Publicado em 1 de novembro de 2022 às 09:21
O presidente Jair Bolsonaro (PL) manteve silêncio nesta segunda-feira (31) sobre o resultado das eleições, enquanto aliados redigiram um discurso para que o mandatário reconheça a derrota para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).>
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) declarou Lula eleito, com 50,9% de votos, contra 49,1% de Bolsonaro. Ele é o primeiro presidente a não conquistar a reeleição.>
Interlocutores do chefe do Executivo sugeriram um texto ao mandatário para o reconhecimento da vitória do adversário. Segundo relatos, o documento não deve trazer contestação ao resultado, mas deve citar "injustiças" que o mandatário alega ter sofrido em seu governo e na campanha.>
A expectativa inicial do entorno de Bolsonaro era a de que ele falasse ainda na segunda (31). Ao final do dia, a possibilidade foi descartada e aliados afirmam que o discurso deve ocorrer nesta terça (1º).>
>
Para auxiliares, quanto mais tempo o reconhecimento da derrota demorar, mais negativo será para Bolsonaro.>
O chefe do Executivo despachou do Palácio do Planalto pela manhã de segunda, mas partiu para o Palácio da Alvorada pouco antes das 16h justamente para preparar sua declaração.>
O documento sugerido ao presidente tem o objetivo de manifestar respeito ao regime democrático, mas foi elaborado com cuidado para não deixar os militantes bolsonaristas órfãos. Há o receio de que uma postura totalmente legalista resulte em perda dos apoiadores mais radicais, que estiveram ao lado do presidente e ajudaram a propagar os questionamentos contra o sistema eleitoral.>
Aliados lembram que, apesar de derrotado, Bolsonaro teve 58 milhões de votos e elegeu diversos aliados, inclusive o governador de São Paulo, maior estado do país. A ideia é que o chefe do Executivo mantenha acesa essa militância.>
A avaliação de correligionários do presidente é que não há espaço para contestação do resultado eleitoral e que uma eventual aventura golpista não terá adesão de grande parte de sua base, principalmente no Congresso.>
O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que fez campanha para o chefe do Executivo e foi crucial em diversas pautas de Bolsonaro no ano da eleição, foi um dos primeiros a reconhecer a vitória de Lula.>
Além disso, o reconhecimento da eleição do petista por parte dos principais líderes mundiais reforçou o isolamento de Bolsonaro.>
Diante desse cenário, Bolsonaro não tem cogitado em conversas com pessoas próximas a possibilidade de não admitir que perdeu o pleito. Apesar disso, ele não deve dar parabéns ao seu sucessor.>
A primeira pessoa do clã Bolsonaro a se manifestar foi a primeira-dama, Michelle, que compartilhou uma mensagem bíblica nas redes sociais.>
"Salmos 117: Louvai ao senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande para conosco, e a verdade do Senhor dura para sempre. Louvai ao Senhor", escreveu ela no Instagram.>
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente e seu coordenador de campanha, publicou nas redes sociais uma mensagem agradecendo os eleitores do pai.>
"Obrigado a cada um que nos ajudou a resgatar o patriotismo, que orou, rezou, foi para as ruas, deu seu suor pelo país que está dando certo e deu a Bolsonaro a maior votação de sua vida! Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil! Deus no comando!", afirmou, sem citar Lula.>
Cerca de uma hora depois, publicou uma mensagem mais enigmática. "Pai, estou contigo pro que der e vier!">
O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), eleito senador pelo Rio Grande do Sul, se descolou do comportamento de Bolsonaro e mandou mensagem parabenizando o vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB).>
O ex-governador ligou para Mourão e a conversa entre os dois foi cordial, segundo interlocutores.>
No fim da tarde de segunda, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), telefonou para o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).>
Na conversa, descrita como respeitosa, ele se colocou à disposição para ajudar na transição e afirmou estar esperando orientação de Bolsonaro para indicar a equipe. Cabe ao presidente eleito indicar o coordenador, para que a Casa Civil o nomeie.>
Se nas horas seguintes à derrota Bolsonaro optou pelo isolamento, evitando até ligações e visitas de ministros, na segunda-feira ele recebeu aliados que foram prestar solidariedade.>
Bolsonaro esteve com integrantes da campanha, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL; ministros, como Anderson Torres (Justiça), Ciro Nogueira, e Célio Faria (Secretaria de Governo); e o presidente da Câmara, com quem esteve por cerca de meia hora.>
O silêncio do chefe do Executivo tem como consequência o de seus ministros do governo, entre eles Paulo Guedes (Economia)>
Sem agenda pública, Guedes chegou ao Ministério da Economia pouco antes das 16h. O ministro Adolfo Sachsida (Minas e Energia) também desembarcou na sede da pasta na sequência. Ambos não quiseram falar com a imprensa. Técnicos avaliam que o ministro da Economia deve se pronunciar apenas após a palavra do presidente.>
A postura reservada de Guedes no dia seguinte ao pleito contrasta com o seu comportamento "falastrão" na reta final da campanha, quando atuou como cabo eleitoral de Bolsonaro em diversos eventos com empresários.>
Apesar de o primeiro escalão do governo sustentar o silêncio do mandatário e não mencionar nada sobre vitória do adversário, aliados dizem que haverá uma transição civilizada. Auxiliares palacianos já estão organizando como ela será feita.>
Jair Bolsonaro repetiu várias vezes ao longo de seu mandato que apenas reconheceria o resultado de eleições se elas fossem "limpas". O mandatário levantou frequentemente dúvidas sobre as urnas eletrônicas e, sem provas, apontou que o sistema era vulnerável e que houve fraudes nas eleições de 2018.>
Um de seus principais aliados internacionalmente, o ex-presidente americano Donald Trump, também levou dias para reconhecer o resultado após ser derrotado por Joe Biden.>
Steve Bannon, estrategista de Trump e que mantém relação próxima com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, afirmou à Folha que a eleição do Brasil foi "roubada" e que o mandatário não deveria aceitar a derrota.>
"Não há possibilidade de o resultado das urnas eletrônicas estar correto. É preciso uma auditoria urna a urna, nem que demore seis meses. Nesse meio tempo, o presidente não deve aceitar sair", disse ao Painel.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta