Publicado em 24 de abril de 2020 às 13:44
Auxiliares militares do Palácio do Planalto se disseram consternados após os cerca de 30 minutos em que, ao anunciar que estava entregando o cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública nesta sexta-feira (24), Sergio Moro acusou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de querer interferir a Polícia Federal. >
Assessores fardados do presidente reagiram com frases como "agora acabou" e apontando "o fim de muitas ilusões, inclusive as nossas".>
Houve relatos de silêncio nos corredores do quarto andar, onde ficam os gabinetes ministros palacianos e até de lágrimas após a fala de Moro.>
Ao anunciar sua demissão do governo federal, Moro criticou a insistência de Bolsonaro para a troca do comando da Polícia Federal, sem apresentar causas que fossem aceitáveis. Moro afirmou ainda que o presidente queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da PF.>
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Mais pragmático, o núcleo político do governo começou a agir para tentar conter os danos. Um articulador de Bolsonaro disse que um dos caminhos é exigir que Moro prove o que disse. Se relatou as ilegalidades que o Bolsonaro teria cometido, agora teria que comprovar.>
Outra linha de defesa seria argumentar desgastar a imagem de Moro indicando que o ministro insinuou que, caso a nomeação de um indicado seu fosse confirmada, ele silenciaria sobre as supostas ilegalidades.>
No núcleo mais ideológico do governo, já circula a estratégia de desmoralizar Moro para tentar manter unida a bolha bolsonarista. Acusariam, por exemplo, que, à frente do Ministério da Justiça, não investigou Adélio Bispo, responsável por dar uma facada em Bolsonaro durante a campanha presidencial, em 2018.>
Logo no início da manhã, Bolsonaro recebeu deputados bolsonaristas no Palácio da Alvorada. Os parlamentares saíram de lá seguindo a narrativa criada pelo governo para dar tentar não perder apoio de sua base popular lavajatista.>
Pouco antes das 8h30, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência publicou um reprodução do decreto de exoneração de Maurício Valeixo no DOU (Diário Oficial da União) com as palavras "exonerar a pedido" em destaque.>
"Ao contrário do que parte da imprensa está noticiando, a exoneração do sr. Maurício Valeixo se deu A PEDIDO do próprio. Contra fake news, busque sempre a fonte primária da informação. Bom dia", dizia mensagem publicada pelo braço de comunicação do governo sobre o qual o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, exerce forte influência.>
Ao deixar o Alvorada, Bolsonaro deu sequência à narrativa que construiu.>
"Imprensa, vocês erraram tudo no dia de ontem. Um abraço", afirmou, esquivando-se de questionamentos.>
A partir daí, a tropa bolsonarista começou a reproduzir o discurso costurado logo cedo.>
"Valeixo, diretor da Polícia Federal, deixa o cargo a seu pedido", escreveu a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) em sua conta no Twitter.>
Ao deixar o Palácio do Planalto, o deputado coronel Armando (PSL-SC), vice-líder do governo e um dos que estava, horas antes, no Palácio da Alvorada também seguiu o roteiro.>
"Foi a pedido", disse, minimizando a discussão sobre o assunto com o presidente.>
Depois, o próprio Bolsonaro reproduziu o print do DOU da exoneração, destacando trecho do artigo 2º da lei 13.047/2014 segundo o qual cabe a ele escolher o diretor-geral da PF.>
"Art. 2º-C. O cargo de Diretor-Geral, NOMEADO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, é privativo de delegado de Polícia Federal integrante da classe especial.">
Logo depois do pronunciamento, porém, o tom de alguns apoiadores já era um pouco diferente.>
"Sinto muito pela saída de Sergio Moro do governo. Não só por ser meu padrinho de casamento, mas principalmente pela sua conduta exemplar de cidadão, juiz e ministro. Sempre terá minha profunda admiração, bem como a gratidão de todos os brasileiros de bem. Obrigada, Moro!", escreveu Zambelli em sua conta no Twitter.>
Os filhos de Bolsonaro silenciaram nas redes sociais.>
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