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É empresária, ex-prefeita de Viana e ex-deputada estadual

Uma mulher no comando do TJES: quando ocupar também é transformar

Sua eleição não é simbólica apenas pelo ineditismo; ela reafirma que competência, liderança e preparo não têm gênero — mas diversidade faz diferença

  • Solange Lube É empresária, ex-prefeita de Viana e ex-deputada estadual
Publicado em 13/12/2025 às 10h00

Ao longo da minha trajetória na vida pública, aprendi que ocupar um espaço de poder nunca é apenas estar ali. É transformar. É imprimir método, sensibilidade, escuta e compromisso humano às decisões que impactam a vida das pessoas. Para nós, mulheres, esse caminho sempre foi mais árduo, e, exatamente por isso, cada avanço precisa ser reconhecido e defendido.

Recentemente, o Espírito Santo viveu um marco histórico: pela primeira vez, o Tribunal de Justiça do Estado elegeu uma mulher para sua presidência. desembargadora Janete Vargas Simões assume um cargo que, por mais de um século, foi ocupado exclusivamente por homens. Sua eleição não é simbólica apenas pelo ineditismo; ela reafirma que competência, liderança e preparo não têm gênero — mas diversidade faz diferença.

Esse avanço institucional dialoga com uma transformação mais ampla. As mulheres têm ampliado sua presença no mercado de trabalho e em cargos de liderança, embora ainda enfrentem desigualdades evidentes. Mesmo sendo maioria da população e parcela expressiva da força de trabalho, seguimos sub-representadas nos espaços onde as grandes decisões são tomadas — especialmente na política.

Janete Vargas Simões
A desembargadora Janete Vargas Simões toma psse como presidente do TJES. Ela é a primeira mulher nesse cargo . Crédito: Carlos Alberto Silva

No Brasil, a presença feminina nos parlamentos ainda é tímida, muito aquém do que seria razoável em uma democracia madura. Isso não é um problema das mulheres; é um problema do sistema político, que historicamente dificultou o acesso feminino à disputa, ao financiamento de suas atividades e à visibilidade. Ampliar a participação das mulheres na política não é concessão: é justiça democrática.

Falo com a tranquilidade de quem viveu essa experiência. Como prefeita de Viana, procurei conduzir uma gestão com atenção especial às políticas sociais, ao cuidado com as pessoas, às famílias, às mulheres e às crianças. Aprendi que governar também é ouvir, acolher e compreender realidades que nem sempre cabem em planilhas ou discursos técnicos. Como deputada estadual, atuei na interlocução com municípios de todo o Espírito Santo, buscando investimentos, soluções e, sobretudo, respeito às especificidades de cada comunidade.

Esse olhar mais sensível e humano — muitas vezes associado à liderança feminina — não é fragilidade. É força política. É capacidade de perceber o impacto real das decisões públicas na vida cotidiana das pessoas. Quando mulheres ocupam espaços de poder, ampliam-se as perspectivas, qualificam-se os debates e fortalecem-se as políticas públicas.

A eleição de Janete Vargas Simões, assim como o avanço de tantas mulheres em diferentes áreas, mostra que estamos caminhando. Mas o caminho ainda é longo. Precisamos de mais mulheres na política, no Judiciário, nas lideranças institucionais e nos espaços de decisão. Não para substituir ninguém, mas para equilibrar, enriquecer e humanizar o exercício do poder.

Uma democracia forte se constrói com diversidade, representatividade e compromisso social. E a presença feminina nos espaços de poder não é apenas uma conquista das mulheres, é um ganho para toda a sociedade.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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