Publicado em 2 de novembro de 2021 às 14:12
No dia 30 de junho de 2020, nas margens de um rio em Porto Seguro, a médica Raissa Soares saiu do anonimato para se tornar um dos principais nomes do bolsonarismo na Bahia. >
Em um vídeo para o presidente Jair Bolsonaro, fez seu pedido: "A hidroxicloroquina é nossa menina, é a rainha do jogo. [...] Meu presidente, manda um avião, um carregamento, coloca hidroxicloroquina na nossa cidade", disse, no auge da primeira onda da Covid-19. >
Três dias depois, um avião com 40 mil caixas do medicamento chegou a Porto Seguro a pedido do presidente. E a médica se tornou instantaneamente uma espécie de influencer entre bolsonaristas. >
Ela e outros médicos que ganharam notoriedade na defesa do chamado tratamento precoce da Covid protocolo baseado em medicamentos como a hidroxicloroquina e a ivermectina, sem comprovação científica para a doença começam a planejar candidaturas em 2022. >
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Caso tenham sucesso, formarão a partir de 2023 uma espécie de "bancada da cloroquina" no Congresso Nacional, com um discurso alinhado ao do presidente Jair Bolsonaro em questões de saúde pública. >
Depois de ganhar notoriedade entre médicos conservadores, Raissa Soares assumiu em janeiro a Secretaria de Saúde de Porto Seguro. Ficou no comando da pasta até a sexta-feira passada (29), quando deixou o cargo para começar a cuidar da sua pré-campanha para 2022. >
"A pandemia da Covid-19 mostrou que gente precisa se posicionar. Não tenho histórico na política, não tenho familiares políticos, mas acredito que a política precisa de pessoas com posição clara. Esse é o motivo de eu decidir entrar", afirma à reportagem. >
A médica diz que ainda não decidiu para qual cargo concorrerá estão na mesa possíveis candidaturas ao Governo da Bahia, ao Senado ou à Câmara dos Deputados. >
A defesa do "tratamento precoce" lhe gerou dissabores. Em agosto, o Ministério Público do Estado da Bahia entrou com ação pedindo o seu afastamento da Secretaria de Saúde de Porto Seguro por incentivar o uso de remédios sem eficácia contra a Covid. >
Por outro lado, ganhou alcance no meio conservador baiano. Em 2020, atuou como uma espécie de cabo eleitoral de candidatos alinhados a Bolsonaro que concorreram nas eleições municipais. >
Outro nome que pode estar nas urnas no próximo ano é o da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como "Capitã Cloroquina". >
Ela teve o seu indiciamento sugerido pela CPI da Covid, sob acusação de epidemia com resultado morte, prevaricação e crime contra a humanidade. >
Após o pedido, sua defesa classificou as acusações como absurdas e caluniosas. "Mayra Pinheiro é uma mulher de caráter. Uma servidora exemplar, que atua com competência e probidade", informou a defesa em nota. >
No Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro foi uma árdua defensora do tratamento precoce e participou da criação do aplicativo TrateCov, que receitava medicamentos ineficazes contra a Covid. >
Procurada pela reportagem, Mayra afirmou que ainda não decidiu se será candidata em 2022: "Tenho convite para executar projeto profissional fora do país e ainda não decidi", disse. Mas adiantou que, caso decida enfrentar as urnas, deve concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados. >
A candidatura não seria uma novidade. Em 2018, a médica concorreu a uma cadeira no Senado pelo Ceará, mas acabou em quarto lugar. Na época, ela estava filiada ao PSDB. >
Em 2014, Mayra concorreu para deputada federal, mas também não obteve sucesso. Na época, ela começava a ganhar notoriedade por sua postura contra a contratação de médicos cubanos pelo programa Mais Médicos, implementado no governo Dilma Rousseff (PT). >
Outro membro do governo Bolsonaro com candidatura cogitada é o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, apontado como potencial candidato ao Senado pela Paraíba, seu estado natal. >
À frente do ministério desde março, Queiroga também teve o indiciamento sugerido pela CPI da Covid por epidemia culposa com resultado morte e prevaricação. A atuação de sua pasta na crise sanitária também é questionada, especialmente em relação à aquisição de vacinas. >
Queiroga, que não tem filiação partidária, não tem falado publicamente sobre uma possível candidatura. Mesmo assim, o ministro tem se aproximado da base bolsonarista e adotou uma postura mais alinhada ao presidente. >
Seu antecessor, o general Eduardo Pazuello não é médico, mas também pavimenta uma candidatura em 2022. >
No mesmo dia em que foi alvo de pedido de indiciamento da CPI da Covid, sob acusação de uso irregular de verbas públicas, comunicação falsa de crime, prevaricação e crimes contra a humanidade, Pazuello recebeu Bolsonaro para um jantar em sua casa em Manaus. >
No cardápio, um peixe da região amazônica e discussões sobre o seu futuro político. Ele avalia candidaturas ao Senado ou à Câmara por Rio de Janeiro, Amazonas ou Roraima. >
Também próximo a Bolsonaro, o deputado federal Osmar Terra (MDB) outro que teve o indiciamento pedido pela CPI deve tentar renovar o mandato ou concorrer ao Governo do Rio Grande do Sul. >
Médicos bolsonaristas também se movimentam para concorrer às Assembleias Legislativas em estados como no Ceará e na Bahia. >
Um deles é o dermatologista Edmar Fernandes, que presidiu o Sindicato dos Médicos do Ceará entre 2019 e 2021. Aliado de Bolsonaro, ele também se destacou como defensor do tratamento precoce. >
Em 2020, Fernandes foi candidato a vereador em Fortaleza pelo Pros, mas não obteve sucesso. Na nova empreitada nas urnas, mira uma vaga na Assembleia Legislativa do Ceará. >
Com perfil aguerrido nas redes sociais, o médico tem sido um dos principais críticos do governador Camilo Santana (PT) durante a gestão da pandemia. Não raro grava vídeos em frente a unidades de saúde do Ceará com denúncias de supostas irregularidades. >
Na Bahia, o médico Cezar Leite deve se filiar ao PSC para concorrer a uma cadeira de deputado estadual. Ligado à Associação Médicos pelo Brasil, ele disputou a Prefeitura de Salvador em 2020 e surpreendeu ao terminar em quarto lugar. >
Leite afirma que o apoio a Bolsonaro e a defesa de saúde devem estar no centro de suas propostas. Mas diz que o debate sobre o tratamento precoce tende a se tornar página virada. >
"Os colegas que abraçaram o tratamento precoce tiveram coragem. Infelizmente, o debate foi muito mais político do que médico. Mas isso deve mudar até a campanha, o cenário será outro", diz.>
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