Há guerras que não se declaram, mas se impõem. E o que se viu nas ruas do Rio de Janeiro, na última terça-feira, não foi apenas confronto entre criminosos e policiais, foi mais uma evidência de que o país convive com forças que desafiam o próprio pacto civilizatório. Chamemos pelo nome: narcoterrorismo.
Aqueles que empunham fuzis, que transformam o medo em método e o caos em território não são “desviados sociais”: são inimigos declarados da ordem e da vida. Reduzir essa realidade a um “problema social” é fazer da retórica uma cumplicidade com a barbárie. Onde o Estado hesita, o crime avança. Onde o poder público se omite, o poder paralelo governa.
A segurança pública brasileira vive um paradoxo: os indicadores nacionais apontam, sim, avanços. O Mapa da Segurança Pública 2025 registra queda de 6,3% nos homicídios dolosos, com 35 mil mortes em 2024, o menor índice em uma década. Mas esses números, embora alentadores, escondem o essencial: a sensação de anomia, o vazio de autoridade e a expansão territorial do crime organizado.
No Espírito Santo, há um exemplo de que a firmeza do Estado pode conter o avanço da violência. O estado encerrou 2024 com menos de 900 homicídios — o menor número em 28 anos — e no primeiro semestre de 2025 reduziu em mais de 12% as mortes violentas em relação ao ano anterior. Queda que não veio por acaso: é fruto da ação coordenada, do investimento em inteligência e da presença ostensiva das forças policiais.
Mas ainda assim a luta não está vencida. O crime não é estático. É uma instituição paralela, mutante e sofisticada. Organiza-se como exército, comunica-se em rede e administra territórios com leis próprias. E quando o Estado recua, o medo se transforma em política pública.
É por isso que o Parlamento também precisa agir com coragem. A Câmara dos Deputados se prepara para votar, em regime de urgência, o projeto que endurece as penas contra integrantes de facções criminosas, ampliando o tempo de reclusão, aumentando o rigor da progressão penal e fortalecendo a tipificação do crime organizado. Trata-se de uma resposta institucional necessária; uma afirmação de que o Estado brasileiro não se curvará ao medo nem se deixará governar pelo crime.
Não há espaço para a ingenuidade de quem acredita que a paz virá da omissão. Diante de facções que desafiam o monopólio da força, o silêncio é cumplicidade. Ou a Nação reage, articulando suas forças federais, estaduais e institucionais, ou verá a balcanização de seu território.
A experiência capixaba mostra que é possível conter a escalada da violência com tolerância zero, integração e autoridade. Mas o mesmo rigor precisa se expandir para o país. É preciso retomar o sentido de soberania interna, devolver às fardas o respeito, à lei o temor e à justiça a celeridade.
A guerra que se trava nas vielas e nas fronteiras não é apenas por território — é uma guerra simbólica. Está em jogo a legitimidade do Estado e o direito do cidadão de viver sem medo. Quando um policial cai, não é apenas um servidor público que se vai: é um pedaço do Estado que sangra.
A criminalidade não pede trégua, não negocia valores, não respeita fronteiras. E um Estado que não reage é um Estado que se rende. Por isso, é hora de retomar o verbo da autoridade, de reerguer o sentido de ordem e de compreender que o uso legítimo da força não é brutalidade — é defesa da vida.
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Tolerância zero não é uma política de repressão cega. É a expressão consciente de uma sociedade que se recusa a conviver com a barbárie. Pois quando a guerra bate às portas, não há neutralidade possível.
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