Na área social, o documento prometia instituir uma renda mínima para todas as famílias brasileiras. "Nossa meta é garantir, a cada brasileiro, uma renda igual ou superior ao que é atualmente pago pelo Bolsa Família." Não há sinal de que o governo tenha intenção de colocar essa medida de pé.>
Por problemas orçamentários, o governo passou a controlar a entrada de novos beneficiários no Bolsa Família: a fila de espera para receber o pagamento supera a marca de 700 mil famílias e a cobertura do programa vem recuando mês a mês, atingindo em dezembro a menor marca do ano (13,1 milhões).>
Na área da segurança pública, bandeira da campanha de Bolsonaro, números consolidados pelo Ministério da Justiça mostram redução da criminalidade no país.>
Os dados já apontavam uma queda em 2018, antes da atual gestão. A segurança pública é, por lei, de responsabilidade majoritária dos Estados.>
Na saúde, o plano de Bolsonaro prometia informatização do atendimento dos pacientes. Em novembro, o Ministério da Saúde lançou um programa-piloto em Alagoas para implantação até 2020 naquele estado.>
A educação foi uma área conturbada neste primeiro ano de governo, com vários problemas de gestão e foco no embate ideológico. O primeiro ministro nomeado pelo presidente foi demitido, e o atual, Abraham Weintraub, está sob ameaça de perder o posto -a possibilidade é negada publicamente por Bolsonaro.>
O plano do presidente falava em priorizar a educação básica, mas não houve ação efetiva nesse sentido.>
Na economia, a principal promessa era a reforma da Previdência, ação cumprida já neste primeiro ano, mas sob protagonismo do Congresso e sem a proposta de capitalização defendida pelo ministro Paulo Guedes (Economia).>
O texto falava ainda em reduzir em 20% o volume da dívida por meio de privatizações (projeção mais recente do governo aponta leve alta), baixar a inflação e gerar emprego (os números mais atuais são favoráveis ao governo) e prometia implementar uma forte política liberal.>
Guedes tem seguido essa linha, mas as tentativas encontram resistência do Congresso. Algumas ficaram pelo caminho ou foram desidratadas.>
A proposta econômica de Bolsonaro também previa déficit zero neste ano e superávit em 2020, promessa que está longe de ser cumprida. Neste ano, o saldo negativo das contas públicas deve ficar entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões. No ano que vem, a previsão de rombo é de R$ 124 bilhões.>
A dificuldade do governo no Congresso pode ser exemplificada pelo desempenho das medidas provisórias que editou. Foram 43 até 20 de dezembro. Desse total, 11 foram convertidas em lei; 11 caducaram por não terem sido votadas no tempo limite; e 21 estão em tramitação.>
Uma das MPs que expirou foi a do boleto da cobrança sindical, editada em março. A intenção do governo era deixar claro que qualquer taxa deve ser paga pelo trabalhador de forma voluntária, expressa e por escrito.>
Ainda em prazo de votação, a MP do Emprego Verde e Amarelo pode não ser convertida em lei. O texto trata de promessa feita ainda durante a campanha de criar regras trabalhistas diferenciadas para trabalhadores mais jovens, que estejam ingressando no mercado de trabalho.>
Criticada por perda de direitos, a medida pode ser devolvida pelo Legislativo ao Planalto, que já aceita mudar o texto enviado ao Legislativo.>
O presidente também terminou seu primeiro ano sem conseguir concluir todas as metas estipuladas pelo seu próprio governo para os primeiros cem dias de mandato.>
Na lista de promessas, por exemplo, havia a independência do Banco Central. O projeto foi enviado ao Poder Legislativo, mas não foi votado. O documento elencava ainda a reestruturação da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e a redução de tarifas do Mercosul. As mudanças no conglomerado de comunicação ainda não foram concluídas. Já a redução da tarifa ainda está em negociação com Paraguai, Uruguai e Argentina.>
O Palácio do Planalto não quis se manifestar, assim como os ministérios da Cidadania e da Educação.>
Em uma rápida entrevista ainda em dezembro, Bolsonaro falou à Folha de S.Paulo sobre um dos pontos, o dos policiais mortos em serviço. Disse que a proposta deve ficar para 2020. "Vamos deixar para o ano que vem, como a reforma administrativa. Nós devemos ter um monumento ao soldado desconhecido em Brasília.">
O Ministério da Justiça enviou links com informações sobre os projetos estratégicos e balanço da pasta. De acordo com essas informações, com o repasse de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública aos Estados, em cinco meses foram criadas no país 29 delegacias de Polícia Civil dedicadas exclusivamente ao combate à corrupção.>
O Ministério da Economia afirmou que a alteração pelo Congresso de propostas encaminhadas pelo governo é natural. A pasta afirmou ainda que o Emprego Verde e Amarelo "servirá de modelo para medidas relacionadas com a desoneração da folha de pagamentos".>
O Ministério da Saúde afirmou que, em março, os resultados do projeto-piloto em Alagoas serão analisados para expansão no país. "Quando finalizada a implementação do Conecte SUS, o cidadão terá acesso às suas informações por meio do celular, computador ou tablet, utilizando apenas o CPF.">
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