Ao longo da minha trajetória na vida pública, aprendi que ocupar um espaço de poder nunca é apenas estar ali. É transformar. É imprimir método, sensibilidade, escuta e compromisso humano às decisões que impactam a vida das pessoas. Para nós, mulheres, esse caminho sempre foi mais árduo, e, exatamente por isso, cada avanço precisa ser reconhecido e defendido.
Recentemente, o Espírito Santo viveu um marco histórico: pela primeira vez, o Tribunal de Justiça do Estado elegeu uma mulher para sua presidência. A desembargadora Janete Vargas Simões assume um cargo que, por mais de um século, foi ocupado exclusivamente por homens. Sua eleição não é simbólica apenas pelo ineditismo; ela reafirma que competência, liderança e preparo não têm gênero — mas diversidade faz diferença.
Esse avanço institucional dialoga com uma transformação mais ampla. As mulheres têm ampliado sua presença no mercado de trabalho e em cargos de liderança, embora ainda enfrentem desigualdades evidentes. Mesmo sendo maioria da população e parcela expressiva da força de trabalho, seguimos sub-representadas nos espaços onde as grandes decisões são tomadas — especialmente na política.
No Brasil, a presença feminina nos parlamentos ainda é tímida, muito aquém do que seria razoável em uma democracia madura. Isso não é um problema das mulheres; é um problema do sistema político, que historicamente dificultou o acesso feminino à disputa, ao financiamento de suas atividades e à visibilidade. Ampliar a participação das mulheres na política não é concessão: é justiça democrática.
Falo com a tranquilidade de quem viveu essa experiência. Como prefeita de Viana, procurei conduzir uma gestão com atenção especial às políticas sociais, ao cuidado com as pessoas, às famílias, às mulheres e às crianças. Aprendi que governar também é ouvir, acolher e compreender realidades que nem sempre cabem em planilhas ou discursos técnicos. Como deputada estadual, atuei na interlocução com municípios de todo o Espírito Santo, buscando investimentos, soluções e, sobretudo, respeito às especificidades de cada comunidade.
Esse olhar mais sensível e humano — muitas vezes associado à liderança feminina — não é fragilidade. É força política. É capacidade de perceber o impacto real das decisões públicas na vida cotidiana das pessoas. Quando mulheres ocupam espaços de poder, ampliam-se as perspectivas, qualificam-se os debates e fortalecem-se as políticas públicas.
A eleição de Janete Vargas Simões, assim como o avanço de tantas mulheres em diferentes áreas, mostra que estamos caminhando. Mas o caminho ainda é longo. Precisamos de mais mulheres na política, no Judiciário, nas lideranças institucionais e nos espaços de decisão. Não para substituir ninguém, mas para equilibrar, enriquecer e humanizar o exercício do poder.
Uma democracia forte se constrói com diversidade, representatividade e compromisso social. E a presença feminina nos espaços de poder não é apenas uma conquista das mulheres, é um ganho para toda a sociedade.
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