Autor(a) Convidado(a)
É psicóloga, doutora pela Ufes

Violência sexual: um olhar atento às crianças autistas

Meninas e mulheres autistas têm maior probabilidade de sofrer abuso sexual, duas a três vezes mais do que as que não são autistas. Além disso, a incidência é quatro vezes maior para as mulheres do que para os homens autistas

  • Mylena Lima É psicóloga, doutora pela Ufes
Publicado em 23/05/2023 às 13h54

No Brasil, centenas de crianças e adolescentes vivem diariamente a dura realidade da violência sexual. Infelizmente, essa situação é ainda mais grave para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Dados recentes revelam que ser autista aumenta em 10 a 16% o risco de uma pessoa sofrer abuso sexual na infância, e há um risco ainda mais elevado de 62 a 70% de ser vitimizado na idade adulta.

Meninas e mulheres autistas têm maior probabilidade de sofrer abuso sexual, duas a três vezes mais do que as que não são autistas. Além disso, a incidência é quatro vezes maior para as mulheres do que para os homens autistas. Esses números são consistentes com as taxas de vitimização sexual da população em geral, onde cerca de 30% das mulheres e 12% das crianças sofrem abuso sexual em algum momento da vida.

Esse fato relaciona-se às dificuldades com habilidades de comunicação e socialização, que tornam mais difícil a compreensão e a denúncia de comportamentos abusivos. Eles também podem confiar mais nos outros, o que pode torná-los mais suscetíveis a comportamentos manipuladores ou coercitivos.

Algumas medidas podem ser tomadas para prevenir a violência sexual contra pessoas com deficiência, tais como: educar as pessoas com deficiência sobre seus direitos e fornecer-lhes recursos que os ajudem a reconhecer comportamentos abusivos, conscientizar o público em geral sobre a prevalência do abuso e seu impacto nas pessoas com deficiência, fornecer programas de treinamento para prestadores de serviços, profissionais médicos e agentes da lei sobre como reconhecer e responder a sinais de violência sexual perpetrada contra pessoas com deficiência.

As crianças não sabem e nem conseguem denunciar os abusos
As crianças não sabem e nem conseguem denunciar os abusos. Crédito: shutterstock

Também é importante desenvolver políticas e procedimentos que priorizem a segurança e o bem-estar de pessoas com deficiência, como a implementação de verificação de antecedentes para funcionários e voluntários que trabalham com populações vulneráveis. E incentivar as pessoas com deficiência a se manifestarem contra o abuso e proporcionar-lhes espaços seguros para denunciar incidentes de violência sexual.

Em relação à mudança cultural em direção a uma maior igualdade de gênero, é necessário incentivar o diálogo aberto e a discussão sobre questões de gênero nas escolas, locais de trabalho e organizações comunitárias, promover a representação igualitária de homens e mulheres em cargos de poder e liderança, destacar as conquistas das mulheres para aumentar a conscientização sobre suas contribuições para a sociedade.

Além de incentivar os homens a tornarem-se aliados na luta pela igualdade de gênero, promovendo o respeito mútuo e a compreensão entre os sexos, e fornecer educação e recursos para lidar com estereótipos de gênero nocivos e atitudes negativas em relação às mulheres.

A educação é um dos caminhos para o consentimento em todas as circunstâncias, mas também é necessário promover uma mudança cultural profunda acerca da sexualidade e do senso de segurança de pessoas com qualquer deficiência

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.